Cientista brasileiro estuda remédio promissor para tratar autismo
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Colunista do g1
estuda neurônios criados com células-tronco de autistas.
Alysson Muotri relata ter obtido resultados preliminares, mas positivos.
Rafael sampaio do
g1, em são paulo
O biólogo brasileiro Alysson Muotri, professor e pesquisador nos EUA (Foto: cortesia UC San Diego) |
Analisando os genes de
pacientes e reprogramando células-tronco obtidas a partir de células comuns
para que elas se tornem neurônios, o cientista e sua equipe têm estudado em
laboratório drogas que ajudem a reduzir as limitações presentes em autistas.
Em uma das pesquisas,
apresentada em congressos, mas ainda não publicada em revista científica,
Muotri, que é colunista do G1, aponta ter encontrado vínculo entre mutações
genéticas que prejudicam a formação de sinapses (ligações) dos neurônios e
alterações causadas pelo autismo. O estudo com uma criança que apresenta uma
forma específica de autismo apontou que ela tem um gene defeituoso que
dificulta a entrada de cálcio nos neurônios, o que atrapalha a proliferação das
sinapses.
Os pesquisadores retiraram
células comuns da criança e fizeram com que elas voltassem a ser
células-tronco. Depois, elas foram reprogramadas para se tornarem neurônios.
Eles, então, testaram medicamentos para estimular em laboratório o bom
funcionamento do gene. "Todo mundo tem duas cópias de cada gene. No caso
desta criança, ela tem uma cópia que está mutada [sofreu mutação] e outra que é
funcional. Achamos uma droga que estimula o gene ativo a ‘funcionar’ em
dobro", disse Muotri, que é pós-doutor em neurociência e células-tronco
pelo Instituto Salk de Pesquisas Biológicas, também na Califórnia.
O medicamento que estimula o
receptor de cálcio respondeu bem aos testes em laboratório e passou a ser
administrado ao paciente diluído em chá, para avaliar os resultados. As
primeiras observações, após um mês, mostram que a criança tem progredido em
atenção e sociabilização. "Avaliamos através de questionários aplicados
para os pais, professores, amigos da criança. Fizemos uma observação antes e
depois da droga", aponta Muotri.
"Os dados que obtivemos
depois de um mês são promissores, eles mostram melhora na atenção e na
sociabilidade da criança", relata o professor. "Não é tão
significativo porque tivemos que dar uma dose pequena", pondera, mas a
descoberta é importante. "Abre uma perspectiva que estamos chamando de
medicina personalizada. Baseado no genoma da pessoa e em testes com
células-tronco induzidas, pode ser possível definir qual a melhor droga e a
melhor dose a ser usada em um indivíduo", diz.
O caso do autismo é singular
porque há vários tipos de distúrbios, causados por situações e mutações
distintas. "Dificilmente você vai encontrar uma droga que vale para todo
mundo", avalia Muotri. Ele diz que o tratamento que está sendo proposto, o
da medicina personalizada, é similar ao que ocorre com alguns tipos de câncer.
"Você retira algumas células e vai testando, até encontrar o medicamento e
a dose certa."
O pesquisador vem ao Brasil
neste sábado (29) para dar uma palestra no Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), às 14h. A apresentação será em
torno do tema: "Remodelando Neurônios Autistas com Células-tronco", e
será mediada pela pesquisadora Patrícia Beltrão Braga, da USP.
Cérebro maior
O grupo capitaneado por
Muotri também está investindo em outra linha de pesquisa - analisar dez
crianças autistas com quadro clínico parecido, de cérebro com tamanho maior do
que o normal. Os pesquisadores estão estudando se estes pacientes têm
características genéticas similares, como alguma mutação.
A hipótese dos cientistas é
que, se as crianças têm um cérebro grande, é porque elas têm mais neurônios do
que o necessário para sua idade - por algum motivo as células nervosas podem
ter crescido descontroladamente. "Nós estamos pesquisando drogas que
inibam o crescimento dessas células. A ideia é controlar o aumento, estamos
fazendo testes em laboratório", diz Muotri.
A previsão do professor é
que essa linha de pesquisa vai dar respostas mais rapidamente.
"Proliferação celular é algo que é estudado há muito tempo", pondera.
"Talvez dois anos para começar a ter resultados com drogas.”
Neurônios vivos
Um dos grandes problemas
para entender o autismo é conseguir obter neurônios vivos, ressalta Muotri.
"Muitas vezes são usados tecidos de autistas mortos, analisados depois que
um paciente morre." Mas o avanço de pesquisas em células-tronco pluripotentes
induzidas (conhecidas como células iPS, em inglês) está abrindo um novo caminho
no estudo do autismo, diz o professor.
"A ideia é pegar
células do paciente - cabelo, pele, polpa do dente - e fazer com que elas
voltem a ser células-tronco. Então você as induz a se tornarem neurônios",
explica o cientista. Pesquisas recentes apontam que o cérebro dos autistas, em
geral, realiza menos sinapses (ligações entre neurônios para transmissão de
informações), o que está sendo explorado nas pesquisas científicas.
"Começamos a testar
medicamentos para elevar o número de sinapses, e alguns deles têm funcionado.
Drogas como o fator de crescimento insulínico [IGF-1, na sigla em
inglês]", diz Muotri. Um dos problemas do IGF-1 é que é uma proteína muito
grande, que não consegue ser bem absorvida pelas camadas mais externas do
cérebro. Moléculas menores estão em estudo, afirma o professor.
A novidade dos pesquisadores
é que os testes com estas drogas até agora estavam restritos ao laboratório, e
vão começar a ser aplicados em pacientes em breve. "A fase clínica de
toxicidade já foi aprovada para alguns grupos que estão estudando crianças
autistas. A ideia agora é testar em um número maior de crianças, para saber se,
com seis meses a um ano de tratamento, elas estão melhores em diferentes
aspectos, como respiração, ansiedade", informa Muotri.
Fonte: http://g1.globo.com/
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