Mulheres Deficientes e a Comunidade de Devotees.
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Alison Kafer.
Estes sites ofereciam sala de
bate-papo, anunciavam oportunidades e locais onde os devotees e as pessoas
amputadas poderiam se encontrar, continham anúncios pessoais e vendiam
fotografias e vídeos de mulheres amputadas. Porém, os websites pareciam ter,
principalmente, o objetivo de explicar e defender as ações e motivações dos
devotees. "Devotees," eu rapidamente aprendi, eram homens e mulheres
que se sentiam atraídos por pessoas com amputações e outras deficiências. Em
outras palavras, homens atraídos por mim.
Eu tive uma estranha sensação de
familiaridade, quando visitei esses sites, apesar de nunca ter ouvido falar de
devotees antes. A sensação de familiaridade não era tanto por me sentir parte de
uma comunidade, mas por um sentimento de resignação. Devido aos olhares fixos e
respostas hostis que eu normalmente recebia nas ruas, eu me sentia
terrivelmente sem atrativos e estava convencida de que ninguém poderia amar
alguém como eu. Ninguém - quer dizer - exceto um devotee.
Visitando aqueles sites, eu percebi
que as pessoas que me encaravam na rua não eram a aberração, os devotees é que
eram. O mero fato de eles terem de se agrupar na Internet, para justificar o
seu desejo por mulheres amputadas, parecia testemunhar a natureza sem igual de
sua atração. A retórica defensiva desses sites confirmou meu temor de que a
sociedade vê as mulheres como eu como sem atrativos e indesejáveis. Caso
contrário - eu argumentei comigo mesma - por que tais organizações seriam
necessárias?
O descobrimento da comunidade de
amputados e devotees na internet me encheu de resignação: parecia oferecer a
única oportunidade que eu teria de fazer parte de uma comunidade, de ter apoio
e companhia. Eu estava, de repente, incluída numa comunidade da qual eu não
queria fazer parte, uma comunidade que me fez sentir calafrios.
Em meus primeiros encontros com a
comunidade de amputados e devotees, as mulheres com deficiência, nestas
organizações, eram invisíveis para mim. Apesar de minha intenção original de
aprender mais sobre as mulheres amputadas, apesar do espaço na Internet
dedicado às fotografias e às histórias dessas mulheres, tudo o que eu podia ver
eram as histórias dos devotees. A idéia de um fetichismo pela deficiência era tão
nova para mim que eu me esqueci das mulheres ao tentar entender os homens.
Com o passar do tempo, porém, e como
eu me tornei mais interessada nas barreiras específicas que as mulheres com
deficiência tinham de enfrentar, eu voltei meu interesse para as mulheres
amputadas envolvidas nestes grupos. O que elas achavam nessa comunidade de
amputados e devotees que eu não estava entendendo? Embora, num primeiro
momento, eu tivesse ignorado estas mulheres, agora, eu me via compelida a
conhecer suas histórias. O que motivava o envolvimento delas em organizações
que muitas pessoas percebiam como exploradoras e desagradáveis? Que possíveis
benefícios poderiam resultar da interação delas com outras pessoas com
amputações e com os devotees?
Eu acho este tipo de pergunta
intrigante porque a maioria das pesquisas publicadas sobre a comunidade de
amputados e devotees focalizou exclusivamente os devotees. Não foram levantadas
perguntas sobre as experiências e motivações das mulheres amputadas envolvidas
em tais grupos e elas constituem a inspiração para escrever este artigo.
No outono de 1999, eu voltei à
comunidade de amputados e devotees e perguntei a Jama Bennett, a fundadora da
Coalizão Mundial de Apoio aos Amputados (ASCOTWorld), se ela estava disposta a
discutir o grupo e a sua participação nessa comunidade. Eu comecei uma
exploração preliminar entre as mulheres amputadas para descobrir como elas
percebiam a ASCOTWorld e a sua função na vida delas. A própria Bennett sugere
que a ASCOTWorld sirva para dar apoio às mulheres amputadas, fazendo com que se
sintam fortalecidas para enfrentar os estereótipos culturais dominantes segundo
os quais as mulheres deficientes são assexuadas.
Neste artigo, eu discuto este
potencial para o enfrentamento desses estereótipos. Eu discuto que, embora a
participação de mulheres deficientes na ASCOTWorld possa não romper com os
discursos fundamentalmente dominantes a respeito da sexualidade das mulheres
com deficiências, essa participação tem um efeito positivo na vida delas. O
potencial da ASCOTWorld para fortalecer a auto-estima das mulheres deficientes
frente os preconceitos precisa ser entendido como uma negociação entre os
efeitos que pode ter sobre a sociedade maior e o seu impacto sobre a vida de
cada mulher com deficiência.
