Nemu Lima interpreta clipes de sucesso, com maquiagem e figurino, em Libras

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 O intérprete já traduziu músicas de Juliette Freire, Luisa Sonza e Gloria Groove para pessoas surdas nas redes sociais

Imagem da mão de uma pessoa segurando um smartphone. Na tela, a foto da capa do vídeo da música A Queda de Gloria Groove, interpretada em Libras por Nemu Lima. Ele está maquiado com pancake branco, olhos com sombra preta, uma lente branca no olho esquerdo, e batom vermelho borrado na laterais. Os cabelos estão maquiados de forma ondulada e ele usa uma cartola preta, e sorri com a boca aberta, levantando o rosto para cima.

A empatia envolve três componentes básicos: o afetivo, o cognitivo e o regulador de emoções. Compreender o estado emocional do outro é um ato de generosidade. E, em 2007, ao ter o primeiro contato com pessoas surdas e com a Língua Brasileira de Sinais, Nemuel Lima exercitou a capacidade de se colocar no lugar do outro.

O jovem, então, começou a atuar em diversos contextos, mas o da arte foi o que mais o atraiu. “Sempre sonhei em fazer teatro musical: tinha essa coisa da Broadway muito presente, dos musicais da Disney, presente em mim. Eu tinha um sonho e abandonei. Fiz oficinas aqui e ali, mas nunca fiz um curso profissional”, lembra.

A maneira que ele encontrou para projetar esse desejo foi por meio da interpretação de canções para pessoas surdas. No entanto, Nemu foi criando formas de trazer as sensações provocadas pelas músicas e a performance de artistas para Libras.

Detalhista, Nemu Lima prepara a roupa, maquiagem e, em alguns casos, se esforça para criar um cenário parecido com o clipe original, como na canção A Queda, de Gloria Groove, e Bença, da vencedora do Big Brother Brasil 21, Juliette Freire.

Ele enfatiza que as músicas têm valores culturais diferentes, como na MPB, funk, pop e que, se vai interpretar uma obra específica, leva em conta os detalhes de cada estilo. “Para o clipe da Juliette, de Bença, me desloquei de João Pessoa, capital do Estado, até o sertão da Paraíba, em Cabaceiras. Encontrei um lugar que fosse seco, tivesse cactos, pedras, um espaço que tem um pôr do sol lindo e lá pensei que tinha tudo a ver com a música. Foi tudo pensado no arquétipo do sertanejo, da pessoa do interior. Dependendo do ritmo musical, a gente acaba adicionando elementos no vídeo para que o surdo, quando olhe, consiga identificar de onde a cultura está vindo”, explica.

O intérprete de Libras já teve a oportunidade de ter um retorno de internautas com deficiência auditiva que acompanham o trabalho dele nas redes sociais: “Quando um surdo chega pra mim falando que adorou, que quer conhecer mais o gênero musical, que quer ir a um show e que seja interpretado (para Libras), penso que consegui abrir uma porta de oportunidade para a pessoa surda, para que ela possa se ver respeitada em sua Língua como todo mundo”.

Segundo o IBGE, no censo de 2020, 5% da população do País é composta por pessoas surdas, o que corresponde a mais de 10 milhões de brasileiras e brasileiros. “Não é justo que um surdo vá para um show e não tenha acesso à música, que conecta e desperta emoção. Esta é uma missão que escolhi pra mim. Espero que as pessoas que assistam aos vídeos pensem o que podem fazer de diferente para acolher as pessoas surdas e pessoas com deficiência, que tipo de desconstrução temos que fazer para nos tornarmos pessoas mais justas”, diz.

Contato com os artistas

Sobre o contato com os artistas que já interpretou no Instagram, Nemu Lima explica que normalmente pesquisa a ficha técnica das obras e entra em contato diretamente com as produções. “A Juliette, por exemplo, saiu republicando nos stories dela a tradução em Libras. Essas pessoas têm milhares de seguidores que talvez nunca tenham ouvido falar em Libras, sobre arte acessível e essas pessoas, compartilhando, acabam atraindo pessoas para aprender sobre acessibilidade”, diz.

A Lei Brasileira de Inclusão (13.146), no capítulo 9, artigo 42, garante acesso à cultura, esporte e lazer e autoriza todo tipo de obra ser acessível e divulgada, de forma democrática, em plataformas digitais, sem que seja cobrado ingresso, por exemplo. O clipe mais recente que Nemu publicou no Instagram, da música Penhasco, foi comentado pela própria Luisa Sonza: “Maravilhoso!”, elogiou a cantora.

Nemu Lima já gravou músicas também de Pedro Sampaio, Zé Felipe e do cantor gospel Jessié. Mas não vai parar por aí. O intérprete de Libras tem mais planos: “Tá vindo Zé Felipe, Anitta, Pabllo Vittar. Depois que cumprir o ciclo de artistas nacionais, quero fazer uma série de artistas paraibanos, para que os brasileiros possam conhecer as canções que ecoam por aqui, e uma série de músicas infantis em Libras”.

Sobre oportunidades para pessoas com deficiência, Nemu dá o recado: “A gente acha que já conhece tudo da nossa vida. Quando a gente encontra o diferente, é desafiado a nos conhecer de novo, nossas habilidades, capacidades. Permitam-se conhecer, a cada novo nascer do sol”, finaliza.

Conheça o trabalho e siga Nemu Lima @nemu.lima.

Fonte: Camila Tuchlinski, O Estado de S. Paulo

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