Atriz surda de 'Malhação', Tatá Cordazzo diz: 'Sempre sonhei fazer novela'
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Giovanna Rispoli e Tatá Cordazzo dividem a cena em "Malhação" Foto: Estevam Avellar/Rede Globo/Divulgação |
Regiane Jesus
Silêncio e sons se afinam no mesmo tom, em
“Malhação”, para gritar numa só voz — emitida pela linguagem oral ou de sinais
— que a surdez é invisível, mas os surdos, não. Na novela, Giovanna Rispoli
interpreta a deficiente auditiva Milena, paciente e amiga da fonoaudióloga
surda Sara, personagem vivida por Tatá Cordazzo, atriz que perdeu a capacidade
de ouvir com poucos meses de vida. A mensagem de inclusão e representatividade
transmitida em cena e fora dela proporciona às artistas uma rica troca de experiências,
com direito a ensinar e aprender a lição de que é preciso combater diariamente
o preconceito que insiste em assombrar tanto na ficção quanto na vida real.
— A sociedade não tem conhecimento desse universo
da surdez, como eu também não tinha. Isso precisa mudar! Fico feliz quando
alguém me conta que começou a fazer curso de libras por causa da minha
personagem. Bate uma sensação de dever cumprido. Antes de contracenar com Tatá,
só tinha entrado em contato com surdos que preferem usar as libras, mas ela me
mostrou a outra parte da comunidade, os que falam. Milena é uma mistura porque
sinaliza e oraliza — diz Giovanna, de 17 anos, em referência a sua personagem
em “Malhação”.
Foi com o auxílio de um aparelho auditivo que Tatá
começou a escutar aos 5 anos e, pouco a pouco, a desenvolver a fala através de
sessões de fonoaudiologia. A deficiência auditiva não a impediu de acreditar
que seria possível seguir carreira artística.
— Sempre sonhei fazer novela. Até achava que era
uma realidade um pouco distante, mas nunca associei uma eventual incapacidade à
minha surdez. Existem barreiras na profissão por conta da deficiência, mas em
“Tempo de amar” (2017), por exemplo, participei do elenco de apoio e minha
personagem (Aline) não era surda. Espero que surjam novos convites para eu
fazer personagens ouvintes, mas também me sinto feliz com papéis de deficientes
auditivas, já que essa é uma chance de dar visibilidade aos surdos e combater o
preconceito — explica a atriz de 30 anos.
Na trama, Milena não é discriminada e leva uma vida
normal. Já Tatá reconhece que, no passado, sentiu o peso de não ser exatamente
igual às outras meninas.
— A adolescência é cruel, porque nessa fase é
complicado ser diferente. Apesar de ter me sentido isolada em muitos momentos,
sempre aceitei minha deficiência. Mas, infelizmente, muitos jovens têm vergonha
de usar o aparelho auditivo. A deficiência não pode limitar nossos sonhos. Como
todo mundo, a gente pode amar, viver e se divertir — frisa a intérprete de
Sara.
A responsabilidade de ser uma porta-voz dessa causa
é motivo de muito orgulho para Giovanna:
— Milena me trouxe um olhar mais sensível e alegre
perante o mundo.
Surdez sem preconceito
Paula Pfeifer escreveu um livro sobre surdez e sugeriu que "Malhação" escalasse uma atriz deficiente auditiva Foto: Divulgação |
Autora do livro “Crônicas da surdez”, palestrante e
criadora do site surdosqueouvem.com.br, a deficiente auditiva Paula Pfeifer,
que ouve através do implante coclear — dispositivo eletrônico que visa a
proporcionar a seus usuários sensação auditiva próxima ao fisiológico —, foi
quem deu a ideia à equipe de “Malhação” para que uma atriz surda fosse escalada
para atuar na trama.
— Minha sugestão foi para que prestassem atenção
nas atrizes que têm deficiência auditiva na vida real, especialmente em Tatá,
que havia acabado de fazer uma novela na Globo (“Tempo de amar”, de 2017). É
muito poderoso quando você se vê de fato representado na TV — frisa.
Paula aplaude a iniciativa de “Malhação” em dar
visibilidade ao dia a dia absolutamente comum das pessoas que têm deficiência
auditiva:
— É importante mostrar numa novela que surdos
ouvem, falam, fazem tudo! Também sugeri que atentassem para a diversidade da
surdez e ajudassem a quebrar mitos como os de que “todo surdo é mudo”, “todo
surdo usa libras”... A tecnologia já é capaz de fazer uma pessoa com surdez
profunda voltar a ouvir, como é o meu caso, com meus dois ouvidos biônicos. Isso
é maravilhoso!
Fonte: Extra Globo
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