Discutindo as suposições que as
pessoas não deficientes fazem em relação às com deficiência, Jama Bennett
afirma que "há uma percepção, por parte da comunidade temporariamente não
deficiente, de que as pessoas com deficiências são assexuadas e eternamente
infantis".
Devido a este estereótipo, acrescenta
ela, "muitas mulheres que tiveram amputações recentes (incluindo eu mesma)
sentem-se maravilhadas por saber que ainda podem ser desejáveis ou atraentes
para um homem." As observações de Bennett originam-se em suas próprias
experiências, enquanto uma mulher com deficiência que vive numa sociedade na
qual a sexualidade do corpo deficiente, particularmente do corpo feminino com
deficiência, é negada, patologizada e/ou ignorada continuamente.
A maioria da literatura sobre a
comunidade de amputados e devotees perpetua estes estereótipos. A maior parte
dos estudos focaliza, principalmente, os devotees e retratam as mulheres com
deficiência como silenciosos e passivos objetos do desejo dos homens. Além
disso, esta literatura, ao tentar analisar as causas e as repercussões do
devoteísmo, coloca essa atração como uma patologia que deve ser tratada ou deve
ser eliminada.
Eu não quero debater o mérito médico
desse diagnóstico. Ao contrário, eu quero realçar as idéias preconcebidas que a
cultura dominante tem a respeito da sexualidade das mulheres com deficiência e
que são a base desses estereótipos. Se identificamos os devotees como
"doentes", o que estamos dizendo a respeito dos sentimentos que as
mulheres deficientes inspiram? Considerar atraente uma mulher com deficiência é
sempre o sintoma de uma doença? Mulheres amputadas não aparecem discutindo
estas questões e, quando aparecem, somente o fazem como vítimas porque foram
molestadas ou enganadas por devotees.
Algumas feministas reafirmam esta
tendência quando vêem os devotees como praticantes de uma forma perigosa de
pornografia. R. Amy Elman, por exemplo, afirma que as publicações de devotees
contribuem "para que as mulheres e meninas, particularmente aquelas com
deficiência, continuem a ser consideradas e tratadas como cidadãs de segunda
categoria". Ela examina vários artigos de The Amputee Times, uma revista
voltada aos devotees, que focaliza "o fetichismo pela vulnerabilidade das
mulheres", e os comentários dos devotees a respeito da formação de um
catálogo com mulheres deficientes atraentes.
Embora eu concorde com Elman de que o
comportamento de alguns devotees é preocupante, particularmente o ímpeto para
criar um banco de dados de mulheres com deficiência "disponíveis",
alguns dos comentários dela também me preocupam. Elman só vê as mulheres com
deficiência como vítimas que, por terem se convertido em objetos, necessitam de
proteção, e não as vê como agentes ou sujeitos. Além disso, ela ignora as mulheres
que se vê nos sites destinados aos devotees e só discuti os fotógrafos e os que
publicam essas imagens. Fazendo assim, ela insinua que as mulheres deficientes
só posariam para fotos "sensuais" quando enganadas ou coagidas a
isto.
Freqüentemente, as mulheres com
deficiência são desencorajadas de participar de qualquer forma de expressão
sexual, e as mulheres que moram em instituições têm sua sexualidade severamente
controlada ou impedida. Gayla Frank discute as experiências de Dianne DeVries,
cujos quatro membros foram amputados e que freqüentemente era criticada, no
centro de reabilitação, por causa das roupas que desejava vestir.
Frank explica que a equipe médica
recomendava que DeVries usasse pernas e braços artificiais, que se vestisse com
roupas de mangas compridas, saias longas e largas para disfarçar a sua
deficiência. Sua recusa em usar estes dispositivos causavam consternação em
seus médicos, que consideravam sua decisão como um "desajustamento" e
não como um sinal de independência. A preferência dela para vestidos sem manga
e camisetas de mangas curtas eram ainda mais problemáticos para a equipe
médica, que considerava sua aparência "sem atrativos e possivelmente
perturbadora". A sugestão dos médicos para que usasse roupas mais discretas
não estava relacionada à necessidade de facilitar seus movimentos, mas sim com
o objetivo de tornar sua aparência menos chocante para os outros.
O desejo de seus médicos para tornar
invisíveis as deficiências de DeVries fizeram com que ela se tornasse
efetivamente invisível: foram ignorados seus desejos e suas opiniões sobre seu
próprio corpo e sua deficiência, foram desvalorizados seus julgamentos e suas
escolhas e ações foram consideradas como um desajustamento.
