Trilha da Inclusão: pessoas com deficiência se reúnem na Chapada Imperial
Compartilhe
A segunda edição da
Trilha da Inclusão é uma oportunidade de praticar esportes radicais e ter
contato com a natureza
Hanna Guimarães - Especial para o Correio
Este ano foram 60 carros e mais de 100 inscritos para participar do passeio off-road para portadores de necessidades especiais(foto: Hanna Guimarães/Esp. CB/D.A Press) |
A vontade de viver
aventuras e sentir a adrenalina no corpo faz a pessoa enfrentar todas as
dificuldades. No último domingo, o Clube do Jeep de Brasília promoveu, na
Chapada Imperial, a segunda edição da Trilha da Inclusão, um passeio off-road
para portadores de necessidades especiais. A ideia do evento é auxiliar na
inclusão no mundo de esportes radicais, por meio da interação com jipeiros e
frequentadores de trilhas e cachoeiras.
“Muita gente acha que deficiente é feito de cristal, que não pode nem encostar.
E não é bem assim, a maioria é atleta, está muito bem inserida socialmente e
busca novos desafios”, explica a idealizadora do projeto, Valéria Schmidt.
“Tirar o projeto do papel foi muito complicado. Tive que ir a diversas reuniões
no Clube do Jeep até conseguir autorização e interessados para participar”,
revela Valéria. “Eles tinham muito medo de acontecer algum acidente, de ser
arriscado nos levar para trilhas de alto impacto e o receio era muito grande.
Mas depois que a primeira deu certo, todo mundo ficou bem animado”, completa.
Enquanto a primeira edição teve um total de 30 participantes, este ano foram 60
carros e mais de 100 inscritos. “Ano que vem, queremos uma trilha mais radical,
que passe por cima de água e tenha vários morros, queremos sempre conquistar
uma superação a mais”, afirma a atleta.
Valéria desde pequena se interessava por atividades que trouxessem adrenalina
e, mesmo após um acidente de mergulho no Lago Paranoá, que a deixou
paraplégica, continuou praticando esportes e passeando com amigos em parques
ecológicos e outras paisagens naturais. “As minhas amizades são muito antigas,
estamos juntos há mais de 40 anos; então, eles sempre davam um jeito de me
levar, porque sabem o quanto é importante pra mim e me faz bem”, conta.
Foram três anos de recuperação no Hospital Sarah de reabilitação e, hoje, além
de aventureira e ecoturista, ela é representante de Brasília na Seleção
Brasileira Paralímpica de tênis de mesa e já ganhou diversas medalhas.
Da mesma forma que ela superou suas limitações e continuou realizando aquilo
que amava, a cadeirante decidiu que era importante oferecer essa oportunidade
para outras pessoas que se encontram na mesma situação. O passeio é voltado
para todos os tipos de deficiência e também para aqueles que desejam conhecer
uma realidade diferente, de superação e força de vontade.
“Dessa vez, veio uma menina que é cega. Ela achou o máximo a sensação do carro
tremendo e as curvas bruscas”, lembra Valéria. “Aqui nós temos gente de todo
tipo, mas queremos atrair mais gente com down, têm muitos poucos e eles se
divertem muito”, completa.
Aloísio Lima, 44 anos, fez a trilha pela primeira vez e conta um pouco da
experiência: “Foi muito bacana, eu costumava fazer trilha de moto, então, pude
reviver um pouco essa parte da minha vida. A emoção é diferente, mas recomendo
pra todo mundo que gosta de aventura, é muito legal mesmo”, diz.
Ele passou a andar de cadeira de rodas após uma queda de 60m, durante uma
atividade de rapel, mas a vontade de superação sempre foi presente e, após
alguns meses de fisioterapia, passou a treinar tênis de mesa, sendo campeão
paralímpico em 2016. Os esportes radicais são a próxima conquista na lista do
atleta, mas não no âmbito físico. “Eu nunca tive juízo, até me convidaram para
fazer rapel de novo. Coragem eu tenho, mas a patroa que não deixa. Fiquei
surpreso que dessa vez ela deixou sem problemas”, brinca.
“Zequinha”
Os motoristas também
gostaram muito da experiência inclusiva. Fabiana Botelho Ponte, 33 anos,
acompanhou a organização do evento desde 2016, mas não pode ir na primeira
edição por conflito de datas. “Eu me interesso muito pela causa, tenho uma
amiga que tem uma síndrome e não cresceu. Mas ela adora andar de jipe, todo
evento que a gente faz ela vai de zequinha (como é chamada a pessoa que pega
carona de jipe) e foi assim que eu vi o quanto era importante essas coisas, que
pra gente é rotina, porque estamos acostumados, mas pra quem não pode é uma
oportunidade”, conta.
A jipeira achou a experiência muito enriquecedora e se emocionou com a alegria
e a interação do pessoal. “Eu não tenho muito contato com cadeirantes ou outros
tipos de deficiência no meu dia a dia, e eu pude perceber a dificuldade que
eles têm pra fazer coisas muito simples, como subir e descer do carro, e até mesmo
fazer xixi, que para gente é uma coisa tão básica, não temos noção de como é
para eles”, diz. “Ao mesmo tempo são todos muito otimistas, nada tem
sofrimento, me fez perceber que eu preciso dar mais valor para as pequenas
coisas do dia a dia”, completa.
Os amantes de
aventura
O primeiro Jeep Club do
Brasil surgiu em 1974, em São Paulo, com a união de um grupo de amigos para
fazer a restauração de um 4x4 remanescente da Segunda Guerra Mundial. Depois da
experiência, eles decidiram unir todas as pessoas que gostam da liberdade de
viajar off-road, com espírito de aventura, simplicidade e companheirismo, por
meio do gosto em comum pelo jipe.
Quinze anos depois,
surgiu o Clube do Jeep no DF, e além de reuniões, a entidade oferece cursos,
festas, promoções e promove trilhas, expedições e eventos sociais. Os encontros
acontecem regularmente todas as quintas-feiras no Terraço Shopping, a partir
das 18h. Os interessados podem aparecer e entrar em contato para conhecer o
clube e se informar sobre o calendário de atividades.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu Comentário é muito importante para nós.