Breno Oliveira abre sorveteria com 80% de colaboradores surdos e fatura R$ 900 mil
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A II Sordo foi indicada para o Prêmio Veja-se, na categoria Diversidade, e recebeu o certificado de excelência da TripAdvisor – avaliada com nota máxima
Breno Oliveira, 28, já enfrentou discriminação em entrevistas de emprego por ser surdo. Em 2016, resolveu abrir seu próprio negócio, uma gelateria artesanal em Aracaju (SE), que tem 80% de colaboradores com deficiência auditiva. A empresa é a II Sordo (O Surdo, em italiano) e, somente em 2021, faturou R$ 900 mil.
“Sempre fui minimizado nas entrevistas, parecia que não era capaz, muitas pessoas não aceitavam minha surdez”, relembra o empresário, que trabalhava como instrutor de Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Apoio da família
Com o apoio da família e orientado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Breno pesquisou iniciativas de empreendedorismo e se matriculou em um curso de produção de gelato italiano em São Paulo.
Após estudos de custo e investimento, abriu o negócio em Aracaju e apostou no diferencial de ser uma proposta para a acessibilidade e inclusão.
“Pessoas que vêm pela primeira vez sentem um pouco de vergonha. É o mesmo impacto que sentimos lá fora, mas aqui acolhemos essa diversidade. Os clientes sentem o acolhimento, perdendo o medo e aprendendo a se comunicar melhor com quem é surdo”, afirma.
A II Sordo foi indicada para o Prêmio Veja-se, da revista Veja, na categoria Diversidade, e recebeu o certificado de excelência da TripAdvisor – avaliada com nota máxima.
Inclusão
A gelateria tem hoje 11 trabalhadores com carteira assinada, e 9 (82%) são surdos. As duas pessoas ouvintes ficam na produção, enquanto as não ouvintes ajudam a produzir e operam o atendimento.
Além da matriz, a empresa tem dois outros pontos de venda na capital sergipana, e mais uma loja franqueada em Salvador, na praia da Barra. Tendo o gelato italiano como carro-chefe (preço inicial a R$ 11), oferece também tortas, doces, cupcakes, brownies, picolés e cafés.
Em 2019, antes da pandemia, a II Sordo chegou a faturar R$ 1,1 milhão. Após um 2020 de queda, atenuado basicamente por entregas em domicílio, o faturamento voltou a subir no segundo semestre de 2021 e fechou o ano em R$ 900 mil.
Primeiro emprego para surdos
Quando a loja se consolidou no mercado, Oliveira conta que passou a ser procurado com muita frequência por pessoas surdas em busca do primeiro emprego. As mensagens não paravam de chegar.
É o caso de Lenaldo Silva, 26. Após estágio de um ano como menor aprendiz, ele passou um tempo desempregado e conseguiu seu primeiro trabalho com carteira assinada na II Sordo. “Desde meu primeiro dia, me senti muito bem. E melhorei muito na minha vida, no meu comportamento. Ganhei mais confiança, e minha situação financeira melhorou também. Sou pai de um menino e tenho minhas responsabilidades”, diz ele, que está na empresa há quatro anos.
Ambiente inclusivo e educativo
Os cardápios e o balcão de pagamento na sorveteria são personalizados: há mais imagens e são mais interativos.
Há também uma TV na parede, onde é exibido vídeo em que se ensinam sinais básicos para pedir uma amostra de sorvete ou agradecer o serviço, por exemplo. “O surdo é muito visual”, declara Breno.
Foi exatamente a proposta do lugar que fez com que a psicóloga Renata Aragão, 29, conhecesse a iniciativa.
“Sou cliente desde o início e conheci a proposta por meio de amigos da universidade. O espaço físico é incrível, e o gelato é muito saboroso. O mais legal é que, quando cheguei, não sabia nada de Libras, e foi aí que comecei a aprender.”
*Com colaboração de Angélica Amorim, intérprete de Libras.
Fonte: UOL Economia
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