O impulso para esconder a deficiência
é forte. Embora DeVries tenha se rebelado contra seus doutores que queriam que
ela cobrisse seus cotos com roupas e próteses, muitos outros amputados
voluntariamente usam roupas folgadas como camuflagem para suas deficiências.
Muitas pessoas com deficiência concordam com a opinião dos médicos de DeVries -
de que um coto amputado visível é "sem atrativo e perturbador".
Quando o ponto de vista dos "especialistas" combina com a ausência de
imagens de pessoas com amputações na mídia e na esfera pública, isto
desencoraja os amputados de tornar visíveis os seus corpos. A construção
cultural de uma imagem das mulheres com deficiências como assexuadas e sem
atrativos afeta sua auto-estima, impelindo-as a disfarçar suas deficiências por
vergonha delas. Como a própria Bennett declara: "Eu usei saias e vestidos
longos durante dez anos, nunca shortes ou bermudas, porque eu sentia que
deveria manter escondida minha perna amputada."
A partir de seu primeiro encontro com
a comunidade de devotees, há sete anos, Bennett mudou radicalmente sua atitude
em relação ao próprio corpo. "Depois que eu descobri sobre os
devotees" - ela explica - "eu comecei a usar bermudas, shorts e maiôs
que deixam à mostra meu coto. Eu me dei conta de que esta é minha perna, e se
alguém prefere não vê-la, então, que não olhe." Os comentários de Bennett
revelam o impacto imediato que a comunidade de devotees causou em sua
autoconfiança.
Simplesmente saber da existência de
homens que a achariam atraente por sua amputação, e não apesar dela, fez com
que mudasse radicalmente a compreensão de sua deficiência e foi essa mudança
que a levou a se envolver na ASCOTWorld e à sua interpretação da organização
como um baluarte de resistência.
Lolly Gibbs, uma amputada por
problemas com diabetes, envolveu-se com a ASCOTWorld logo após ter sido
abandonada por seu noivo. Ele a abandonou, logo após ela ter sido amputada,
porque não conseguiu adaptar-se à sua dependência de uma cadeira de rodas.
Gibbs, eventualmente, encontrou dois membros da comunidade de devotees, através
de um anúncio em um jornal local. "Nunca tinha ouvido falar de
devotees" - ela explica - "mas, os homens eram ambos simpáticos,
atenciosos e compreensivos. Eles me deram vários artigos para ler e aprender
sobre suas preferências e me falaram dos Fins de Semana da Fascinação.(6) Após
ir a uma série de Fins de Semana e freqüentar a ASCOTWorld, Gibbs apresentou
uma transformação como a de Bennett: "Finalmente senti-me desejada,
atraente e até mesmo sexy. Não me envergonhava mais por ser vista em
público."
Ambas, Gibbs e Bennett, descrevem
seus encontros com os devotees como experiências fortalecedoras. Após serem
tratadas como não atraentes e assexuadas, essas mulheres estavam encontrando
homens que as achavam mais desejáveis que as mulheres não deficientes. Valorizando
as mulheres com deficiências, os devotees parecem ignorar os ideais
prevalecentes de beleza, escolhendo mulheres que outros homens rejeitaram como
sendo não-sexy e não-desejáveis. Bennett explica que qualquer coisa que dê às
mulheres deficientes mais confiança ou crença em sua sexualidade é positiva e
ela aprova organizações como a ASCOTWorld por fazer exatamente isto para ela e
para inúmeras mulheres na mesma condição.
Bennett considera que na ASCOTWorld,
a rejeição da assexualidade das mulheres com deficiência, traduz-se em vendas
de fotos e vídeos e a veiculação de suas imagens em sites da Internet, sites
estes que seriam acessados só por assinantes. Bennett estima que existam mais
de 28.000 instantâneos de mulheres deficientes. Qualquer amputada que queira
posar para fotos ou participar de vídeos recebem assistência de Bennet e da
ASCOTWorld.
Muitos desses vídeos são vendidos por
mais de US0,00, dos quais 60% vão para a modelo e 40% ficam na Associação para
cobrir custos de "reprodução, postagem, propaganda e mão-de-obra".
Os vídeos são feitos com o propósito
de promoção pessoal, apresentando "mulheres solteiras para devotees que
possam querer conhecê-las nas reuniões de fim de semana".
ASCOTWorld não é o único grupo a
oferecer tais serviços. A CD Produções, operada por Carol Davis é outra
organização que produz e distribui fotos e vídeos de mulheres amputadas.
