Desmistificando alguns pensamentos sobre a Paralisia Cerebral

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  Por Maria Alice Furrer

  É comum lermos e ouvirmos por aí que uma pessoa com Paralisia Cerebral  não compreende o que ocorre ao seu redor ou até mesmo vive em “estado vegetativo”. Talvez devido ao nome dessa patologia, muitas pessoas acham que trata-se de um “cérebro paralisado”, inativo, sem função ou algo do gênero, o que não é verdade.
    Nosso objetivo com este post é esclarecer, resumidamente, o que é a Paralisia Cerebral, baseando-nos em alguns conceitos e definições clínicas.
   Em 1988, a Comissão Mundial de Paralisia Cerebral conceituou-a como “um distúrbio de postura e movimento persistente, porém não imutável, causada por uma lesão no sistema nervoso em desenvolvimento, antes ou durante o nascimento ou nos primeiros meses de lactância”.
   A designação “Paralisia Cerebral” é clássica, porém não é a mais adequada, já que o cérebro não se encontra paralisado, mas sim incapacitado de comandar, principalmente, a função motora. Desta forma, torna-se inadequado e totalmente inconcebível achar que todo o indivíduo com Paralisia Cerebral não tenha preservada as funções cognitivas (percepção, atenção, memória, linguagem, funções executivas e outras).
   A prevalência da Paralisia Cerebral na população mundial atinge 1,5 a 2,5 indivíduos a cada 1000 nascidos vivos.
   Apesar de a desordem motora ser um denominador comum da Paralisia Cerebral, outras desordens do desenvolvimento também podem estar presentes. As principais são:

·                  Alterações oculares e visuais;
·                  Déficit cognitivo;
·                  Distúrbios de fala e linguagem;
·                  Dificuldades de alimentação;
·      Disfunções corticais superiores (apraxia: incapacidade de realizar um movimento complexo que já aprendeu; agnosia: ausência de reconhecimento, como por exemplo conseguir pegar uma bola e não saber o que é) e os distúrbios de atenção;
·                  Convulsões.

   A Paralisia Cerebral possui um quadro clínico muito variado, como veremos a seguir. E além do quadro ser variado, existem outras manifestações associadas ao distúrbio motor, como citamos anteriormente. Essa variedade se deve ao fato de o sistema nervoso central ser muito complexo, e a caraterística da Paralisia Cerebral está intimamente relacionada com a área (ou áreas) deste sistema que foi lesada.
   A Paralisia Cerebral é classificada de acordo com sua forma clínica (distúrbio do movimento) e topografia (distribuição do distúrbio do movimento). A forma clínica, que é a desordem motora, está intimamente relacionada com a área do sistema nervoso central acometida, onde os seguintes tipos clínicos podem ser encontrados:

·   Espástico: Hipertonia muscular, espasticidade (“rigidez” muscular). Lesão do córtex e das vias córtico-espinais.
·     Discinéticos: Caracterizado pela presença de movimentos involuntários. Lesão dos núcleos da base.
·   Atáxicos: Incoordenação e equilíbrio prejudicados. Lesão do cerebelo.
·   Misto: Alteração em mais de um dos sistemas citados anteriormente.

   Existem sub-grupos (mais específicos) na classificação clínica mencionada acima, porém, nosso objetivo com este post é apenas fazer um apanhado geral, desmistificando alguns conceitos sobre a patologia.
   A classificação topográfica se refere à distribuição corporal da lesão. Atualmente, existem classificações específicas que detalham ainda mais o comprometimento motor. Abaixo vamos conhecer apenas a distribuição topográfica geral:
·   Quadriparesia: Acometimento dos quatro membros.
·  Diparesia: Comprometimento dos membros superiores mais leve (ou inexistente) do que nos membros inferiores.
·  Hemiparesia: Apenas um lado do corpo é comprometido (membros superior e inferior esquerdos, por exemplo).

   Portanto, uma pessoa com Paralisia Cerebral não tem o cérebro e a vida paralisados! Essa desordem cerebral tem como denominador comum o prejuízo motor, mas os problemas associados podem ou não estar presentes.
   Na grande maioria dos casos, as pessoas com Paralisia Cerebral possuem plenas condições de se desenvolver e ter uma vida normal, contanto que sejam bem estimuladas física e mentalmente (principalmente quando criança) e tenham à disposição recursos de acessibilidade e tecnologia assistiva. Por isso, não é raro encontrarmos Médicos, Psicólogos, Engenheiros e até Artistas Plásticos com Paralisia Cerebral.

Referências:
GIANNI, M.A.C. Paralisia cerebral aspectos clínicos. In: MOURA, E.W; SILVA, P.A.C. Fisioterapia: Aspectos clínicos e práticos da reabilitação, 1a ed. São Paulo: Artes Médicas, 2005. cap. 2, p. 13-25.

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