Pessoas com deficiência visual relatam medo do coronavírus

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Conforme divulgado pela Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), particularidades cotidianas colocam as pessoas com deficiência visual em condições vulneráveis às situações de risco.

A aposentada Ângela Alves França, de 62 anos, já se enquadra no grupo mais vulnerável em ter complicações decorrentes da Covid-19 só pela idade. Ela também é cega e as mãos são suas ferramentas táteis, assim como o uso da bengala é essencial no seu cotidiano. Em entrevista ao Portal G1, ela relatou as dificuldades de prevenção ao novo coronavírus para as pessoas cegas e de baixa visão e o medo por se sentir ainda mais exposta aos riscos de contaminação.
Relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde colocam os mais velhos entre os mais suscetíveis e entre aqueles afetados pelos maiores índices de letalidade quando atingidos pela Covid-19. E, segundo a Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), particularidades cotidianas colocam as pessoas com deficiência visual em condições vulneráveis às situações de risco.

Ângela mora sozinha em Santos, litoral paulista. Ela conta que tem baixa visão e por isso só enxerga vultos e claridade. Sempre que precisa ir à padaria ou ao supermercado, pega a bengala e caminha até o estabelecimento, compra o que precisa e vai embora. Desde a pandemia do coronavírus, passou a ter mais dificuldade em manter sua independência.

“Corremos muito mais risco. Primeiro porque saio com a minha bengala, preciso dela para tudo, e acaba sendo um objeto suscetível à transmissão do vírus, porque encosta no chão e em outras superfícies. Segundo porque a mão é minha principal ferramenta de identificação das coisas e locais. Por isso estava sempre saindo de máscara e luva. Mas acabaram e não acho mais nenhum dos dois para comprar”, conta.

Os dias da aposentada também se tornaram mais solitários, já que não pode mais frequentar o espaço em que convivia e fazia atividades com outras pessoas com deficiências  visuais, devido às medidas de prevenção, que proíbe a aglomeração de pessoas. “Não conseguimos ter certeza se estamos a um metro de distância da outra pessoa se vamos ao mercado, por exemplo. Então não temos certeza da nossa segurança para prevenir a contaminação. É muito difícil”, relata Ângela.

“Essas medidas gerais de prevenção amplamente divulgadas esquecem de nós, pessoas com deficiências visuais, e não nos mostram como agir efetivamente. Eu chego em casa e já deixo a minha bengala para lavar, mas não consigo ter a certeza que a limpei totalmente. Assim como, se saio na rua, não consigo garantir que estou em uma distância segura dos outros, que evite a contaminação do vírus. Estou até evitando de ir ao mercado ou padaria, mesmo quando preciso. É um medo constante”, destaca.

Riscos de contaminação

Segundo divulgado nas redes sociais pela Organização Nacional de Cegos do Brasil, necessidades cotidianas colocam as pessoas com deficiência visual em condições vulneráveis às situações de risco, como por exemplo:
  • Utilização freqüente das mãos, considerado principal veículo de contaminação, seja para exploração tátil inerente às pessoas com deficiência visual, seja para utilização e manipulação de tecnologias assistivas como bengalas, muletas, entre outras que passam a ser vias diretas de contaminação;
  • Contato direto com outras pessoas para auxílio nas atividades de vida diária, sobretudo apoio de terceiros ao longo do percurso aos ambientes externos, onde se inclui o deslocamento para as unidades de saúde e demais atividades no decorrer de sua jornada;
  • Maior necessidade de apoio em corrimões, mesas, superfícies, bancadas e outros locais que se apresentam como potenciais vias de contaminação;
  • Necessidade de assistência de terceiros para direcionamento por pessoas com deficiência visual;
  • Grande aproximação de material escrito ao rosto por parte de pessoas com baixa visão.

Medidas de Prevenção

A Organização, por meio de sua Secretaria de Saúde, Reabilitação e Prevenção à Cegueira - com apoio da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal e do Conselho Brasileiro de Oftalmologia - divulgou também orientações úteis para a prevenção da contaminação do vírus na comunidade de pessoas cegas e com baixa visão:

  • É necessária a higienização das bengalas, com água e sabão ou álcool líquido a 70%, uma vez ao dia ou sempre após deslocamento externo;
  • A higienização de óculos e lentes também deve ser incorporada aos hábitos diários.
  • Quando aceitar ajuda de outras pessoas na rua, pegue no ombro, em vez do cotovelo, porque a recomendação é tossir e espirrar no antebraço;
  • Sempre que possível, evite o contato com outras pessoas. Pratique o distanciamento social, evitando apertos de mão, abraços e beijos no rosto. Cumprimente à distância;
  • Ao ter contato com outras pessoas na rua, lave o rosto com água e sabão, principalmente o nariz, com água em abundância;
  • Evite levar as mãos aos olhos, nariz e boca, pois são locais de alta contaminação;
  • Pacientes com doenças oculares devem evitar o contágio, pois ele pode ocasionar o agravamento da doença, principalmente em pessoas com baixa visão.

Segundo a professora de orientação e mobilidade do Lar das Moças Cegas em Santos, Valéria Cristina, as medidas de prevenção são essenciais para evitar a exposição ao risco. "Também sou deficiente visual, sou baixa visão e esse é um momento muito complicado para nós conseguirmos andar na rua, quando necessário", diz.

De acordo com a professora, a pessoa com deficiência visual precisa do auxílio dos sentidos remanescentes, que é a percepção, a audição, o olfato e principalmente o tato. "É aí que mora o perigo, quando a gente sai precisamos tocar nas coisas. Em uma travessia de rua tocamos nas pessoas. Então o cuidado de higienização, no nosso caso, tem que ser maior ainda. Tocamos no corrimão, na porta quando vamos acessar um lugar, é uma forma de conseguirmos identificar aquele espaço", explica.

Conforme explica Valéria, esse é o momento de se cercar de cuidados. "É importante procurar não tocar em nada na medida do possível, andar com o álcool em gel sempre no bolso e em todo local que for, na saída, passá-lo na mão e na parte que manuseamos da bengala. Em casa é preciso lavar a bengala com água em sabão, assim como higienizar as roupas e sapatos. Temos que enfrentar essa situação com seriedade, com zelo, respeitando as regras e orientações", finaliza.

Fonte: Portal G1.

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