Ambas, Davis e Bennett, asseguram que
estas fotos e vídeos são benéficos para as modelos não só do ponto de vista
financeiro como também por promover um aumento em sua autoconfiança e maior
consciência de sua sexualidade.
Joy, uma das modelos da CD, explica:
"Eu sei o que é ser rejeitada por homens pela falta de um membro. Sinto-me
gratificada por ser admirada como sou". Outras mulheres fazem eco a Joy.
Kath Duncan, em seu VT "Minha Amante de Uma Perna Só", comenta como
foi excitante essa sessão de fotos, pois foi capaz de colocar todo seu corpo à
mostra e sentir seus cotos como sendo sexy.
Estes comentários sugerem que
encontrar um ambiente no qual seus corpos são (não somente aceitos mas também)
admirados parece produzir um formidável impacto na auto-estima das mulheres com
deficiência.
A proliferação de imagens
representando deficientes como sexy e atraentes poderá ser benéfica não só para
as modelos mas também para todas as deficientes. Jane Elder Bogle e Susan L.
Shaul contam que um dos maiores problemas para a expressão da sexualidade das
mulheres com deficiência é a falta de exemplos. Para muitas mulheres,
particularmente as que sofrem amputações em uma idade mais avançada, é difícil
aprender a incorporar cadeira de rodas, próteses, cicatrizes e braçadeiras ao
rol das coisas consideradas "sexies".
ASCOTWorld é um dos poucos lugares
onde uma mulher amputada encontra imagens de mulheres que são iguais a ela e
que incorporam suas deficiências àquilo que entendem como sensualmente
atrativo. Ao divulgar essas imagens, ASCOTWorld oferece exemplos de mulheres
cujas deficiências não impedem a sensualidade, contrapondo-se à cultura dos não
deficientes, na qual as mulheres com deficiência são assexuadas.
Além disso, como notou Barbara Waxman
Fiduccia, muitas das organizações de devotees são dirigidas atualmente por
amputadas (13): Fascinação, ASCOTWorld e Produções CD são de propriedade e são
dirigidas por amputadas. Elas decidem a forma de conduzir e os estatutos das
organizações. Além disso, todo o lucro dos vídeos e das fotos são entregues às
modelos. Waxman Fiduccia enfatiza que o aspecto radical dessas empresas é que
elas possibilitaram às pessoas com deficiência tirar suas vidas sexuais do
controle dos médicos, psicólogos e, por extensão, dos próprios devotees. As
mulheres controlam suas produções.
Embora ainda sinta algum desconforto
a respeito dos devotees, começo a sentir uma afinidade com as modelos e suas
organizadoras. Essas mulheres estão se recusando a aceitar passivamente os
estereótipos impostos a elas pela cultura dos não deficientes. Ao afirmar,
ativamente, seu direito de falar sobre, usar e dispor de seus corpos da forma
como consideram conveniente, essas mulheres deficientes estão dando poderosos
exemplos alternativos de como observar o corpo feminino com deficiência.
O impacto que essas imagens causam na
sociedade em geral ainda precisa ser determinado. Ainda que a participação na
comunidade de devotees possa mudar a percepção que algumas mulheres têm de si
mesmas, isto pode não ter nenhum efeito sobre o juízo que as pessoas não
deficientes fazem delas.
Na realidade, algumas pessoas podem
ver a formação de grupos como ASCOTWorld como uma prova de que pessoas com
deficiências são realmente diferentes. A existência da comunidade dos devotees
pode levar a crer que somente eles acham deficientes atraentes e que sentir
atração e desejo por uma mulher deficiente pode ser visto como uma
"condição" que só "afeta" alguns membros
"diferentes" da maioria da população.
Tais pontos de vista não estão
limitados aos não deficientes, eu, no princípio, via os sites como o ASCOTWorld
não como uma prova de minha capacidade de ser desejada, mas, sim, como um
atestado exatamente do contrário. Visto dessa maneira, o envolvimento das
amputadas na comunidade devotee pode, na realidade, perpetuar o pensamento de
que as mulheres com deficiência são assexuadas e de que não são desejáveis,
negando assim, o potencial transformador da ASCOTWorld.
A comunidade de devotees ainda
reflete muitos dos valores da sociedade em geral e seus preconceitos. No vídeo
"Minha Amante de Uma Perna Só", Duncan expressa decepção ao descobrir
que os devotees são tão críticos - em relação aos corpos das mulheres - como
são os não devotees. Podem divergir da corrente principal, ao considerar cotos
sensuais, mas os devotees também menosprezam as mulheres que são gordas ou sem
atrativo. Ou seja, a os devotees não estão numa esfera utópica na qual a beleza
e a aparência física são irrelevantes. Simultaneamente, os devotees rejeitam o
estereótipo de que as mulheres deficientes são indesejáveis e perpetuam os ideais
hegemônicos de beleza.
