Como uma fotografia pode ser - vista - por uma pessoa com deficiência visual
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Há exatos seis anos, publiquei o artigo
"Acessibilidade e tecnologias de apoio à inclusão de pessoas com
necessidades especiais"
(http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=13978), duplicado
em diversos sites orientados à pessoa com deficiência.
Naquela ocasião, eu recebi um email enviado por um rapaz
que dizia ter tido muito boas referências sobre aquele texto e sua utilidade,
porém, como era cego, lamentava o fato de não ter acesso ao conteúdo que estava
publicado em arquivo fechado (um recurso que costumávamos utilizar para evitar
cópias desautorizadas) - que não podia ser traduzido pelos programas que
convertem os conteúdos de imagem e texto em voz.
Veja que ironia: justo um rapaz cego, quem mostrou o quanto
eu também sofria da "falta de visão", neste caso, da visão do todo,
da alteridade; e que, a despeito do meu trabalho de informação, eu estava
deficiente.
Desde então, me desapeguei completamente da preocupação com
minha propriedade intelectual, passando a publicar artigos passíveis de cópia e
duplicação. Além disso, passei a sensibilizar desenvolvedores de sites e
provedores de conteúdo, para a produção de conteúdos sob as normativas de
acessibilidade.
O consórcio W3C (http://www.w3c.org), por exemplo, introduziu
normas de acessibilidade para conteúdos publicados na web, mas como nossa
fotografia pode ser "vista" por pessoas que perderam total ou
parcialmente a visão ou são daltônicos?
O ditado "é preciso ver para crer", foi adaptado
para "é preciso CRER para ver", para sensibilizar pessoas às práticas
de inclusão visual. Isto porque uma pessoa cega não é desprovida de imaginação!
Mesmo uma pessoa que já nasceu sem a visão, ao longo da vida
será capaz de aprender a reconhecer tudo o que há ao seu entorno. Do contrário,
não teria mobilidade, nem tampouco se relacionaria com outras pessoas, objetos,
lugares, sons.
A temperatura das cores, a sensação de claridade e escuridão
também podem ser sentidas. Se o deficiente visual é ouvinte, tem na audição um
recurso poderoso de capturar o mundo!
Leia a seguir um trecho do post de André Carioca, do blog
"Cotidiano Cego" (http://cotidianocego.blogspot.com), que fala da
relação entre cegos e imagens:
"(...) Eu comentei que
gosto muito de cinema e ele disse: como? você não vê filme nenhum! Existem
formas de se entender um filme sem a visão. Além dos diálogos que existem em
vários filmes, existem também os efeitos sonoros que nos fazem ter idéia do que
acontece. Talvez, para uma pessoa que enxerga e não está acostumada a se
atentar para esses detalhes, seja difícil imaginar. Tem também um outro recurso
chamado audiodescrição, que atualmente é usado algumas vezes. sabe aqueles
aparelhos de tradução simultânea que são distribuídos em algumas palestras?
Eles têm um fone de ouvido por onde você escuta a tradução. Então. em algumas
seções de cinema e outros eventos, é entregue um desses pelo qual o cego escuta
a descrição das cenas mudas além, no caso de um filme com legenda, a leitura da
mesma. Recurso muito interessante.
Sobre a audiodescrição, encontrei em minhas pesquisas o
"Guião Para Texto Descritivo"
(http://www.dpedrov.edu.pt/becre/files/guiao_para_teexto_descritivo.pdf) - que
me serve perfeitamente como referência para a elaboração de um guia para
descrição das imagens fotográficas.
Veja a seguir a descrição que faço da imagem:
No centro da fotografia digital, moça de pele clara, cabelo
chanel e escuro, agachada à beira do mar, trajando um longo vestido vermelho
(tomara-que-caia), de modo que os joelhos fiquem juntos ao peito, tem a mão
esquerda apoiada no joelho esquerdo, enquanto a direita revolve a areia em
busca de conchinhas, talvez. Sua imagem é refletida na água em movimento, de
modo que parece uma pintura espatulada. O curioso é que a foto recebeu
tratamento que a deixou com a metade superior em preto e branco e o reflexo
(inferior) em cores.
Agora, experimente ler em voz alta esta descrição para alguém
e em seguida mostre a imagem, pedindo para que a pessoa diga o quão perto ela
pode chegar da imagem a partir da sua descrição.
Como se pode ver, basta dedicar um tempo à descrição das
imagens e já vamos poder compartilhar nossos saberes com deficientes visuais,
também.
Estou buscando uma maneira de inserir as descrições da imagem
no blog. Vou ter de fazer através de códigos, mas deixo a sugestão para que as
ferramentas para o upload das imagens contenham um campo descritivo.
E considerando que 16,7% da população têm alguma deficiência
visual, está mais do que na hora de praticarmos a inclusão - sem contar que
este é, por natureza um público consumidor de informação e arte!
Para conhecer melhor o problema, leia o artigo sobre
"Como as pessoas cegas usam a Internet"
(http://brasilmedia.com/Cegueira.html).
Fonte: Fotoclube do Alto Tietê e Blog da Audiodescrição
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