Brasil tem 13 milhões de pessoas com doenças raras, diz pesquisa
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Há estimados 13 milhões de pessoas com doenças
raras no Brasil, número superior à população da cidade de São Paulo, informa
pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela Interfarma (Associação da Indústria
Farmacêutica de Pesquisa), em um seminário sobre o tema realizado na capital
paulista.
O estudo diz ainda que diante da falta de uma
política nacional para lidar com esse tipo de doença - cujo conceito, ainda que
não seja unânime, é de doenças que atingem uma parcela pequena da população -,
pessoas afetadas muitas vezes têm dificuldades em obter o tratamento adequado
ou precisam recorrer à Justiça para ter acesso a medicamentos.
Entre as doenças raras estão males como a esclerose
lateral amiotrófica (doença degenerativa dos neurônios motores), o
hipotireoidismo congênito, a doença de Pompe (mal genético que causa
hipertrofia cardíaca na infância), a fibrose cística do pâncreas ou do pulmão e
até mesmo a doença celíaca (intolerância ao glúten).
Estima-se que haja 7 mil doenças raras
diagnosticadas, sendo 80% delas de origem genética. Outras se desenvolvem como
infecções bacterianas e virais, alergias, ou têm causas degenerativas. A
maioria (75%) se manifesta ainda na infância dos pacientes.
"Se individualmente atingem um número restrito
de pessoas, em conjunto elas afetam uma parcela considerável da população mundial
– entre 6% e 8%, ou 420 milhões a 560 milhões de pessoas", diz o
levantamento.
"O desafio é considerável, levando-se em conta
que 95% das doenças raras não possuem tratamento e dependem de uma rede de
cuidados paliativos que garantam ou melhorem a qualidade de vida dos
pacientes."
'Barreiras'
No Brasil, pacientes com doenças raras enfrentam
"diversas barreiras" para conseguir tratamento especializado e
medicamentos, afirma a Interfarma. Como não existe uma política integrada de
tratamento desses males, o atendimento ocorre de forma "fragmentada",
na opinião da associação.
Dados do Ministério da Saúde citados pelo estudo
apontam que há 26 protocolos clínicos para doenças raras no âmbito do SUS
(Sistema Único de Saúde) - esses protocolos são a "porta de entrada"
para a assistência para doenças raras na saúde pública.
O Ministério contabiliza 45 medicamentos,
tratamentos cirúrgicos e clínicos para doenças raras, 70 mil consultas
realizadas e mais de 560 procedimentos laboratoriais para tratamento e
diagnóstico, a custos de mais de R$ 4 milhões por ano.
Mas, segundo a Interfarma, além de algumas doenças
não estarem inseridas em nenhum protocolo, apenas um dos 18 protocolos (o da
doença de Gaucher, mal em que restos de células envelhecidas se acumulam sobre
órgãos como fígado, baço e medula óssea), prevê o uso de "drogas
órfãs", que são medicamentos específicos para doenças raras ou
negligenciadas.
Com isso, muitos pacientes do SUS acabam tendo
acesso apenas a medicamentos paliativos, "que amenizam os sintomas das
doenças, mas não interferem em sua evolução".
Interfarma
O estudo contabiliza 14 doenças raras que têm
medicamentos órfãos já registrados na Anvisa (agência de vigilância sanitária)
e comercializados no país, mas não disponíveis no SUS. Muitos pacientes
recorrem então à Justiça, numa espécie de "corrida de obstáculos"
para obter o tratamento adequado.
Segundo o estudo, "o fato de o Brasil não
possuir uma política oficial específica para doenças raras não significa,
porém, que os pacientes não recebam cuidados e tratamento. Os medicamentos
acabam chegando até eles, na maioria por via judicial. E o SUS, de uma maneira
ou de outra, atende essas pessoas – porém, de forma fragmentada, sem planejamento, com
grande desperdício de recursos públicos e prejuízo para os pacientes".
Outro problema é o déficit de geneticistas para
desenvolver pesquisas a respeito e o fato de a maior parte dos centros de
estudo de doenças raras se concentrarem apenas nas áreas mais ricas do Brasil.
Nos cálculos do estudo, faltam ao país 1800
geneticistas.
"Faltam pesquisas e informações sobre essas
doenças; os profissionais da área carecem de treinamento e capacitação – o que
compromete ou retarda o diagnóstico – e, muitas vezes, o próprio sistema de
saúde não oferece meios para que seja realizado a tempo."
Fonte: BBC Brasil
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