Deficientes visuais do Porto criam tradução tátil de um quadro
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Reprodução em quatro painéis táteis em
gesso vai permitir “ver” obra Fons Vitae.
Alunos da Escola Comércio do Porto e
deficientes visuais, do curso de operadores gráficos de braille da Santa Casa
da Misericórdia do Porto (SCMP) estão a criar uma tradução tátil do quadro Fons
Vitae que preveem concluir em abril.
A reprodução em quatro painéis táteis em
gesso, que vai permitir aos deficientes visuais “ver” a obra do século XVI
exposta no Museu da Santa Casa, nasceu, segundo a diretora da escola Ana
Mestre, “de uma proposta lançada por uma docente”, no âmbito das escolas
solidárias da Fundação EDP.
“Este projeto vai permitir dar informação
cultural a outro tipo de públicos”, disse à Lusa Ana Mestre sobre a iniciativa
da professora Teresa Mendes que, na escola profissional onde leciona, envolveu
alunos provenientes do ensino secundário, com idades entre os 16 e 19 anos.
Teresa Mendes explicou que na colaboração
com o grupo de invisuais está a ser feita a “sintetização de uma proposta de
quatro painéis de acessibilidade gradual à informação que a pintura quer
transmitir, sendo que os três primeiros são uma desconstrução do último”.
“Adotar esta metodologia de acessibilidade
gradual é importante”, frisou a docente sobre a interação com os formandos do
Centro Integrado de Apoio ao Deficiente (CIAD) da Santa Casa, procurando
privilegiar as texturas escolhidas por estes em detrimento de outras que para
eles “possam constituir ruído”.
Ao todo, serão utilizadas “nove texturas
para representarem aspetos como o metal, a pedra, o sangue, o cabelo, a nuvem
ou o céu”, acrescentou, reiterando que as escolhas partem sempre dos
“operadores gráficos de braille do CIAD” que, ao receber as propostas, “avaliam
se se assemelha ao que imaginam está representado no quadro”.
Para a coordenadora do projeto Diana
Monteiro esta iniciativa “melhorou a sensibilidade de alunos” que vêm de
“percursos escolares complicados” e cujo nível de envolvimento, acrescentou a
professora Teresa Mendes, fez até que “a turma traduzisse de inglês para
português o dossiê para a preparação dos painéis”.
O projeto dura desde novembro de 2016 e
decorre em horário escolar, representando para Ana Mestre “muita aprendizagem”
para uma instituição com “tradição de trabalho na área da inclusão”.
Tiago Vidinha é um dos “consultores” que
semanalmente “interpreta as texturas” que os alunos partilham com os formandos
operadores gráficos de braille, tendo afirmado à Lusa ser este “um projeto de
enorme importância”.
Considerando a obra Fons Vitae “muito
importante”, o jovem lembrou que “quem a vê consegue-a interpretar”. E
acrescentou: “nós, os cegos, para lá chegarmos, será sempre a partir de
outros”.
“Estamos a dar a nossa opinião sobre como
ficaria melhor o quadro, quais são as texturas mais indicadas”, disse Tiago
Vidinha sobre um projeto que “está a correr muito bem e que, com este
desenvolvimento, está a ficar uma obra muito boa”.
Segundo Ana Mestre, uma vez concluída, “a
obra ficará exposta no museu da Santa Casa, pois a ideia é que possa ser
visitada por turistas com estas características ou por outras pessoas”.
Fonte: CM Jornal
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