Na cadeira de rodas, mulheres mostram o poder da "Dança do Ventre Sem Limites''
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Independente da
deficiência e do nível de mobilidade, elas encontraram a chave para uma
autoestima mais saudável pela dança
Primeiro grupo de dança do ventre de mulheres com deficiência da Capital mostra que arte empodera. (Foto: Kimberly Teodoro). |
Com o apoio da
professora e terapeuta ocupacional Lisa Lima, as bailarinas Ana Serpa, Eline
Pinheiro, Marília Oliveira, Mirella Ballatore, Flávia Pieretti e Suzana Vieira
inspiram e incentivam umas às outras diariamente. Elas fazem parte do
primeiro grupo formado por mulheres com deficiência em Mato Grosso do Sul no
projeto "Dança do Ventre Sem Limites", que começou há 2 meses.
Flávia Pieretti, 40
anos, pensou na atividade porque sempre viu a dança como uma oportunidade de
luta e empoderamento da mulher com deficiência. “Devido a condição, vulnerabilidade
e preconceitos que enfrentam desde a infância. Em muitos casos essas mulheres
têm a autoestima baixa".
A disponibilidade da
professora Lisa Lima, 40 anos, foi essencial para colocar as meninas para
dançar. "Como ela é terapeuta ocupacional, já atendia mulheres
com algum tipo de deficiência. E eu conversei com ela sobre esse sonho que
tinha, de que realmente a música poderia contribuir para a autoestima
de mulheres com deficiência, escrevi o projeto e ela concordou. Nós finalizamos
juntas e desde então ela é voluntária na sede da Assossiação de
Mulheres com Deficiência Física e nos ensina uma vez por semana",
conta Flávia.
Uma apresentação de
Eline Pinheiro Palhano, 46 anos, que já é aluna de Lisa há 1 ano, foi a
inspiração para o projeto. Ela está atualmente afastada do grupo por motivos
de saúde,
mas já faz planos para o retorno aos palcos. A poliomielite a colocou na
cadeira de rodas, e o desafio a partir dali sempre foi reforçar o emocional.
"Tinha uma depressão muito forte e fazia tratamento com psiquiatra e
psicólogo, foi aí que tive a ideia de começar a fazer dança com ela. Me achava
feia, emagreci muito com a depressão e a Lisa me ajudou. Mais que uma
professora, ela é uma amiga, há muito tempo.
Hoje me vejo mais bonita, cuido mais do meu cabelo, do meu corpo. Também tem as
amizades que fazemos lá, não é apenas uma escola de
dança, é uma família".
Na relação das alunas
com a professora existe um laço de confiança mútua em que a capacidade de
aprender umas com as outras é renovada a cada semana. Quando questionada sobre
as aulas Ana Serpa, paratleta brasileira de tiro esportivo, não esconde a
admiração. “A Lisa tem muita sensibilidade, ela como tem muita experiência
nessa área da dança do ventre, além de desenvolver a coreografia, presta muita
atenção nas necessidades de cada uma, por essa questão de deficiência, a
professora faz algumas mudanças e adaptações para que de alguma forma todas se
sintam bem”.
A apresentação de Eline
Pinheiro motivou a criação do grupo de dança (Foto: Acervo Pessoal).
Desde o começo, a
professora de dança leva em conta a mobilidade de cada aluna. "Desenvolver
a coreografia é um processo. Estamos nos descobrindo e o espetáculo mostra que
elas são capazes, que cada uma pode o que quiser, mesmo com limitações",
afirma Lisa, que diz aprender muito também. "Eu saio das aulas e digo que
elas estão me ajudando, que aprendo a renovar a alegria de viver com elas
durante o tempo que passamos juntas".
O grupo tem feito cada
vez mais apresentações desde que os ensaios começaram. Para Suzana Vieira
cada apresentação “é um turbilhão de emoções". Ela diz que antes de subir
a maior expectativa é sobre a reação do público, particularmente, em relação
aos cadeirantes. "Os deficientes físicos são vistos como um tabu,
eles não podem sair, não podem se arrumar, não podem namorar, não podem dançar,
eles precisam ser dependentes de alguém. Quando mostramos que nós não somos
dependentes, as pessoas começam a nos enxergar de outra forma. Aí tem o
preconceito, tem os maus comentários, mas também tem as outras coisas que
tiramos disso. A dança é também uma maneira de resistir.”
Com o rosto iluminado
pela alegria de estar ali, Ana complementa a fala da amiga Suzana, deixando
claro que elas pretendem mostrar que toda mulher consegue. "A arte de
viver, a vida é só uma e passa rápido, é difícil, mas todas nós podemos. É um
dia de cada vez”.
Flávia ressalta que o
importante "é a participação ativa dessas mulheres, nos eventos, nos
seminários que realizamos, convidando outras mulheres e empoderando outras
mulheres. Fazemos rodas de conversa com mulheres com deficiência, falamos de
temas diversificados para que realmente essas mulheres se sintam plenas na
sociedade, não se sintam nem um pouco diminuídas, não se sintam desvalorizadas,
são mulheres com todos os direitos capazes de viver uma vida plena”.
A previsão é que no mês
de dezembro o grupo realize um espetáculo inédito em Campo Grande, com cerca de
10 apresentações de danças diferentes. O grupo está em busca de patrocínio e
paralelamente organiza ações para ajudar no custo das roupas, maquiagem e
ampliar a participação em eventos.
O projeto está aberto
especialmente para mulheres com deficiência. Para participar é necessário fazer
parte da AMDEF e, para isso, basta procurar a presidente da associação de
mulheres com deficiência, Mirella Ballatore. Existe uma taxa de contribuição
voluntária em que o valor é estipulado por cada associada para apoiar as ações
e participações em eventos, impressões de documentos entre outras atividades.
Convites para
apresentações também podem ser feitos pela página da AMDEF no facebook ou em contato direto com a própria Mirella
Ballatore, pelo número de whatsapp:
67 9226-0661.
A
apresentação de Eline Pinheiro motivou a criação do grupo de dança (Foto:
Acervo Pessoal).
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Flávia
Pieretti, é uma das idealizadoras do projeto Dança do ventre sem limites.
(Foto: Kimberly Teodoro)
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Fonte: Campo Grande News
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