Surdos derrubam barreiras em evento inédito de MMA no Brasil
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De
capacete, protetores nas pernas e luvas, Danilo Nobre pede proteção aos céus
antes de entrar no octógono montado no Pavilhão 2 do RioCentro, na Zona
Oeste do Rio. Concentrado e ofegante, ele se prepara para fazer história, no
Arnold Classic Brasil, evento internacional organizado pelas empresas do
ator e ex-governador da Califórnia (EUA) Arnold Schwarzenegger, direcionado aos
amantes do culto ao corpo e das artes marciais. Danilo e outros cincos rapazes
de três Estados, todos deficientes auditivos, estrearam, nesta sexta-feira
(25), no torneio pioneiro no País de demonstração de MMA para surdos. Uma
competição em que todos dão socos e pontapés no preconceito e nocauteiam as
barreiras das diferenças. Um exemplo de inclusão social por meio do esporte.
No primeiro
torneio de lutas de MMA para Surdos, que teve apoio da Secretaria de EStado de
Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), quase tudo segue a mesma trilha
das competições exibidas pela TV. Quase. A grande diferença é o cuidado com
regras mais rígidas, para evitar danos aos atletas. Também apareceram junto ao
ringue as figuras das tradutoras de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Elas
levaram as instruções dos organizadores e técnicos aos rapazes e ajudaram,
inclusive, os lutadores a dar entrevistas.
Com o apoio
essencial de Joyce e Shirley Porto, irmãs gêmeas formadas em educação e com
curso de Libras, Danilo Nobre mandou o recado após a primeira luta do dia.
Vencedor por nocaute técnico, o rapaz acredita que eventos como o ocorrido
nesta sexta-feira ajudam a derrubar barreiras e aproximar os jovens surdos de
lutas. “O deficiente é capaz de tudo”, gesticula Danilo, logo interpretado por
Joyce. “Hoje, esse tipo de competição não é difundido, mas vai ser. Tenho apoio
da minha mulher e das minhas filhas para fazer o que gosto e sempre sonhei. E
todos iguais a mim podem também”, incentivou.
Com a ajuda
de Joyce e Shirley, Danilo e os outros competidores participaram, pouco antes
do início dos combates, de uma preleção feita pelo lutador e árbitro de MMA
Carlão Barreto, um dos expoentes do país em jiu-jitsu, que hoje organiza
torneios de artes marciais. Ele mostrou as regras próprias para um evento de
demonstração, nas quais a grande meta é garantir a integridade física dos
oponentes, e incentivou os rapazes.
“Temos um exemplo muito forte nos EUA de um lutador que é deficiente auditivo e ganha muitas lutas. Matt Hammil é sinônimo de superação e de inclusão social e até de mudança de vida. Veio de baixo e ganhou dinheiro, enfrentando a barreira da deficiência”, declarou.
“Temos um exemplo muito forte nos EUA de um lutador que é deficiente auditivo e ganha muitas lutas. Matt Hammil é sinônimo de superação e de inclusão social e até de mudança de vida. Veio de baixo e ganhou dinheiro, enfrentando a barreira da deficiência”, declarou.
Para Joyce
e Shirley o evento envolvendo lutadores surdos no Arnold Classic Brasil também
representou uma experiência inédita de vida. Pela primeira vez, as irmãs
tiveram a oportunidade de acompanhar de perto do octógono tudo o que é exibido
pela TV, como nos torneios do Ultimate Fighting Championship (UFC). “É
realmente uma sensação bem diferente. Tive uma participação bem importante,
sobretudo, na hora de repassar as regras da luta”, comentou Joyce.
De fato, as
regras adotadas para o torneio de demonstração com os deficientes auditivos
foram diferentes das usadas em competições profissionais. Todos só podiam
entrar no octógono com equipamentos de segurança e receberam orientações para
não atingirem partes importantes do corpo do oponente, principalmente a coluna
e a cabeça. As lutas serviram, ainda, para facilitar a adaptação dos lutadores
da modalidade, já que cada um treina uma arte marcial específica, como
jiu-jitsu ou boxe tailandês, mas tem pouca experiência ou nenhuma no octógono
de MMA.
“O que
fizemos aqui é tudo realmente para testar. O árbitro, por exemplo, parou a luta
em várias situações, para evitar maiores problemas. Agora, sabemos que
poderemos fazer novas tentativas, colocando os lutadores surdos em pequenas
lutas e torneios. Depois, partiremos para treinar árbitros para usar a
linguagem de sinais. Tudo para mostrar que os surdos podem. É só querer”,
ressaltou Carlão Barreto.
No evento
demonstrativo, foram três disputas. Cada dupla teve dois rounds de quatro
minutos com um minuto e meio de pausa. Um pouco menos tempo despendido nos
torneios profissionais, que é de rounds de cinco minutos. E todos saíram
satisfeitos com a oportunidade.
Os
organizadores também aproveitaram para apresentar outras modalidades envolvendo
jovens deficientes. Entraram no ringue lutadores de judô surdos, atletas com
deficiência visual e com Síndrome de Down.
Fonte:
site do Governo do Rio de Janeiro por Ricardo Novelino e Blog Usina da Inclusão
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