Capoeira inclusiva transforma a vida de pessoas com deficiência em Niterói
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Há um ano,
Gabriela da Silva Martins não andava sozinha e tinha dificuldade para se
comunicar. Ela possui uma deficiência que compromete sua locomoção, e nunca
se imaginou praticando esporte. Até conhecer o Din Down Down, um projeto de
capoeira voltado para pessoas com deficiência. Idealizado por David Bassous,
o mestre Bujão, o trabalho começou há 26 anos e já impactou centenas de
pessoas. Hoje, ele atende 40 jovens e adultos que, assim como Gabriela, superam
os obstáculos aos golpes da luta.
— A proposta não é
trabalhar com a deficiência, mas com a potência de cada pessoa. Tenho alunos
que não conseguem nem ficar em pé, mas jogam capoeira. Colocam a mão no chão,
fazem uma movimentação mais aérea. Usam de toda a sua potência para se superar
— explica David Bassous, de 54 anos.
A ideia nasceu no início
dos anos 90, quando David, que já era mestre de capoeira, foi convidado para
realizar uma oficina em um instituição especializada em pessoas com deficiência. Deu tão certo que, inspirado por essa experiência, ele criou o
Instituto Gingas, uma ONG voltada à promoção da cultura e da educação, sempre
com foco na acessibilidade. Um dos braços da organização é o Din Down Down, que
se tornou um Ponto de Cultura (projeto financiado e apoiado pelo Ministério da
Cultura).
— O nome (Din Down Down) é
uma brincadeira com a musicalidade do berimbau e tem a ver com a síndrome de
Down, que acomete a maior parte dos alunos, embora nós trabalhemos com todos os
tipos de deficiência — diz Bujão.
Quando
começou a frequentar as oficinas de capoeira, há cerca de um ano, Gabriela
chegava na sala sempre amparada por alguém. Aos poucos, foi ganhando confiança
e, hoje, sobe e desce os andares da Apae sozinha, buscando amparo na parede e
nos corrimões.
— Explicar o impacto da capoeira
para as pessoas com deficiência é complexo porque cada um reage de uma forma.
Mas o mais importante é que a atividade faz com que elas superem suas barreiras
e exerçam a cidadania — afirma o mestre.
Quebra de paradigmas
Além das oficinas de
capoeira, que acontecem duas vezes por semana na Apae de Niterói, o projeto
desenvolve apresentações em universidades, escolas públicas e outras
instituições. O resultado, de acordo com mestre Bujão, é uma quebra de
paradigmas.
— Nesses encontros,
percebemos como a capoeira é capaz de trazer benefícios para toda a sociedade.
Os portadores de deficiência, envolvidos pela musicalidade e a gestualidade, se
apresentam como artistas e, assim, têm acesso à cidadania. Já os espectadores
perdem seus preconceitos — diz Bujão.
Pós-graduado
em Ciência da Arte pela UFF, David Bassous juntou a prática com a teoria: criou
um núcleo de pesquisa no Instituto Gingas para se debruçar sobre o tema da
educação e cultura acessíveis. O trabalho chamou a atenção de outros países. O
instituto já recebeu visita de pesquisadores da Itália, Colômbia, Chile e
México.
— Meu sonho é espraiar a
experiência do Din Down Down pelo Brasil e pelo mundo, fazendo a sociedade
perceber o conceito de diversidade através da capoeira acessível — diz.
Fonte: Extra
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