Isolamento social e inclusão

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Foto do professor Eugênio Cunha que está sorrindo e com os braços cruzados com o fundo azul.
Subitamente, Pedro não pode mais frequentar a escola. Eram as regras estabelecidas. Ficar em casa longe dos seus amigos, aprender pelo computador ou pela iniciativa dos pais era a única coisa a fazer. O menino teve indícios de depressão. Tornou-se muito cruel a nova realidade para ele. Preferia jamais ter conhecido a escola. Ficar arredio no seu quarto e olhar a vida pela janela de um artefato digital não estava nos seus planos. 

O leitor pode até achar que se trata de uma de entre tantas situações oriundas do fechamento das escolas por causa do Covid-19. Mas não é. Na verdade, trata-se de outro tipo de afastamento. Ocorreu tempos atrás, quando ninguém falava ainda no vírus chinês. A história de Pedro é a história de muitos outros alunos com deficiência que foram retirados do convívio escolar antes de o isolamento físico ter sido imposto pelas autoridades públicas como forma de combate à pandemia. 

No Brasil, a inclusão nunca foi prioridade. A pessoa com deficiência sempre foi vista com os olhos do capacitismo, uma forma preconceituosa e discriminatória que considera a deficiência como a incapacidade para vida cotidiana. Esse preconceito decorre não somente pela ausência do conhecimento social trazido pelo contato com o diferente, mas, principalmente, por uma cultura comportamental e psicológica estabelecida e reificada na sociedade. A representação social da deficiência carrega a presunção de que o outro é inferior, estabelecendo as condições para a segregação. Rótulos, termos pejorativos e estigmas são exteriorizações do capacitismo. 

As diferenças entre nós não podem ser medidas pela ótica da exceção, mas devem ser entendidas como uma condição inerente à humanidade. A diversidade é característica mais comum de uma nação. A valorização desse atributo pressupõe a superação das barreiras que perpetuam a exclusão. 

Em tempos de pandemia, de certa forma, cada um de nós experimentou o desalento de ficar apartado contra a própria vontade. Somos gregários. Precisamos estar próximos fisicamente. “Aprender juntos” é uma das premissas da educação inclusiva. A escola e a sociedade precisam priorizar esse indelével direito coletivo. O que proponho não é apenas o encontro dos corpos, mas a experiência da humanização do ensino; a valorização do ser humano além do exterior; o respeito às singularidades dos estudantes; o desejo de fazer vigorar os pressupostos de uma escola aberta, acessível, universal, como preconizam os documentos oficiais da educação. 

Não há um único modelo para nos conduzir ao saber. Não há como ignorar e anular as diferenças nos processos de ensino e aprendizagem. Ensinar demanda a capacidade de comunicação com os mais variados modos de ser, tecendo os fios que fazem da escola um espaço colaborativo, na construção do aprender, na representação dos matizes humanos. 

Eugênio Cunha é Doutor em educação, professor do Ensino Superior e da Educação Básica. 

Entre os livros lançados estão “Afetividade na prática pedagógica”, “Autismo e inclusão”, e “Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade”, publicados pela Wak Editora 




Fonte: Revista D+

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