À conquista de Machu Picchu em cadeira de rodas “especial”
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O turismo (mais) acessível na altaneira Cidade dos Incas do
Peru, incluindo em caminhos “mais complicados”
Leia abaixo a matéria de Klemens
Detering para o portal Público:
Uma agência de viagens, a Wheel
the World, desenvolveu uma cadeira de rodas adaptada que permite outros
percursos pelo ex-líbris do Peru, Machu Picchu, a cidade dos incas que é uma
das maravilhas do mundo, situada a 2.400m de altitude.
A empresa, especializada em passeios
para pessoas com deficiência, foi fundada por dois amigos chilenos, Álvaro
Silberstein – que se desloca em cadeira de rodas –, e Camilo Navarro.
A dupla queria fazer passeios em
conjunto, mas nem todos os locais eram acessíveis a Álvaro. Foi assim que
tiveram a ideia de criar a agência e começaram a pensar ter cadeiras adaptadas,
caso desta, que é “especial”: dobrável, inclui dois varais longos, permitindo
que uma ou duas pessoas dêem uma ajuda fulcral à mobilidade. Para financiarem a
aquisição, os amigos recorreram ao crowdfunding e tiveram
sucesso.
Esta cadeira específica, conta Camilo
à CNN, “está desenhada com uma só roda e dois varais longos”, que a fazem
parecer um carrinho de mão. É uma mistura de aço e alumínio, como uma
bicicleta, portanto é leve. Também há outras cadeiras adaptadas com duas ou
três rodas.
A dupla conta que enfrentou vários
problemas para conseguir conquistar a montanha peruana: para além dos
evidentes, um dos principais foi conseguir reduzir os custos (sempre elevados)
relacionados com a viagem dos turistas cadeirantes (do transporte das próprias
cadeiras pessoais à segurança extra ou ao alojamento adaptado às necessidades).
Uma viagem a Machu Picchu com a
agência custa entre cerca de US$ 1000 a US$ 3000 dólares, com alojamento mas
sem voo, podendo ir de um a seis dias. O programa, sempre com guia e apoio
adaptado às necessidades de cada um, desde o aeroporto ao hotel e visitas, pode
incluir passeios por Cusco, idas ao Vale Sagrado, passeio em bicicleta adaptada
ou caiaque, e, claro, visita a Machu Picchu, com ida de comboio e autocarro,
percurso turístico e tempo livre para explorar o local.
Navarro adianta que, tanto em Machu
Picchu como em muitas outras zonas naturais protegidas, o turismo acessível
enfrenta a extrema dificuldade ou mesmo a impossibilidade de construir
percursos adaptados nos locais. Mas a dupla diz ver em cada destino não um
problema, mas uma necessidade de solução: “A acessibilidade é uma questão de
ser criativo.”
Além do Peru, a empresa tem programas
no México (Oaxaca) e Chile (aqui há desde trekking no Vale da Lua ou no vulcão
Rano Raraku, na ilha da Páscoa, a passeios em Atacama ou no parque natural
Torres del Paine).
“Há um bilhão de pessoas
[no mundo] com algum tipo de deficiência”, disse Camilo à CNN. “Mas não há uma
empresa de viagens dedicada a essas pessoas.”
Os dois homens nasceram
no Chile, mas mudaram-se para os Estados Unidos quando jovens para fazerem o
curso de administração, onde começaram a desenvolver o Wheel of the World como
um negócio sério e de longo prazo.
Machu Picchu, o coração
do Império Inca aninhado nos Andes, se tornou célebre internacionalmente após
ser redescoberta pelo historiador americano Hiram Bingham em 1911. A partir daí
a cidade perdida se tornou uma sensação entre turistas advindos de várias
partes do mundo.
A primeira visita de um
turista paraplégico/tetraplégico aconteceu apenas em dezembro de 2018, 107 anos
após o redescobrimento.
A logística para
percorrer o terreno acidentado – cuja uma das partes possui 320 degraus
praticamente verticais – exigiu que a empresa voltasse a se dedicar ao
financiamento coletivo.
Alguns viajantes com
deficiências evitam viagens remotas por causa do custo e do incômodo de comprar
e transportar uma cadeira de rodas apropriada.
É por isso que a Wheel
of the World tem adquirido cadeiras de aço e alumínio especialmente projetadas
e as armazena no local próximo à cidade para facilitar o uso. O custo de uma
excursão de quatro dias pela Wheel of the World é de aproximadamente US$ 1.500
(sem incluir vôos ou acomodações), o que equivale aos oferecidos a pessoas sem
deficiência, de acordo com a CNN. Os primeiros passeios completos para o
público devem começar este mês.
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