Devotees: Doença ou fetiche?

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"Queridos leitores, li esta reportagem esta semana e fiquei impressionada com esta "doença". Não sabia que existia. Então compartilho com vocês para mais pessoas ficarem sabendo". 

Talvez você nunca tenha ouvido falar do termo e nem saiba o que significa “devoteísmo”, mas com certeza se possui algum tipo de deficiência e curte bate-papo pela internet já deve ter cruzado com um devotee, que são homens e mulheres, heterossexuais, bissexuais ou homossexuais que têm atração física e sexual por pessoas com deficiência. Vamos explicar melhor: eles têm atração pela deficiência que a pessoa possui e não pelo que ela é, tendo até preferências específicas sobre o tipo de deficiência, como, por exemplo, amputação a 5 cm do cotovelo ou joelho, vítimas de poliomielite, paraplégicos, tetraplégicos, etc.

A prática se espalhou com o advento de os inúmeros acessos à internet, porém, em pesquisa sobre o tema, a jornalista Li Crespo, que possui seqüelas de poliomielite, apurou que a literatura médica relata casos de devotees desde meados de 1800, mas sem detalhes sobre a prática. Foi Lia que levantou a questão no Brasil em 1990, quando realizou uma pesquisa para saber quem eram essas pessoas que se sentem atraídas pela deficiência e quais os prejuízos que causam.

Para alguns, o devoteísmo é apenas um fetiche, como quem tem atração por pés, por exemplo. Mas, para outros, a aproximação de alguém pela deficiência é uma espécie de doença ou desvio de personalidade. Para Lia, o impacto que causa na vida dessas pessoas com deficiência, que são vítimas dos devotess, é imenso, uma vez que fotos são tiradas sem permissão e divulgada na rede. “Não ouvi casos de violência física, mas a violência moral sofrida é, sem dúvida, muito ruim. O trauma é grande e pode causar depressão”, afirma a pesquisadora. Há vários sites que vendem CDs com essas imagens, nem sempre pornográficas. Às vezes só as imagens das pessoas com deficiência excitam o devotee. Foi o caso de Cláudia Maximino, que possui síndrome de Talidomida, e teve fotos suas, mostrando a sua deficiência, divulgadas em um site. “Na época, fui atrás dos órgãos competentes e consegui que as imagens fossem tiradas da internet. Para mim são águas passadas, mas fiquei muito triste por saber que fui enganada e que alguém só gostava do meu corpo e não do que eu era. Hoje já superei e quando me relaciono com alguém, tento descobrir se a pessoa tem essa preferência”, relata Cláudia.

Mas não é só na rede internacional de computadores que os devotees procuram o contato, muitos são mais ousados e frequentam reuniões, centros de reabilitação e institutos. São tratador por Lia como o tipo predador que vai à "caça". A pessoa com deficiência, por falta de informação sobre a existência desse tipo de comportamento, acaba facilmente "cedendo" ao assédio e só depois descobre que foi vítima de um devotee. Por isso, Lia lutou durante muito tempo contra o tabu de falar sobre o assunto nos lugares que as pessoas com deficiência frequentam, como institutos e centros de reabilitação, e teve dificuldade em divulgar o assunto. "Todos acham um absurdo e preferem o siêncio. O problema não está em se envolver ou não com um devotee e sim saber quem ele é e o que quer para não sofrer uma grande decepção. Só a divulgação e a informação é que podem proteger", salienta Lia.

A internet serviu como um modo de unir quem tem esse tipo de atração. Hoje eles se relacionam (geralmente com nomes falsos) por meio de chats e marcam encontros e festas entre devotees e pessoas com deficiência.

Conversamos com J.J. Ramos (nome fictício), de 35 anos, que concedeu entrevista à Revista Sentidos desde que sua identidade não fosse revelada. Devotee há muitos anos, ele confessou que se sentia doente até conhecer pessoas iguais a ele.

"Quando conversei com outro devotee e vi que meu desejo sexual por mulheres com deficiência não fazia de mim uma aberração, confesso que senti aliviado. Quando pude pela primeira vez, extravasar meu desejo, foi muito bom, quase viciante e não parei mais. Mantenho encontros periódicos com mulheres com deficiência e sabem o que eu sou e gostam, mas nunca assumi um relacionamento com nenhuma delas". Sobre o desejo pela deficiência, ele é incisivo. "Assim como pessoas que praticam o sadomasoquismo e têm desejo por isso, nós gostamos de parceiros com deficiência e de cuidar e dar carinho a eles. É só mais um fetiche dentre tantos outros que existem", acrescenta Ramos.

