Os 10 mitos da contratação de pessoas com deficiência
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A inclusão de pessoas com deficiência
(PCD) no mercado de trabalho tem aparecido cada vez mais na imprensa e no
dia-a-dia no Brasil. Essa abordagem constante revela um amadurecimento da
economia e da sociedade brasileira. Mas traz à tona também um profundo
desconhecimento da grande maioria das pessoas sobre a realidade das pessoas com
deficiência.
O art. 93 da Lei 8.213/91,
popularmente chamado de “Lei de Cotas”, determina um percentual mínimo de 2% de
colaboradores PCD em empresas com mais de cem funcionários e que chega a 5%
naquelas que tem mais de mil. A legislação que é a mola propulsora da inclusão
no país trouxe uma realidade que revelou que o brasileiro médio ainda tem
dificuldades nessa relação, sendo esta uma das razões pelas quais a maior parte
das empresas não consegue ainda cumprir a legislação e promover esta inclusão
social.
Como nas antigas tribos, o
desconhecimento gera mitos para explicar o que não se entende adequadamente.
Este texto pretende auxiliar na desmistificação de alguns pontos que
infelizmente temos visto em algumas organizações quando o assunto é inclusão de
pessoas com deficiência.
MITO 1: NÃO HÁ TANTAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA
O primeiro dos mitos é de que não
existem pessoas com deficiência para cumprir as cotas. Atualmente temos
aproximadamente 325 mil pessoas com deficiência no mercado de trabalho. E o
IBGE detectou que 23,9% da população possui algum tipo de deficiência – ou
seja, são mais de 40 milhões de brasileiros. Embora muitos deles não se
enquadrem nas cotas, sejam aposentados ou jovens demais para o mercado de
trabalho, a realidade é que muitas pessoas com deficiência estão ainda fora do
mercado – que não consegue incluir a todos.
O que falta para as empresas é a
capacidade de enxergar a potencialidade de cada pessoa. Uma vez que a empresa
aprende a incluir, os mesmos candidatos que eram barrados nos processos
seletivos começam a ingressar na corporação. Conhecemos casos de alguns que,
antes reprovados, ingressaram na organização e foram rapidamente promovidos.
MITO 2: PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SÃO
INCAPAZES
É um mito comum, e antigo. A
“incapacidade” era um termo utilizado até mesmo por legislações que não
condiziam com a realidade da maior parte das pessoas com deficiência. Por
óbvio, algumas pessoas com deficiência podem ter sua capacidade laborativa
impossibilitada, como nos casos de pessoas que ficam vegetativas, mas a
sociedade ocidental percebeu esse erro de avaliação em um processo histórico,
em especial após a segunda guerra mundial, quando profissionais extremamente
capazes voltaram com deficiências das batalhas e com algumas adaptações
tecnológicas puderam dar sua importante contribuição para a reconstrução das
sociedades em um novo tempo de paz. Em um local adaptado às necessidades de
cada indivíduo, é extremamente comum que o resultado de uma pessoa com
deficiência seja superior ao de pessoas que não tem deficiência.
MITO 3: PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SÃO
DESQUALIFICADAS
Outra inverdade. Pessoas com
deficiência formam um grupo juridicamente titular de direitos similares, mas
com demandas sociais, culturais e educacionais que são extremamente heterogêneas.
Se é verdade que o Brasil tem fortes problemas educacionais, e que pela falta
de acessibilidade em algumas localidades esse problema se agrava para as
pessoas com deficiência, é também importante lembrar que a maior parte das
deficiências não tem relação com as capacidades cognitivas das pessoas. E é um
verdadeiro absurdo imaginar que uma pessoa que tem uma vida profissional como a
de tantos outros perde sua capacidade laborativa por algum infortúnio – por
exemplo, um acidente de carro que tire os movimentos das pernas do
profissional.
MITO 4: AS COTAS SÃO PARA DEFICIENTES
FÍSICOS
Por motivos socioculturais, muitos se
referem às pessoas com deficiência como deficientes físicos. Ou confundem uma
coisa e outra e acham que os direitos das pessoas com deficiência são
exclusivos de cadeirantes e amputados, excluindo deste conceito as pessoas com
deficiências auditivas, visuais, intelectuais, psicossociais e múltiplas. Pela
Egalitê, trabalhamos com todos os tipos de deficiências em nossos projetos de
inclusão. Todos trazem seus resultados quando suas realidade são respeitadas. E
todas as pessoas com deficiência tem acesso aos direitos da inclusão.
MITO 5: OS SURDOS-MUDOS NÃO SABEM SE
COMUNICAR
Sobre os surdos estabeleceram-se
alguns mitos, em especial sobre sua comunicação. Surdo-mudo é uma interpretação
histórica (e equivocada) de que as pessoas surdas não falam, quando na verdade
muitas delas apenas não aprenderam a oralizar. Por outro lado, muitas pessoas
com deficiência aprendem a oralizar e a se comunicar dessa forma. Também não é
verdade que os surdos não conseguem aprender adequadamente o português. A
Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tem uma estrutura diferente do português e
os surdos que são alfabetizados em LIBRAS muitas vezes escrevem dentro dessa estrutura
mas, se forem ensinados em português, podem, sim, aprender.
