Dr Scott Rains é entrevistado por Wenya Figueiredo - estudante de Mossoró
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Através
de um projeto chamado "Intercâmbio Online" realizado com a Professora
Martha Cristina Maia, a estudante nordestina Wenya Figueiredo conheceu Dr Scott
Rains, um dos maiores nomes do Turismo Acessível Mundial e o entrevistou:
1) Quais foram os maiores conflitos em sua vida?
Como jovem foram dois:
- Uma
vez foi no primeiro dia de aula depois do natal, um moço me atacou com um
canivete, eu estava com meu irmãozinho caminhando pela escola, ele e o
irmãozinho dele seguiam atrás de nós fazendo um bullying com palavras (eles
eram duma outra escola e nossos uniformes nos identificavam como católicos e esse era o motivo da agressão). Mandei meu
irmão ignorar o bullying. Em certo ponto ouvi um som como um assovio, meu irmão
pode ver minhas costas e gritou:
- “Scott, ele tem faca e cortou seu casaco
novo!”
Foi minha mãe que fez de presente
de natal para mim.
Mandei meu irmão Jeff correr até a escola sozinho e eu
fiquei para proteger meu irmão dum ataque deste covardinho. Assim que o Jeff
ficou seguro com distância virei e meti o soco no queixo dele, ele ficou tonto,
deixou cair o canivete que joguei na rua. Ele gritava de choque e medo, eu
estava com tanta raiva dele ameaçar meu irmão e arruinar o presente feito com
amor pela minha mãe que lembro que tive que resolver não empurrá-lo através da
janela de vidro gigante da loja ao nosso lado.
-Outra vez, numa casa atrás da
minha, morava um moço que também fazia bullying, era mais jovem e menor que eu
então sempre o ignorava. Eu sabia que
ele vinha de família onde o pai bebia demais e a mãe dele não era capaz de
protegê-lo bem, ele se chamava Billy, mas um dia ele faz algo que não aguentei,
do pórtico da casa dele saiu com rifle tipo de caçar veado no meu estado.
Apontou para mim. Ameaçou matar-me.
Naquela época, com 10 ou 11 anos já tinha
bastante experiência com armas caçando com meu pai e praticando na carreira de
tiro. A norma fundamental na minha ética foi nunca apontar arma a um ser
humano. Não fiquei com medo dela, ao contrário fiquei com tanta raiva dele como
se fosse uma criança mal comportada que eu teria que disciplinar. Em vez de
fugir corria até ele que ficou surpreso demais, tirei o rifle dele e joguei no
quintal vizinho. Então bati nele até ele chorar e dizer:
-“Pare, você está me
matando!” Não foi o pedido dele que me convenceu a parar, foi o fato que já
tinha arrastado ele até o meio da rua para o humiliar e o carro veio. Pouco
depois a família saiu da casa e nunca voltou a vizinhança. Essa foi a ultima
briga fisica da minha vida.
Com 17 anos tive um conflito grande, pois como a
maioria dos conflitos da vida adulta foi interior e moral.
Com 12 anos de
idade notei que minha mão esquerda estava enfraquecendo, os médicos eliminavam
várias possibilidades, até que com 17 anos, descobriram um tumor, de cancer na
minha coluna dorsal. Explicaram-me que o câncer dos nervos foi um tipo muito
agressivo e que quase tinham certeza que não existia cura e para verificar isso
precisariam fazer uma biopsia. Eu não queria porque teriam que me abrir
exatamente no mesmo lugar nas costas da cirurgia do ano anterior e doía demais
e também não queria porque eles explicaram que a biopsia ia me deixar
paralítico. Aceitei a ajuda deles e fizeram a cirurgia, Tinham razão fiquei
paralisado. Paralisou-me numa
quinta-feira em novembro e no domingo anterior fui hotel pousadas aprovado como
instrutor de esqui na neve.
2) Quais os conflitos que você já encontrou no
Brasil?
Os conflitos foram vários: Fui estudante de intercâmbio de colégio no
Rio de Janeiro durante a ditadura, quando ainda podia andar. Por isso ganhei
uma bolsa de estudos para a Universidade de São Paulo depois de virar
cadeirante. Para preparar os estudantes universitários tinham um curso especial
durante o Festival de Arte de Inverno, naquele ano foi em Ouro Preto em Minas
Gerais. Imagine cadeira de rodas nas ruas de pedra portuguesa subindo os mil
morros da cidade colonial dos Inconfidentes e do Aleijadinho. Meus conflitos
foram com o ambiente e uma noção de construção que não dava conta das pessoas
diferentes. Enfim, na USP, a gerência recusou me acomodar como cadeirante e
tive que voltar para casa nos EUA. Fiquei longe do Brasil por quase 20 anos.
Agora faço com que isso não aconteça a ninguém e por isso que sou fã da sua
professora Marta e amigo de todos vocês que aprendem com ela sobre o que é
justiça para os que são diferentes e prejudicados de qualquer maneira.
3) Como
voce vê a sua imagem sendo o sr. Scott Rains ?
Bom, como jovem tive a vergonha
típica de adolescente, não fui considerado forte, nem bonito e sim meio
inteligente. Rsrs, agora na última reunião da minha classe de colégio todos
ficaram com ciúmes da minha educação, publicações e oportunidades de viajar
pelo mundo inteiro. Como surpesa as mulheres da classe votaram em mim como o
mais lindo dos homens. Mandei-as ir para o oftalmologista – mas gostei da
atenção.
4)Fale um pouco sobre a inclusão das pessoas com deficiência em seu
país .
No meu país temos uma grande tradição de identificar uma injustiça e
como um povo lutar contra ela. Na década 1970, nós pessoas com deficiências
aprendemos e ganhamos o apoio dos norte-americanos negros para a nossa
libertação. Seguimos o exemplo do grande Dr. Martin Luther King Junior.
Aprendemos com uma verdade que se encontra no evangelho – somos uma comunidade.
A libertação do indivíduo não está em ser totalmente independente, mas em se
domar a ser “interdependente” – respeitar aos outros como se respeita a si
mesmo.
5)Qual sua opinião sobre esse trabalho da professora Martha entre alunos
de escola pública com Scott Rains?
Adoro o trabalho da professora Martha, a
criatividade dela me encanta, ela é uma fonte de ideias, histórias, projetos e
sorrisos lindos. Ela aprendeu como poucas pessoas tem a coragem de aprender a
amar o corpo dela e usar a diferença para revelar a beleza do que é um ser
humano.
6) Deixe uma mensagem para os jovens.
Amigos e amigas, vocês vão
encontrar um mundo diferente desse em que eu vivi. Isso é muito bom! Vêm
oportunidades econômicas ao nordeste e influências culurais por todas partes do
mundo. Não se esqueçam do que é ser nordestino e nem da música, comidas e
valores humanos que são seus. Estudem bem para se preparar para as mudancas que
vêm e se acontecer de algum dia uns de vocês mudarem para outra região ou fora
do Brasil levem com vocês o orgulho de ser Braslieiro e Nordestino. Ao mesmo
tempo que tomam conta da justiça para nós com deficiências físicas, sensoriais
como cega ou surda, ou intelectuais como síndrome, lembrem-se do seu meio
ambiente único e frágil. As mudanças no clima vão levar mudanças boas e más
para sua região. Sempre escolha o que melhore e cicatrize o nosso planeta. Entrevista realizada por Wenya Vanessa Alves
Figueiredo, estudante do Colégio Evangélico Leôncio José de Santana, em Mossoró
-RN e aluna da professora Martha Cristina Eleurério Maia.
Wenya Figueiredo |
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