Serviço em São Paulo acompanha albinos
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Piloto da Santa Casa oferece
atendimento médico e psicológico; ideia é expandi-lo para todo o País.
MARIANA LENHARO - O Estado de São Paulo.
A bióloga Renata Lanzelotti
levou a filha Isabel, 4 anos, ao oftalmologista quando ela tinha 4 meses
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Foi com o objetivo de conhecer melhor as
especificidades dos albinos no Brasil que médicos da Santa Casa da Misericórdia
de São Paulo criaram um serviço de atendimento especializado para essa
população. Trata-se de um projeto piloto que, se tiver bons resultados, poderá
ser levado para todos os serviços de saúde conveniados pela Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD), de acordo com o dermatologista Marcus Maia,
que está à frente da iniciativa.
Hoje, o
projeto Pró-Albino - como foi batizado - atende 56 albinos de São Paulo na
Santa Casa. Eles são avaliados a cada três meses por Maia e pelo oftalmologista
Roberto Yuiti Sano. Os especialistas cuidam para que problemas como câncer de
pele, envelhecimento precoce e perda da visão não se estabeleçam nesses pacientes.
Com base nos atendimentos, está sendo criado um cadastro para catalogar as
principais doenças associadas à falta de pigmento.
Entre os
pacientes, há desde crianças pequenas até idosos. "A ideia é pegar essa
criança e oferecer a oportunidade para os pais cuidarem da forma mais
adequada", observa Maia. Durante a infância, é comum que os albinos tenham
dificuldades na escola por problemas de visão.
O
oftalmologista Ronaldo Yuiti Sano, da Santa Casa, explica que a íris do olho do
albino não tem pigmento e deixa que muita luz entre, o que faz com que eles não
enxerguem corretamente. Além disso, existe uma alteração da percepção de cores,
de contraste e de brilho. "O importante é fazer com que procurem cada vez
mais cedo o tratamento. Hoje temos muita experiência com células-tronco que
podem, futuramente, ajudar a melhorar essa falta da melanina", diz Sano.
No caso de
Isabel Correia Lanzeloti, de 4 anos, os cuidados especiais começaram logo nos
primeiros meses de vida. "Por causa de meu conhecimento como bióloga,
entendi que tinha de buscar profissionais especializados: por isso procurei um
dermatologista voltado para a prevenção contra o câncer de pele e ela recebe
acompanhamento oftálmico desde que tinha 4 meses", diz a mãe, Renata
Isabel Correia Lanzeloti, de 31 anos.
Renata conta
que a chegada de um albino à família demanda uma estrutura especial. "Foi
bastante difícil, entrei até em depressão. Não sabia como lidar com o
preconceito", diz. Por causa do contraste entre a cor da pele do bebê e a
dos pais, mais morenos, a família percebia insinuações de que a garota pudesse
não ser filha do casal. "O preconceito, na nossa sociedade, ainda é forte.
Hoje, aprendi a lidar bem com a situação."
A menina
frequenta o projeto Pró-Albino e recentemente passou a receber atendimento
psicológico na Santa Casa. Ela usa óculos desde os 6 meses e, a partir dos 2
anos, passou a usar lentes que escurecem ao contato com o sol. O protetor solar
é repassado a cada duas horas, mesmo em dias chuvosos. Poucos minutos no sol
sem a devida proteção são suficientes para o surgimento de pintas e manchas.
Para o
analista de sistemas Paulo Henrique Prado Oliveira, de 29 anos, o que mais
incomoda em ser albino é a visão prejudicada. "A visão é o que limita: o
fato de não poder dirigir, por exemplo." Ele ficou sabendo sobre o projeto
da Santa Casa nas redes sociais. Foi também pela internet que ele conheceu sua
noiva, que é albina e mantém um blog informativo sobre a condição.
Na opinião
da engenheira e estudante de Educação Física Andreza Cavalli, de 32 anos, o
projeto Pró-Albino pode reverter o desconhecimento sobre o tema, que há mesmo
na classe médica. "Muitos dermatologistas não sabem lidar com o albinismo,
desconhecem a necessidade até do protetor solar."
Para sair de
casa, um acessório imprescindível para Andreza é o boné, que ajuda a proteger
contra a claridade. "Temos de lidar com isso, da mesma forma como o mundo
não foi feito para canhotos."
De acordo
com Maia, caso o projeto se expanda, vai ser mais fácil determinar a quantidade
de albinos no Brasil e descobrir como se distribuem os genes relacionados à
condição entre os brasileiros. "Com isso, é possível, por exemplo, exigir
subsídio do governo para a fotoproteção."
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