Professa universitária cria fórmulas para ensinar cálculos à aluna cega
Compartilhe
Dados do último censo do MEC
indicam que de 2012 a 2017 o número de matrículas de pessoas com deficiência
cresceu 41%
Professora universitária, Jussara Melo Pedrosa |
Acostumada a resolver cálculos com frequência, a advogada e
professora universitária, Jussara Melo Pedrosa, 57 anos, viu-se diante de um
problema sem fórmulas prontas para solucioná-lo. Ela ministrava a disciplina de
Direito do Trabalho, na Universidade de Uberaba (Uniube), quando percebeu que
uma das alunas tinha deficiência visual. A reação da professora, à primeira
vista, foi de apreensão e questionamento interno. Como repassar o conteúdo para
uma estudante que não enxergava?
Diante das limitações de equipamentos para pessoas cegas ou
com baixa visão, à época, e preocupada com o desempenho da aluna, a professora
disse que não cobraria o conteúdo de cálculos trabalhista dela. A resposta da
estudante surpreendeu Jussara.
“Ela me disse que estava na universidade para aprender como
qualquer outro aluno. Confesso que foi ‘um tapa de pelica’. Fui para casa e
passei a noite inteira pensando em como ensiná-la”, lembra. Mas como boa
professora de cálculos, Jussara jamais admitiria um problema sem solução.
“Comecei a ensiná-la por meio de fórmulas matemáticas para
que pudesse suprir suas necessidades. Ensinava as operações com números
inteiros, tendo em vista, na época, não ter calculadora em Braille nem mesmo
sequer os meios eletrônicos que temos hoje”, conta. Assim, a professora foi
construindo fórmulas de acordo com cada conteúdo ministrado. “Aplicando a regra
passo a passo, era possível calcular um determinado direito que o empregado
fazia jus em receber”, diz.
A aluna é Ana Teresa Vitor, hoje com 36 anos. Ela perdeu a
visão aos 16, mas nunca fez da deficiência uma barreira para não estudar.
“Quando eu perdi a visão não desisti em nenhum momento de continuar lutando
para conseguir aquilo que sempre desejei. Lógico, os obstáculos foram muitos e
as dificuldades foram imensas, até porque, na época, não existia a tecnologia
de hoje. Começou a surgir quando eu já estava terminando a universidade, como
computadores com leitores de tela, celulares com leitor de voz e gravador
digital”, diz.
Mesmo assim, Ana Teresa não quis ser tratada diferente, pelo
contrário. “Eu não queria aprender só a teoria, porque na minha vida aqui fora,
depois da universidade, eu não iria precisar só da teoria. Em um concurso, por exemplo,
eu iria precisar da prática. Então, eu disse para a professora que não aceitava
que ela me tratasse de forma diferente. Eu falei: quero aprender, quero que a
senhora me ensine, seja de que forma for. Eu quero fazer as provas como os meus
colegas, ter o mesmo conhecimento e ser cobrada do mesmo jeito. Lá fora a vida
não vai me dar esse tratamento diferenciado”, conta.
A exigência da aluna e a dedicação da professora deram
certo. Ana Teresa concluiu o curso Direito. Atualmente, ela trabalha no Tribunal
de Justiça de Minas Gerais (TJMG), exercendo o cargo de Oficial de Apoio
Judicial, no Fórum Melo Viana, em Uberaba (MG).
A inclusão no ensino superior
O desafio de inclusão de pessoas com deficiência na
sociedade passa também pelas universidades. Dados do último censo do Ministério
da Educação (MEC) indicam que as instituições de ensino estão recebendo cada
vez mais alunos com algum tipo de deficiência. De 2012 a 2017, o número de
matrículas cresceu 41%.
Mas na opinião de Ana Teresa, a inclusão de pessoas com
deficiência nas universidades ainda é um caminho longo que precisa ser
percorrido. “Cada deficiência tem limitações, tem necessidades específicas. Mas
a partir do momento que se respeita a limitação de cada um e é olhado para as
necessidades específicas de cada pessoa para que haja adaptações, todo nós
temos condições perfeitamente de cursar um ensino superior, fazer uma
pós-graduação, mestrado, doutorado, seja o que for. Temos total condição de
estudar e trabalhar”, afirma.
Com informações de assessoria de imprensa
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu Comentário é muito importante para nós.