Além disso, alguns segmentos dos
amputados e devotees refletem o padrão heterossexual que permeia a cultura
ocidental. Embora haja vários sites na Internet destinados a homens amputados e
devotees gays, os sites destinados a lésbicas são menos comuns. Um dos poucos
sites para lésbicas que eu descobri é freqüentado, principalmente, por homens
devotees heterossexuais à procura de "deusas do amor lésbicas e
amputadas". Esse site foi atacado, pelo menos uma vez, com comentários e
desenhos homófobos.
Um outro exemplo desse preconceito é
a opinião de uma mulher amputada com quem conversei: ela acha que a existência
de deficientes lésbicas é uma prova da necessidade dos devotees. Segundo ela,
muitas mulheres com deficiências se tornam lésbicas porque não podem encontrar
parceiros masculinos. Para ela, se tais mulheres conhecessem os homens
devotees, elas não seriam "forçadas" a se tornar lésbicas para ter
uma vida sexual ativa. Os comentários dela refletem o preconceito da sociedade,
segundo o qual todas as lésbicas são heterossexuais fracassadas. Assim, dentro
do discurso da comunidade de amputados e devotees, freqüentemente, a
sexualidade de lésbicas deficientes é negada, patologizada e/ou ignorada,
Portanto, nem todas as mulheres com deficiência são bem-vindas na comunidade de
devotees e deficientes.
Eu também quero ressaltar que nem
todas as mulheres com deficiência tiveram boas experiências com devotees, nem
se beneficiaram de uma elevação de sua auto-estima e independência. Muitas
mulheres deficientes tiveram encontros terrivelmente amedrontadores, sendo
perseguidas por devotees que as fotografaram sem sua permissão. Outras mulheres
- como eu - tiveram seus nomes e atributos físicos disseminados pela comunidade
de devotees sem o seu conhecimento ou sua permissão. Embora nem todos os
devotees se comportem dessa maneira, a existência de alguns faz com que algumas
mulheres com deficiências desconfiem e temam todos eles. O potencial da
ASCOTWorld para contribuir para a elevação da auto-estima sexual das mulheres
deficientes contrapõem-se ao fato de o site, ao expor as mulheres, torna-as
suscetíveis ao molestamento e abuso por parte de devotees.
Porém, é importante dizer que o
comportamento agressivo não é exclusivo de devotees. Violência contra mulheres
é inerente às culturas patriarcais, e muitos não devotees são culpados de
molestar, espionar e aterrorizar as mulheres. O alto número de mulheres não
deficientes que são molestadas, espionadas e agredidas todos os anos é a prova
de que estes comportamentos estão mais relacionados à misoginia latente na
sociedade do que à atração específica dos devotees. Assim, o comportamento
inadequado de alguns devotees deve ser considerado como integrante de uma
cultura patriarcal. A atitude agressiva de alguns deles não pode ser vista como
exclusiva da comunidade de devotees.
Embora estas preocupações sejam
importantes e não devamos ignorar as acusações de coerção, abuso e
molestamento, os efeitos de ASCOTWorld não podem ser considerados como
completamente negativos. Para Bennett e as mulheres amputadas de ASCOTWorld, a
participação delas na comunidade de amputados e devotees alterou radicalmente a
percepção de sua deficiência. Assim, para algumas mulheres com deficiência,
ASCOTWorld atua como um lugar de resistência pessoal que lhes permite restaurar
a auto-estima, a independência e a sensualidade. Ainda que posar para
fotografias e participar de reuniões possam não contribuir, fundamentalmente,
para desmantelar os estereótipos dominantes na sociedade a respeito do corpo
feminino portador de deficiência, o impacto positivo em suas vidas, que algumas
mulheres acreditam ter sido causado por essas atividades, não pode ser
ignorado. Nas palavras de Lolly Gibbs: "Finalmente, eu me sinto atraente
e, até mesmo, sensual. Eu não tenho mais vergonha de meu corpo."
Fonte: Bengala Legal
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ResponderExcluirTenho uma deficiência em uma perna , sou lésbica estou em busca de um amor
ResponderExcluirEu sou deficiente físico de nascença, quero amizade com mulheres deficientes, eu não tenho filhos (as) nem quero ter, trabalho, mas já tenho 46 anos, procuro uma Mulher bonita e que seja menos deficiente que eu, quero uma pessoa pra abraçar, beijar...
ResponderExcluirChamem no zap 96991361515
ResponderExcluirQual o site de encontro de devotes ?
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