Telas brincam com a visão poética do artista sobre a cidade e o campo Cultura

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O ponta-grossense Marcelo Schimaneski começou a pintar como fisioterapia, depois que um acidente o deixou sem os movimentos dos braços e pernas
Pontos turísticos de Ponta Grossa, como o Parque Estadual de Vila Velha, também são retratados pelo artista
Era comum ver os caminhões quase tombando nas estradas antes do asfalto


Alguns quadros demonstram uma perspectiva atual da região de Olarias, como este, em que os personagens passeiam ao redor da Usina do Conhecimento
Irati - A Casa da Cultura apresenta a partir desta semana, em seu piso superior, a exposição Poesia Rural, que traz 21 telas do artista plástico ponta-grossense Marcelo Schimaneski. O pintor tem ganhado destaque no segmento das artes visuais nos últimos anos através de suas obras em estilo naïf – ou seja, uma arte produzida sem formação acadêmica, caracterizada pela simplicidade da técnica e dos elementos. Cada um dos quadros representa a cidade de Ponta Grossa, cenas da infância em chácaras e a região do Bairro Olarias, onde mora desde que nasceu.
Em 1989, um acidente automobilístico ocasionou uma lesão em sua coluna, que paralisou Marcelo Schimaneski do pescoço para baixo. Longo tempo foi necessário para que a fisioterapia devolvesse a ele os movimentos dos braços e mãos, permitindo que pudesse, assim, registrar suas impressões e seu ponto de vista sobre o cotidiano da Princesa dos Campos Gerais. A própria pintura serve como fisioterapia para garantir a ele movimentos cada vez mais precisos.

Marcelo conta que a pintura entrou na sua vida depois do acidente que o levou à tetraplegia, pois precisava de uma fisioterapia para recuperar os movimentos dos braços. Um amigo, que é artista plástico também, passou a ele uma lista de tintas para adquirir.
Marcelo comprou as tintas e passou a pintar, sem instrução nenhuma. Mais tarde, esse mesmo amigo lhe contou que o que Marcelo estava pintando era arte naïf, ainda que ele não tivesse entendido o que o amigo queria dizer, a princípio. “Eu não entendo de arte. Só sei fazer a minha arte. Alguns artistas dizem que minha arte naïf é mais moderna, pois abuso dos planos de profundidade e de perspectiva, já que o naïf não tem muito disso. Fazendo do meu jeito, criei uma identidade e já sou conhecido no meio das artes plásticas em minha cidade e até fora”, descreve.
As pinturas de Marcelo Schimaneski são alegres e coloridas, ora traduzindo o frenesi contemporâneo da cidade, ora representando a calmaria do campo.
Marcelo já teve suas obras expostas na Galeria João Pilarski, que fica no Centro de Cultura de Ponta Grossa, no Espaço Cultural da Câmara Municipal de Ponta Grossa, na Pinacoteca de Piracicaba (SP), na Casa da Praça (Castro – PR) e, agora, integrará um projeto itinerante de exposições por todo o estado do Paraná, que começa a partir de Irati.
O projeto foi sugerido à Secretaria Estadual de Cultura pelo coordenador da Casa da Cultura de Irati, Júlio Cesar Dias, que se interessou pela exposição depois de ver uma entrevista de Marcelo Schimaneski ao programa Caminhos do Campo (RPC TV), que apresentou o artista e seu trabalho durante a exposição de seus quadros na Sala do Artista Popular, em Curitiba. Dias entrou em contato com a diretora da Sala do Artista Popular, Vera Perly Dattola, e sugeriu que a exposição se tornasse itinerante. A ideia foi prontamente aceita pela Secretaria Estadual de Cultura, segundo ele.
Os quadros de Marcelo Schimaneski retratam suas memórias de infância, mas também alguns deles apresentam cenas contemporâneas, que são possíveis de identificar através de elementos arquitetônicos, pontos comerciais e outras referências. O cotidiano no entorno do bairro Olarias é o centro de todas as cenas por ser o local em que o artista reside desde a infância. Ele conta que um exemplo é sua própria casa que, sempre que possível, aparece nos quadros.
As telas também apresentam casas de outros moradores, vizinhos dele. “Por ser um bairro muito antigo, ainda existem muitas casas de madeira. Eu as fotografo e guardo, pois sempre uso como modelo. Meus vizinhos sempre vêm ver minhas telas para ver retratadas suas casas e até vendi obra para morador do bairro só porque tem na tela a casa dele. É uma maneira de eternizar, já que muitas estão sendo desmanchadas por causa do cupim”, conta o artista plástico.
Boa parte dos quadros representam cenas rurais, que são memórias da infância de Marcelo. Ele conta que sempre que pegava férias no colégio ia passar uma temporada na chácara de sua tia, que ficava próxima da casa dele, e lá ajudava seu primo a cuidar dos animais: vacas, cavalos, porcos e galinhas, fato que o divertia bastante, conforme Marcelo relata.
Além do bairro Olarias, os quadros pintados por ele retratam outros locais conhecidos da cidade de Ponta Grossa, como o Parque Ambiental, o antigo Ponto Azul – que concentrava as paradas de ônibus antes de existirem os terminais do sistema integrado de transporte coletivo, a Estação Saudade – antiga estação ferroviária tombada pelo patrimônio histórico – e pontos turísticos, como o Parque Estadual de Vila Velha.
Quando questionado sobre a lógica que norteia o que vai ser retratado nos quadros, ele responde que os temas rurais são os seus favoritos. O bairro Olarias, centro de sua temática, era um local em que havia seis olarias que foram desativadas com o crescimento da cidade. Marcelo conta que já fez um quadro que retrata as antigas Indústrias Wagner, das quais hoje resta apenas uma chaminé, que foi tombada pelo patrimônio histórico. O artista, inclusive, lamenta que o desenvolvimento da cidade, muitas vezes, desconsidera a preservação do passado: “Estão destruindo o antigo e fazendo construções novas, que não têm nenhuma beleza. Estão destruindo uma história”, opina.
Marcelo conta que fica bastante satisfeito quando pinta uma tela com algo antigo, com casas já desmanchadas e a tela acaba exposta em algum local público. “Gosto de ver as pessoas que viveram na época que tinha o tema que pintei revivendo, recordando e até chegam a chorar de ver ali um local em que viveram ou trabalharam”, analisa o artista plástico.
Fonte: Hoje Centro Sul

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