Rede brasileira de empresas atua há 10 anos para tornar os ambientes corporativos mais inclusivos

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Por Sergio Gomes

Uma importante entidade para as pessoas com deficiência no Brasil é REIS (Rede Empresarial de Inclusão Social). Sua história começa quando, em 2 de maio de 2012, o 26º Fórum de Empregabilidade Serasa Experian reuniu mais de 60 empresas e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), lançando um desafio: a criação de uma rede nacional de empresas em prol da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A partir deste desafio, sob a liderança do sociólogo João Ribas, e com a chancela e o reconhecimento da OIT, foi criada a Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS) a partir do esforço voluntário de empresas que valorizam e estimulam políticas e práticas de Inclusão Social e Diversidade. Estas empresas fundadoras da REIS foram: Abril, Accenture, EY, GTCON, IBM, Magazine Luiza, Natura, Oi, RD, Serasa Experian, TozziniFreire e Via Varejo (na época, uma empresa do GPA).

Atualmente, com 10 anos de atuação consistente, a REIS se fortaleceu e conta com a adesão de mais de 100 empresas sendo que, deste total, 50% são signatárias do Pacto pela Inclusão REIS-OIT e 14 integram o grupo diretor. São elas: Accenture, Arcelor Mittal, Atento, Belgo Bekaert, Carrefour, EY, JLL, Microsoft, Natura, RD, Serasa Experian, Sodexo, TozziniFreire e 3M. O movimento colaborativo conta com um governança estruturada: Conselho de CEOs, Grupo Diretor, Grupos de Trabalho e uma Secretaria Executiva que é realizada pelo Instituto Modo Parités. Conheça melhor o movimento: https://www.redeempresarialdeinclusao.com e faça o download das publicações sobre Inclusão e Acessibilidade.

A nossa entrevistada nesta reportagem é Aline Messias, da Natura, uma das empresas fundadoras e integrantes do Grupo Diretor da REIS, que também estará presente na cerimônia de comemoração do aniversário de 31 anos da Lei de Cotas.

Câmara Paulista: Você poderia nos falar um pouco sobre a REIS?

Aline: A REIS é a rede empresarial de inclusão social pela empregabilidade da pessoa com deficiência. Essa rede foi fundada por uma pessoa com deficiência, o João Ribas, e também por isso tem um significado muito especial para nós. A REIS tem vários papéis: a gente tem o papel de promover a inclusão nas empresas, então ela tem várias empresas que se conectam com a REIS. E também tem alguns papéis fora do ambiente de trabalho, com o lema “Nada sobre nós sem nós”, que propõe trazer a participação ativa de pessoas com deficiência, a defesa da Lei de Cotas e também da educação inclusiva. A gente como rede, aí eu falo muito como rede porque eu trabalho na Natura, e como membro diretor eu participo de REIS, então a gente traz esse posicionamento dentro do nosso LinkedIn, Facebook. A provocação que queremos fazer, no sentido positivo, é sempre convidar as empresas para falar sobre pessoas com deficiência, a inclusão verdadeira de pessoas com deficiência.

Câmara Paulista: Você poderia nos contar um pouco da história da REIS?

Aline: A REIS foi criada em 2012. Quem criou a REIS foi João Ribas, ele era membro diretor, ele era uma pessoa com deficiência. Ele trabalhou por muito tempo na Serasa Experian, liderava a área de inclusão lá, e aí ele sentiu essa necessidade de trazer a voz da pessoa com deficiência dentro das empresas e o movimento foi crescendo. O João Ribas faleceu em março de 2014. Ele teve um papel muito importante de trazer as pessoas como deficiência para o mercado de trabalho, estabeleceu este legado com vínculo e significados tão fortes que ainda hoje une as pessoas em torno do nosso propósito. Hoje a REIS tem mais de 100 empresas parceiras, 14 empresas são do grupo diretor. Então, a gente trabalha com duas frentes, uma é o grupo diretor, onde tem reuniões uma vez por mês, quando definimos as ações, seja um evento, seja um debate e diálogo. Tem empresas de vários setores e até empresas que são concorrentes no negócio, mas que estão dentro da REIS dando relevância para esse tema da inclusão pessoa com deficiência. Nas reuniões do grupo diretor, que acontecem todo mês, conversamos sobre vários temas, estratégia, posicionamento, comunicações, tudo é o grupo diretor que direciona. As empresas signatárias (mais de 50) do Pacto REIS-OIt, fazem parte [da REIS], têm benefícios e responsabilidades, podem contribuir e dar sugestões mas não participam da tomada de decisões. É um movimento que fez dez anos de REIS e a cada dia vai crescendo mais. De fato, busca trazer as pessoas com deficiência não só pela Lei de Cotas, mas para trazer e contar com a nossa voz.

Câmara Paulista: Quais são as pautas que você percebe, pela sua vivência na REIS, que estão sendo negligenciadas?