Outro ponto que não podemos deixar de lado são as pessoas com deficiência que gostam e até preferem se relacionar com devotees e não veem problema nisso (grifo meu) Muitas divulgam em suas páginas de relacionamento pessoal, fotos de festas e encontros com devotees. A Sentidos entrevistou algumas delas, mas infelizmente nenhuma permitiu que seu nome e experiência fossem divulgados nesta matéria..

Sentindo na pele Lia Crespo, em suas pesquisas, definiu a descoberta do devoteísmo pela pessoa com deficiência em cinco fases: a incredulidade (Não é possível, isso não existe!); o medo do desconhecido (O que é isso? É perigoso?); a perplexidade (Todos os que se interessam sexualmente po mim são devotees?); a raiva (Como eles se atrevem a ter atração sexual pela minha condição?) e, por fim, a aceitação/fascinação (Isto existe, é inusitado e interessante).

Sexo De acordo com Geovana Andrade, fisioterapeuta e autora do livro "Posicionamentos sexuais para lesados medulares", a sexualidade é importante e é uma expressão e vida. "A sociedade tende a controlar e reprimir a expressão sexual da pessoa com deficiência, muitas vezes, devido a fatores culturais ou religiosos". Mas alerta que como qualquer outra pessoa deve ter orientações, e acesso a informações, e superar a insegurança já que o medo de rejeição, a autoestima alterada e o receio de ser satirizada são fatores que geram esse sentimento.

É necessário cautela, pois os riscos que os internautas sem deficiência, correm são os mesmos para os praticantes de devoteísmo.

Veja a última parte do estudo sobre devotees. O texto abaixo foi extraído do site Bengala Legal. Abaixo estão os resultados da pesquisa da jornalista Lia Crespo, no que diz respeito as pessoas com deficiência e os devotees.

Resultados Parciais da Pesquisa sobre Devotees e pessoas com Deficiência.

De acordo com as respostas obtidas através do questionário disponível no site "Pesquisa sobre Devotees e Pessoas Deficientes"

http://sites.uol.com.br/devotee), concluímos que 84% dos pesquisados são homens, heterossexuais, com uma faixa etária média de 30 anos de idade. A porcentagem de mulheres é de 16%. Dentre os devotees (homens e mulheres) pesquisados, 78,57% nunca sentem desejo de fingir e/ou de se tornar deficientes. Uma porcentagem de 14,29% afirmam ter freqüentemente desejos que caracterizam pretenders/wannabes, enquanto 7,14% deles dizem apresentar estas características apenas eventualmente.

Segundo 85,71% dos pesquisados, existem basicamente dois tipos de devotees: os que buscam um relacionamento e se interessam pelas pessoas deficientes e aqueles que buscam apenas uma satisfação sexual imediata. Há uma grande preferência por pessoas com algum tipo de amputação (78,57%), seguida por portadores de pólio e outros tipos de deficiência (21,43%). Quanto mais severa e incapacitante for a deficiência, mais atraente ela se torna para 14,29% dos pesquisados.

A maior parte deles (71,43%) tem predileção pela presença de algum tipo de equipamento assistivo (aparelhos, bengalas, muletas, cadeira de rodas etc.).

Sexualmente falando, a satisfação de 7,14% dos pesquisados é exclusiva com pessoas com deficiência, enquanto 28,47% deles afirmam relacionar-se satisfatoriamente também com não deficientes. A maioria (64,29%) não soube responder, já que nunca teve a oportunidade de manter uma relação sexual com uma pessoa com deficiência.

Verificamos que 92,86% não conseguem explicar para si mesmos os motivos pelos quais possuem essa fascinação. Solicitados a definir sua preferência, 57,14% usaram as palavras "estranho", "desvio sexual", "fetiche", e "tara", enquanto 28,57% acreditam que trata-se de "uma atração normal". Dos pesquisados, 42,86% acreditam ou já acreditaram que a sua fascinação poderia ser uma "doença ou um desvio de personalidade". Metade deles não acredita nisso e 7,14% não responderam à pergunta.

Geralmente, a descoberta da atração por deficientes ocorre na infância e adolescência (em 85% dos pesquisados), ocasionando sentimentos de "vergonha", "desconforto", deslocamento ("por ser diferente") ou "satisfação". O sentimento de desconforto causado por essa preferência (relatado por 71,43%) faz 21,43% dos pesquisados desejarem uma forma de se livrar dela, enquanto 64,29% dizem não desejar uma "cura".

Por "vergonha e medo de serem tratados com preconceito", a maioria (57,14%) nunca contou a ninguém sobre essa preferência. Os que contaram (42,86%) o fizeram para pessoas de seu relacionamento muito íntimo, como esposa(o), namorada(o) e mãe. Esses relataram que a reação sobre essa confidência despertou sentimentos que foram da incredulidade à compreensão, passando pelo choque e a recriminação.