MITO 6: PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SÓ
QUEREM SE “ENCOSTAR”
É comum também ouvir-se que as
pessoas com deficiência procuram empregos para se “encostar”. E que quando elas
têm dificuldades nas relações com a empresa, em alguns casos se utilizam da
informação do descumprimento das cotas para negociar sua posição. Ora, isso só
ocorre quando o projeto de inclusão de pessoas com deficiência estiver sendo
mal gerido. A Lei de Cotas obriga ao cumprimento de uma cota, mas não há nada
na norma legal que diga se “A” ou “B” são as pessoas com deficiência que devem
estar na empresa.
Dessa forma, pessoas com deficiência
podem ser demitidas quando não existe uma relação positiva
empregado/empregador. Basta, para isso, que exista uma reposição e um
cumprimento da cota pela empresa. Também temos visto que em projetos de
inclusão com gestores preparados para liderar processos inclusivos, colegas
sensibilizados e acompanhamento das pessoas com deficiência, as empresas atraem
candidatos interessados em trabalhar e fidelizam os mesmos oferecendo um
ambiente saudável e inclusivo. Todos – inclusive as pessoas com deficiência –
querem um emprego onde possam se desenvolver profissionalmente.
MITO 7: PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SÃO
HERÓIS
Quando não temos conhecimento sobre
inclusão, as pessoas conhecem apenas os grandes exemplos de superação das
pessoas com deficiência. Os grandes feitos, os superatletas paralímpicos, as
grandes histórias de pessoas com deficiência são várias e enchem de orgulho os
que as conhecem, mas a realidade das pessoas com deficiência é feita de pessoas
comuns que apenas querem o seu espaço e não devem ter a responsabilidade de
grandes feitos todos os dias. O que as pessoas com deficiência querem é
oportunidades de inclusão.
MITO 8: ACESSIBILIDADE CUSTA CARO
Primeiramente, estamos falando de
algo mais do que acessibilidade arquitetônica. Acessibilidade é tudo aquilo que
envolve permitir o acesso de tudo a todos. Esclarecido que rampas e banheiros
adaptados são ferramentas importantes de acessibilidade, mas não esgotam o
tema, devemos discorrer sobre os custos. Boa parte das obras são muito mais
baratas do que se imagina, e existe como promover a acessibilidade
gratuitamente. Mudanças de comportamentos podem ser lideradas por gestores
preparados sem custos adicionais. Existem ferramentas tecnológicas, como
leitores de telas, que são gratuitos – e às vezes a mera mudança no layout da
sala, mantendo-se o mesmo mobiliário, pode permitir a inclusão das pessoas com
deficiência. A chave está em conhecer para incluir.
MITO 9: SE TEM RAMPA É ACESSÍVEL
Por fim, mas não menos importante
está a concepção de que se a empresa tem uma rampa é uma organização inclusiva.
Muitas empresas constroem uma rampa, adaptam um banheiro e não entendem como o
seu projeto de inclusão não está andando. Como dissemos as demandas das pessoas
com deficiência são heterogêneas entre si, e a acessibilidade arquitetônica,
embora importantíssima, não é a única relevante. Temos visto na acessibilidade
humana, conceito que explica os comportamentos humanos que permitem o acesso de
tudo a todos, uma ferramenta tão ou mais importante do que a acessibilidade
arquitetônica, porque de nada adianta uma rampa se o gestor não contrata
cadeirantes.
MITO 10: A INCLUSÃO GERA PERDA DE
PRODUTIVIDADE
A possível perda de produtividade por
força da contratação de pessoas com deficiência é o medo de nove em cada dez
empresas – em especial as indústrias. Certamente, se você colocar uma pessoa em
uma vaga que ela não tem condição de preencher, sua empresa terá perda de
produtividade. Mas, obviamente, isso somente ocorrerá quando o recrutamento for
realizado equivocadamente. Da mesma forma, se uma pessoa sofre preconceito ou é
mal recebida em um ambiente ela produz menos do que se trabalhasse em um
ambiente adequado e receptivo. A falta da produtividade não vem da inclusão,
mas sim da falta de inclusão em alguns ambientes. Recrutamento assertivo
orientado por potencialidades e um ambiente preparado são as ferramentas da
empresa inclusiva para não perder produtividade.
Como se vê, o desconhecimento sobre o tema tem levado a generalizações que
prejudicam a inclusão das pessoas com deficiência. Como solução para os
projetos de inclusão no mercado de trabalho, temos visto que a chave do sucesso
está na educação do comportamento das pessoas preparadas para incluir como
verdadeiros agentes multiplicadores da inclusão social.
* Guilherme Braga, Gustavo Albuquerque e Marcelo Rodrigues são sócios da
Egalitê Recursos Humanos Especiais. Artigo feito para a Revista Amanhã.
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