Coquetel de crescimento ajuda a restaurar conexões da coluna vertebral em lesões mais graves
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Em 1995, o
falecido ator Christopher Reeve, que ficou famoso por interpretar o
Super-homem, ficou paralisado do pescoço para baixo após um acidente em um
cavalo. O impacto da queda o deixou com uma lesão completa na medula espinhal
do pescoço, impedindo que seu cérebro se comunicasse com qualquer membro ou
órgão abaixo dele. Ferimentos como os de Reeve são geralmente considerados
intratáveis, não há qualquer forma de preencher a lacuna deixada pela lesão e
restaurar as linhas de comunicação interrompidas
Quando
Reeve morreu em 2004, ainda não havia um modo de realizar a reconexão entre o
cérebro e o corpo. Agora, 14 anos depois, os pesquisadores conseguiram
influenciar as células nervosas para completarem a lacuna que divide uma lesão
completa na medula espinhal. Suas descobertas, descritas em 29 de agosto na
revista Nature, ocorrem com um tipo específico de células nervosas e ainda são
necessárias muitas pesquisas antes que um meio de reconexão chegue a quem
necessita do tratamento, mas de qualquer forma os resultados impressionam. “Do
ponto de vista científico, isso é bastante significativo”, diz Yu-Shang Lee,
professor assistente de medicina na clínica Cleveland no Instituto de Pesquisa
Lerner, que não esteve envolvido no estudo. “Houve um grande salto de impacto
científico”.
A lacuna
da medula espinhal completamente comprometida foi pesquisada em estudos com
ratos e camundongos. A equipe de pesquisa sabia que um certo tipo de célula
nervosa às vezes pode ajudar a restaurar a sinalização da medula espinhal em
uma lesão medular parcial. Mesmo quando todas as conexões diretas com o cérebro
estão arruinadas, essas células podem ajudar a conservar, de forma limitada, a
função de andar, diz Michael Sofroniew, professor de neurobiologia da
Universidade da Califórnia, em Los Angeles, um dos principais autores do
estudo. Ele e seus colegas apoiaram-se na ideia de que essas células, neurônios
proiospinais, poderiam fazer o mesmo se pudessem se transformar na área
completa da lesão das cobais. Então eles tentaram fazer com que essas células
estendessem suas fibras de condução elétrica, os axônios, para a brecha
espinhal.
O primeiro
esforço dos cientistas falhou. Eles tentaram amortecer a atividade de um gene
chamado PTEN porque o membro funcionou bem com alguns outros tipos de neurônios
não espinhais. Para sua surpresa, essa estratégia não teve sucesso com as
células propriospinais. Eles então se voltaram para um conjunto de substâncias
químicas que promovem o crescimento das células nervosas e desencadeiam a
produção de uma proteína estrutural conhecida, chamada laminina, e amplamente
utilizada na engenharia de tecidos como um suporte. Alguns desses produtores de
crescimento são ativos no desenvolvimento embrionário, os adultos geralmente
não os produzem. Esforços anteriores para persuadir os axônios a preencher a
falha na lesão usando apenas os chamados fatores de crescimento não deram certo
– falhas atribuídas a outros produtos químicos inibitórios atrapalharam o
caminho.
No estudo
atual, o sucesso veio da disposição desses produtos químicos aos neurônios
propriospinais, usando laminina como material de suporte, em conjunto com iscas
químicas que atraem os axônios de regeneração para o lugar certo. A equipe
finalmente influenciou o que um dos principais autores do estudo – Mark
Anderson, neurobiólogo da Escola Politécnica Federal de Lausanne e da UCLA –
chama de “uma quantidade sem precedentes” de fibras de neurônios para preencher
a lacuna. Os axônios, além disso, eram totalmente capazes de transmitir os
sinais elétricos que os pesquisadores introduziam na brecha espinhal. “Agora
entendemos o que é preciso”, diz ele, referindo-se aos três fatores de
crescimento do axônio, laminina e produtos químicos que serviram como “iscas”
colocados ao longo do caminho para atrair o axônio. Um objetivo de longo prazo
decorrente desses resultados é descobrir como tomar seu complexo protocolo de
três partes e torná-lo algo útil para o atendimento ao paciente.
Sofroniew,
no entanto, ainda expressa cautela ao falar sobre tratamentos concretos. Este
estudo, diz ele, é um primeiro passo, uma demonstração de que a abordagem em
três frentes poderia funcionar. Também é provável que o protocolo que eles
criaram para os neurônios propriospinais não se adapte a outros tipos de
neurônios que compõem a medula espinhal. Da mesma forma que as primeiras
técnicas usadas nos neurônios propriospinais não funcionaram, “eu suspeito
muito que possamos precisar de diferentes combinações, ou combinações de coisas
diferentes, para populações diversas de neurônios”, diz ele. Os neurônios
envolvidos no estudo “serão capazes de restaurar certas funções, como o
caminhar, mas talvez não outras”, observa ele. “Vamos ter que ver.”
Preencher
a lacuna é realmente apenas o começo. Os axônios regenerados precisam se
comunicar com os caminhos ao redor da lesão de modo que o tráfego, que consiste
em sinais do cérebro e da medula espinhal, flua através das conexões
restauradas no local da lesão. Os pesquisadores sugerem que a maneira de
restaurar esse fluxo é através de uma reabilitação voltada para os novos
axônios gerados pela exposição ao protocolo criado.
A
necessidade de reabilitação foi sinalizada pela constatação de que os animais
em seu estudo não tiveram suas habilidades de locomoção repentinamente
restauradas logo que os axônios preencheram a lacuna da lesão. A reabilitação
implica no treinamento de axônios recém-regenerados para executar novas
tarefas. Anderson compara o processo com uma criança aprendendo a andar. “Um
bebê não se levanta e anda espontaneamente”, diz ele. Assim como para alcançar
os primeiros passos da criança, a reabilitação “requer treinamento, repetição e
o envolvimento desses axônios em regeneração.
A
reabilitação pode assumir muitas formas, diz Sofroniew, desde a simples
repetição de movimentos com o apoio de um terapeuta, até o uso da ativação
eletrofisiológica e treinamento de movimentos. O próximo passo planejado pela
equipe é usar o protocolo de reparo da lesão medular e combiná-lo com
diferentes tipos de reabilitação.
Descobrir
os protocolos necessários levará tempo. “Muito trabalho precisa ser feito antes
da aplicação clínica”, diz Lee, da clínica de Cleveland, e a junção dos axônios
reparados e a reabilitação deles deve ser considerada “não importa o tipo de
estratégia de reparo utilizado”.
“Como
campo de pesquisa, estamos apenas começando a entender como favorecer o
procedimento com uma reabilitação adequadamente direcionada”, observa
Sofroniew. Agora, sua equipe quer “se possível, com o treinamento de
reabilitação, restaurar o sistema inteiro”.
Emily
Willingham
Fonte:
Scientific American Brasil
http://serlesado.blog.br/coquetel-de-crescimento-ajuda-a-restaurar-conexoes-da-coluna-vertebral-em-lesoes-mais-graves/
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