Radialista cego comenta desfiles das escolas de samba em duas emissoras
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Quando
criança, Bruce Maciel, de 36 anos, era levado pelo pai à Sapucaí. Depois,
encantado, assistia aos desfiles pela TV. A reaproximação com a Avenida
aconteceu só na vida adulta, quando uma degeneração de retina, detectada na
adolescência, já havia levado quase toda a sua visão. Hoje ele só enxerga
vultos, ainda assim, bem de perto. Entretanto, o morador de São Gonçalo vai
assumir pelo segundo ano consecutivo o microfone de uma das cabines de rádio no
Sambódromo, de onde comentará a passagem das escolas para duas emissoras: a
Rádio Revolução, do Instituto Nise da Silveira, transmitida pela internet; e a
Cultura FM Castelo, do Espírito Santo.
— A deficiência dificulta a
análise do acabamento dos carros alegóricos e das fantasias. Mas eu acabo
compensando com audição, que tenho mais aguçada. Isso facilita, por exemplo,
comentar a bateria e samba-enredo, e os chamados quesitos de chão, como
harmonia e evolução — explica o mangueirense.
Bruce recorre ainda ao
auxílio de uma equipe formada por oito profissionais. São eles que ajudam o
comentarista, quando necessário, descrevendo situações em que deficiência
visual pode comprometer sua análise. Porém, Bruce garante que, em alguns casos,
é ele quem alerta os colegas para problemas mais facilmente perceptíveis por
quem enxerga.
— No desfile do ano
passado, eu que chamei a atenção para quem estava narrando o desfile sobre
problemas da Unidos da Tijuca, que estava muito devagar na Avenida. Apontei
inclusive para a possibilidade de ela estourar o tempo, como aconteceu —
relembra.
Para desempenhar bem o seu
papel, Bruce dedica todo o ano à preparação do desfile. O primeiro passo é se
inteirar da sinopse das escolas e para isso recorre a um programa especial de
computador. E, sempre que possível, bate ponto nas quadras, para assistir a
escolha dos sambas, e nos barrações, para acompanhar de perto a confecção das
fantasias e alegorias. Além disso, quando dá, vai aos ensaios técnicos para
sentir o clima.
— O trabalho desenvolvido
por Bruce é importante, porque ajuda a elevar a estima das pessoas com
deficiência. Mostra que eles também são capazes de superar as dificuldades. Ele
tem sido um exemplo para toda equipe. Aprendemos muito com ele — elogia Mary
Nieldes Santos Coelho, coordenadora de programação da Rádio Revolução.
Fonte: Extra
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