Após acidente, enfermeira obstetra acompanha partos em cadeira de rodas
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Melissa ao lado de parturiente durante contrações (Foto: Juliana Matos) |
O dia 15
de outubro de 2016 ficará para sempre marcado para a enfermeira obstetra Melissa
Martinelli, 39. A caminho de mais um plantão,
ela sofreu uma acidente com a moto que pilotava. Assim que era socorrida pela
ambulância do Samu, percebeu que havia algo errado: já não sentia mais as
pernas. Assim que ouviu do médico que não voltaria mais a andar, Melissa, que é
mãe de dois, só pensava em duas coisas: “Como ia entrar na igreja com meus
filhos quando eles casassem e como atenderia o parto das minhas gestantes”,
relata a enfermeira obstetra que há 11 anos atende gestantes. Ela conta que receber o diagnóstico, perdeu o chão. “Aquela notícia
tirou minha alma, foi como se a minha alma tivesse saído do meu corpo. Eu só
chorava e o meu médico falava para eu ficar calma, que conseguiria trabalhar
atendendo pré-natal, mas não é o que queria. Senti que morri nesse dia”, conta.
Foram
19 dias de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e mais 32 dias internada no
hospital para iniciar o tratamento de reabilitação. Ela conta que enquanto
esteve hospitalizada, toda a reabilitação foi feita voltada para que ela
pudesse atender partos o mais rápido possível.
E
assim foi feito. Três meses após o acidente, ela voltou a atender suas
pacientes. “Primeiro acompanhei alguns partos com a minha sócia, que é uma
grande parceira, irmã de alma e que muito me ajudou até que estivesse pronta
para atender o primeiro parto sozinha sendo a parteira principal”, diz Melissa.
A
enfermeira obstetra conta que não foi nada fácil chegar até aqui. Foi
preciso muita mudança em toda a sua rotina. “Tudo mudou. Precisei me reinventar
ao me ver em uma cadeira de rodas. Tive que adaptar o meu carro para dirigir,
meu consultório, minha casa, e também me readaptar para acompanhar os partos.
Também não ando mais de moto, que era o meu lazer, e tive que me adaptar na
academia pois agora uso os aparelhos de forma diferente.”
Melissa
também faz fisioterapia diariamente, acupuntura e tratamento com uma psicóloga
que, segundo ela, tem ajudado muito a superar as dificuldades e fraquezas que
muitas vezes aparecem. “O mais difícil também foi saber que eu não
poderia estar de pé para abraçar meus filhos e meu marido e que não poderia
mais segurar de pé minhas pacientes quando elas precisassem”, diz Melissa, que
é mãe de Rayssa, 21, e Taoã, 10. “Tem momentos que fico pensando que podia ter
passado mais tempo com minha família, difícil pensar que podia ter feito mais
antes do acidente”, relata, emocionada.
Melissa,
que mora em Brasília (DF), atende partos domiciliares e trabalha na casa de
parto São Sebastião, que atende pelo SUS (Sistema
Único de Saúde). Ela também é uma das proprietárias da Casa Humaniza, uma casa
de parto particular que funciona na cidade.
Apesar dos
médicos não darem muita esperança sobre se vai voltar a andar, a parteira não
perde as esperanças. “Alguns médicos falaram que só o tempo poderá dizer se
voltarei a andar, que é um processo, que leva tempo. Tenho muita fé e acredito
que vou voltar a andar. Sou a menina dos olhos de Deus e ele não pisca para
mim”, afirma.
Melissa diz
que todos os dias após o acidente têm sido um aprendizado. “Só sabemos como
somos fortes quando precisamos ser fortes. Aprendi que a resiliência é o ato de
se transformar, de se reinventar diante de um forte trauma, a ter paciência e é
isso que busco dia a dia”, diz.
Sorridente
e com uma força que sabe lá de onde vem, Melissa diz que não vai desistir de
seus sonhos. “Deus não coloca algo impossível dentro do seu coração que ele não
consiga realizar. O universo dá o que a você atrai. Ninguém deve desistir de
seus sonhos”, diz a parteira. Ela é enfática e tem uma única certeza nessa
vida: “vou voltar a andar. Levar meus filhos de pé até o altar e ainda vou
ajudar muita gestante a agachar no parto”, diz a parteira.
Melissa voltou a atender partos três meses após acidente (Foto: Felliane Almeida) |
Fonte: Ser Lesado
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