Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é celebrado nesta quarta
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Para discutir e vivenciar o assunto na prática, a União
dos Escoteiros do Brasil instituiu como tema do ano Diferenças que nos unem
De vendas nos olhos e braços amarrados, as
crianças vivenciaram na prática o que é ter uma deficiência
O maior desafio da inclusão social é a mudança
cultural. A conclusão da Academia Brasileira de Ciências (ABC) acaba de fazer
20 anos. Em 1996, realizou um estudo a fim de encontrar alternativas que
poderiam amenizar as dificuldades e melhor integrar pessoas com deficiência com
as famílias e as comunidades. Amanhã, é comemorado o Dia Nacional de Luta da
Pessoa com Deficiência. Em todo o país, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), 14,5% da população têm algum tipo de
deficiência — algo em torno de 25 milhões de pessoas. Os direitos dos
deficientes estão garantidos na Constituição Federal, e o Brasil tem uma das
legislações mais avançadas sobre o assunto (leia Proteção).
Para fomentar o debate, este ano, o tema da União dos
Escoteiros do Brasil é Diferenças que nos unem. Somente no DF existem cerca de
40 grupos do tipo. No sábado, o Correio acompanhou um dia de atividades com 130
crianças e adolescentes, no Parque de Águas Claras. Aqueles que enxergam
tiveram os olhos vendados para conhecer as sensações dos cegos. Os braços eram
presos com fitas para se saber as dificuldades de quem não tem o membro. A
inclusão não fica apenas no discurso. Cinco integrantes do Grupo Escoteiro Ave
Branca têm algum tipo de deficiência. Entre eles, um chefe de equipe.
Clarisse, Ana Clara e Vinícius são deficientes e
participaram da programação. Suas dificuldades, por um momento, foram
substituídas por outras. O estímulo é para desenvolver aptidões e
sensibilidades nos meninos. O aprendizado vai além da prática e ataca o
problema identificado pela Academia Brasileira de Ciências. O essencial para se
avançar na inclusão é desmistificar a deficiência e treinar o cidadão para as
diferenças.
“Sou mãe de uma menina linda de 8 anos que teve
paralisia cerebral e que faz parte do Grupo Escoteiro Ave Branca, em Águas
Claras. Clarisse está participando das atividades há seis meses e já podemos
observar o quanto está sendo importante para o seu desenvolvimento.” A
apresentação é da professora Juliana Dantas, 40. Ela foi escoteira dos 15 aos
21 anos e agora voltou para acompanhar a filha. “São essas atitudes que fazem o
comportamento da gente mudar. Temos que ser atuantes e brigar por avanços”,
ponderou.
A lição não é apenas discurso. A menina sofreu
preconceito na escola. “Uma mãe disse que ela não poderia estudar com os outros
porque a Clarisse não sabia se comportar”, conta. A represália surgiu após um
arranhão entre as crianças. “A Clarisse não é agressiva. O que acontece, às
vezes, é ela não ter a dimensão da força dela. O toque é para chamar a
atenção”, explicou Juliana. Hoje, Clarisse estuda numa instituição pública em
uma classe adaptada, com 18 alunos. Além do docente, há uma monitora
exclusiva. No sábado, Clarisse tocava objetos com os pés como se fosse deficiente
visual.
Convivência
Ana Clara Terra, 9 anos, nasceu com uma malformação no
braço direito. “Percebo o preconceito desde quando ela nasceu. No supermercado,
por exemplo, as pessoas se cutucam e comentam”, conta a corretora de imóveis
Joelma de Carvalho Lima, 45, mãe da menina. Há um ano e meio, ela entrou para o
grupo de escoteiros. A atividade virou o hobby da garota. “Ela gosta de
participar. Os colegas também ajudam nas tarefas e isso traz ensinamentos para
as duas crianças e para as duas famílias.”
Ana teve que ficar de pés descalços para uma
brincadeira. Dispensou o auxílio de uma colega para calçar o tênis. “Pode
deixar, eu consigo sozinha”, alertou. Ana ainda ajudou uma outra menina em uma
atividade sensorial. Ela abraçou uma porção de objetos e, aos poucos, entregava
os itens para o reconhecimento no tato. Os exemplos de superação são
reverberados pelas crianças. Tamara Neil, uma das diretoras do Grupo Escoteiro
Ave Branca, explica que a cada experiência — de superação ou de dificuldade
— quebram barreiras comportamentais. “A convivência traz naturalidade ao
cotidiano. Para as crianças, isso é mais fácil”, avaliou.
Mobilização
O Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes foi
instituído pelo Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes (MDPD) em um
encontro nacional, em 1982. Foi escolhido 21 de setembro pela proximidade com a
primavera e o Dia da Árvore, numa representação do nascimento das
reivindicações de cidadania e de participação plena em igualdade de condições.
A data foi oficializada na Lei Federal nº 11.133,
de 14 de julho de 2005.
Fonte: Correio Braziliense
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