A possibilidade de conversar sobre sua preferência com outras pessoas, especialmente com as portadoras de deficiência, é considerada benéfica para 71,43% dos pesquisados. Quase todos (85,71%) acreditam que trazer à tona e discutir as questões que envolvem devotees e pessoas deficientes pode trazer benefícios a ambos os segmentos, promovendo a quebra de preconceitos e o entendimento mútuo. Metade deles conhece e/ou troca informações com outros devotees. A maioria (64,29%) afirmou não adotar nenhuma estratégia específica para fazer contato com pessoas deficientes, enquanto 21,43% utilizam a internet e 14,29% dizem se comportar normalmente.

As salas de bate-papo e os murais de recados dos sites destinados a deficientes são acessados com freqüência por 71,43% dos pesquisados para estabelecer contato com portadores de deficiência. A utilização eventual da internet é relatada por 7,14%, enquanto 21,43% afirmam não usar esse recurso. Depois de estabelecer um contato, que pode incluir ou não um relacionamento sexual, 42,86% dos devotees se sentem "culpados" e "envergonhados", enquanto 57,14% se sentem "felizes" e "satisfeitos".

Ao buscar um contato com pessoas deficientes, 64,29% afirmam desejar estabelecer um relacionamento que inclua, além de sexo, convívio social, amizade e namoro. Apenas 14,29% dizem buscar somente uma satisfação sexual. Quase todos os pesquisados (85,71%) afirmaram que estariam dispostos a assumir um casamento e/ou um compromisso duradouro com uma pessoa com deficiência. Os casados (21,43%) afirmam que eventualmente buscam contato. A maioria (57,14%) acredita que os devotees deveriam adotar uma conduta ética que permeasse a aproximação e o relacionamento com deficientes, mas 42,86% discordam disso.

A decisão de informar sua condição de devotee às pessoas deficientes com quem estabelecem contato é tomada freqüentemente por 42,86% dos entrevistados. A reação da pessoa informada foi descrita por metade dos pesquisados como sendo "assustada", "curiosa" ou "normal". Dentre os 57,14% que disseram não informar, encontram-se os que nunca tiveram nenhum contato com pessoas com deficiência e os que não informam por "medo da reação" da pessoa. Muitos (64,29%) acreditam que as pessoas com deficiências se sentem "ultrajadas", "um objeto", quando descobrem a fascinação por parte dos devotees, enquanto 21,43% acreditam que os deficientes consideram isso "normal" e 7,14% não sabem dizer como as pessoas com deficiência se sentem.

Grande parte deles (57,14%) considera as pessoas com deficiência "pessoas normais", "com algumas limitações", enquanto 35,71% acreditam que os portadores de deficiência são pessoas que "precisam de carinho", "atenção", "amizade" e "cuidados". Metade dos pesquisados tem se mantido informada sobre as questões de interesse das pessoas com deficiência, tais como direitos e acessibilidade, mas apenas 42,86% participam ou gostariam de participar do movimento organizado das pessoas com deficiência em defesa de seus direitos.

Praticamente todos (92,86%) afirmaram que ficariam "felizes" se um membro da própria família se sentisse também atraído por pessoas com deficiência. E embora ficassem "tristes", 64,29% disseram que fariam tudo para ajudar e apoiar um membro de sua família que tivesse uma deficiência, sendo que 21,43% agiriam "normalmente" se isso acontecesse e 7,14% se sentiriam "culpados".

Quase todos (85,71%) classificaram como sendo "ilegal", "condenável" e "um absurdo" o fato de que muitas das pessoas com deficiência não tenham autorizado o uso de sua imagem ou sequer tenham conhecimento da veiculação de suas fotos ou vídeos nos sites dirigidos a devotees. Apesar disso, todos os que responderam o questionário visitam esses sites, sendo que 71,43% sentem-se sempre excitados; 14,29% não se sentem excitados e 14,29% sentem-se eventualmente excitados. Quase todos colecionam (78,57%) fotos e vídeos de deficientes que foram obtidos via internet (42,86%) ou por outras formas (28,57%).

Conclusão
Conhecer os sentimentos, tanto dos devotees quanto das pessoas com deficiência, a partir de uma discussão desarmada sobre o assunto, é a melhor (e talvez a única) estratégia de que dispomos para compreender o devoteísmo e o que ele representa, ou pode representar, tanto para os devotees quanto para as pessoas objeto de seu desejo.

Fonte: Bengala Legal
Blog:deficiente ciente



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3 comentários:

  1. MEU DEUS FÊ ESTA EU N SABIA!

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  2. Nem sabia que isso existia, vixe. Acho que é uma pessoa como outra qualquer, se gosta pela pessoa, e não pela sua deficiência, eu heim é cada uma. Mas cada um no seu quadrado, fazer o que, gosto não se discute, apenas se lamenta.

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  3. Desde q não aja violência ou abuso seja consensual

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