Aline: Uma das pautas que a gente levanta muito aqui é de fato a lei de cotas foi uma grande conquista, falando como Aline, pessoa com deficiência, mas temos muito o que evoluir porque ainda tem muitas empresas que não contratam o mínimo da Lei de Cotas. Ainda assim, eu vejo como um avanço. As empresas precisam entender que pessoa com deficiência trabalha, enfim. Outro tema que a gente sempre levanta aqui é Nada sobre Nós sem Nós. É, de fato, a pessoa com deficiência estar na tomada de decisão, estar incluída no mercado de trabalho, estar no ambiente de diretoria, no ambiente de liderança. Porque hoje a grande massa de pessoas com deficiência ainda está, quando a gente olha as empresas, está em nível operacional. Por que a gente não tem essa representatividade? Mas há várias coisas que a gente precisa avançar quando se trata de pessoa com deficiência que é a Educação, ter uma Educação Inclusiva para todos. Então é o que eu falo sempre, a minha deficiência ela é Paralisia Cerebral, mas a minha deficiência é motora. Eu não tive muitas adaptações ao longo da minha trajetória. Já quando eu encontro um amigo que é tem deficiência visual, ele precisa de uma adaptação, de materiais acessíveis para adquirir o conhecimento e a formação, e hoje a Educação não ajuda, não tem esse suporte.

Câmara Paulista: Você pode fazer uma análise de como a lei de cotas ajudou na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho?

Aline: A lei de cotas é uma conquista enorme. Eu mesma, se não tivesse a lei de cotas, como seria a minha trajetória no mercado de trabalho? Foi uma conquista muito grande para a comunidade das pessoas com deficiência. Então teve sim essa inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, na sociedade. Hoje a pessoa com deficiência tem seu próprio salário, consome, então foi muito bom. Mas eu também vejo que, como lei de cotas, ainda tem muito o que avançar, sabe?  De fato as empresas precisam olhar a Lei de Cotas como um recurso a mais, como uma lei de inclusão e não só como uma lei. A gente ouve: “Ai, eu preciso contratar pessoas com deficiência, senão eu vou ter que pagar uma multa.” Não é esse o olhar que queremos. As empresas têm um papel social, têm que dar oportunidades. A Lei de Cotas é a primeira porta de entrada no mercado de trabalho, mas não pode ser a única porta. Então essa pessoa com deficiência também precisa fazer sua parte, tem que se desenvolver dentro da empresa, ela pode construir uma carreira, quem sabe chegar numa liderança, diretoria, vice-presidente, então acho que é a primeira porta para o mercado de trabalho.

Câmara Paulista: Você pode nos falar um pouco sobre sua trajetória profissional?

Eu comecei a trabalhar com 18 para 19 anos e entrei pela Lei de Cotas. Meu primeiro emprego foi na Federação das Indústrias e lá eu trabalhei por quatro anos – eu fui contratada para ser recepcionista e na época eu também consegui uma bolsa na faculdade, então eu cursei Administração e, quando eu estava no último ano, não tive oportunidade de passar para um novo setor. Procurei uma nova oportunidade para começar a trabalhar na área que eu tinha estudado na época, que era Administração de Empresas. Aí foi quando surgiu a Natura e lá eu estou há 10 anos, então é bastante tempo. Na Natura, que já era uma empresa multinacional, foi minha primeira experiência numa empresa grande. Eu vim para cuidar das finanças da área. Lá eu já passei por várias áreas, mídias digitais, campanhas, rituais, eventos, treinamento e há uns quatro anos eu fui para a área de Treinamento, com escopo bem financeiro, onde fiquei responsável por olhar todos os custos, os projetos, tudo que envolvia orçamento, dinheiro, era eu quem organizava. Eu já estava querendo buscar mais conhecimento, entender o que queria para o meu futuro. Nesse meio tempo também eu fiz uma pós[graduação] em Mídias Digitais, pois queria fazer outras coisas além do financeiro. Atuar na área financeira me ajudou muito na minha trajetória, mas não era meu propósito, e eu sabia que não queria isso para sempre. Quando eu fui para a área de treinamento eu recebi uma missão de entender como estava consultora, líder do pilar de pessoas com deficiência. A gente tinha um consumidor final, pessoas com deficiência, foi quando visualisei meu norte. Mesmo sendo uma pessoa com deficiência, eu não tinha a dimensão de como a comunidade é grande e como ainda tem muito o que evoluir no tema da inclusão. Eu fiz uma pesquisa e foi muito legal, porque depois disso a gente tinha um treinamento mais inclusivo, os vídeos começaram a vir em Libras, enfim, teve várias ações afirmativas e eu também fui convidada a criar um Grupo de Afinidade que se chama Eficientes – o grupo de afinidades de pessoas com deficiência dentro da Natura. Eu aceitei a missão, claro. Já faz três anos que eu estou na liderança do GA e, nesse grupo, a gente faz diversos trabalhos, desde do Dia da Pessoa com Deficiência, conversas com o recrutamento. Somos responsáveis por fazer a preparação e sensibilização do time, eu e mais duas lideranças do GA. Nesse grupo todas as pessoas são ouvidas, se tem algum questionamento, alguma dúvida, a gente também, dependendo da situação leva para o responsável. Criamos também uma jornada de carreira exclusiva para pessoas com deficiência. Bem, por fim, recentemente, eu mudei de área, vim para a área do Movimento Natura, onde desde o ano retrasado[2020] eu comecei a olhar a Diversidade de forma transversal. Diversidade transversal é quando a gente olha todos os tipos de diversidades e não só a pessoa com deficiência. Eu tenho um papel duplo aqui e no grupo de afinidade Eficientes, eu olho pessoas com deficiência, colaborador e o Movimento Natura, que é a área que hoje eu atuo, eu olho diversidade racial, pessoas LGBT, gênero, a gente olha tudo. Todas as pessoas são importantes.

Fonte: Câmara Inclusiva

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