Com cadeirante liderando equipe, Rock in Rio promete acessibilidade
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O Rock in Rio teve um papel transformador na vida de Thiago Amaral, que de público se tornou líder da equipe de PNE do festival (Foto: Marco Visi/Divulgação) |
O
objetivo da equipe do Rock in Rio é proporcionar uma experiência inesquecível
em entretenimento para todas as 700 mil pessoas que passarão pela Cidade do
Rock em setembro. Todas mesmo, sem exceção. Esse cuidado inclui dois milpessoas
com necessidades especiais. Esse público contará com uma plataforma exclusiva
para assistir aos shows e lounge com serviços para cadeirantes. O festival
ainda reservou para eles duas atividades que prometem ser inesquecíveis: um
salto radical numa tirolesa adaptada e um passeio na roda gigante que oferece a
melhor vista da festa.
Thiago
Amaral, de 27 anos, é quem está por trás dessa política de acessibilidade
total, que busca ser a referência no quesito para os festivais mundo afora. Ele
é cadeirante desde 2011, quando o carro que o trazia de volta de uma competição
de mountain bike capotou, o deixando tetraplégico.
“Há
necessidade de inclusão porque existe a exclusão. E a exclusão, muitas vezes,
vem do próprio cadeirante, que deixa de participar de algo por achar que não
será recebido adequadamente. Trabalhamos para garantir o maior conforto
possível. Em minhas pesquisas, nunca vi um festival com um olhar tão especial
para isso quanto o Rock in Rio. É com certeza uma porta de entrada para outros
festivais voltarem sua atenção para as pessoas com necessidades especiais”,
avalia Thiago, que conta com 70 pessoas em sua equipe.
O
plano de trabalho é minucioso e inclui muitos detalhes, que consideram não só
pessoas com necessidades especiais, mas também a estrutura que os cerca. Os
cães-guia, por exemplo, terão um espaço só para eles. Já os deficientes
auditivos terão um lugar bem perto das caixas de som, podendo sentir assim as
vibrações.
“Haverá
ainda estacionamento exclusivo, vans especiais para PNE (portadores de
necessidades especiais) saindo do shopping Metropolitano e do terminal olímpico
do BRT rumo à Cidade do Rock. Carrinhos de golfe poderão ser usados para
explorar toda a área, e triciclos, que se acoplam em cadeiras de rodas, também
serão emprestados. A infraestrutura completa ainda conta com balcões e mesas
acessíveis na área gastronômica, piso e mapas táteis para deficientes visuais,
22 banheiros exclusivos e até uma oficina lounge para reparos de cadeiras de rodas”,
lista o coordenador de PNE do festival, sem disfarçar o orgulho.
Mas
o centro das atenções deve ser mesmo a tirolesa adaptada. “O brinquedo é o
mesmo, só que anteriormente, os cadeirantes tinham dificuldade para subir por
ser uma escada em formato de espiral. E não há como instalar um elevador. Nas
edições anteriores chegaram a levar pessoas no colo para o salto na tirolesa,
mas era desconfortável. Agora compramos uma cadeira especial, com encosto alto
e cinto de segurança de quatro pontos, que sobe e desce com muita segurança
graças às roldanas”, revela o coordenador.
O
próprio Thiago fez questão de testar o brinquedo. “Subi e desci na cadeira
várias vezes e deu certo. Mas não encarei o salto no cabo. Tenho medo de
altura”, confessa.
Start
para uma nova vida
A
estreia de Thiago no Rock in Rio foi em 2013, já na condição de cadeirante. Ele
relembra a experiência libertadora: “Na época, ainda estava com um pouco de
medo de vir ao evento e um amigo me encorajou. Não dirigia, minha mãe me
trouxe, e amigos empurraram a cadeira em certos momentos. Foi bom, vi os shows
bem. Gostei tanto que comprei mais dois ingressos”.
“Foi
aí que comecei a despertar para fazer outras coisas, como recomeçar a faculdade
de Administração e voltar a dirigir. O Rock in Rio me proporcionou voltar à
vida social. Foi um ‘start’ para eu perceber que a cadeira de rodas não era uma
cruz para mim e tinha que retomar minha vida normal”, prossegue Thiago, que
também é atleta de rúgbi em cadeira de rodas.
Na
edição de 2015 festival, já mais independente com a evolução de seu tratamento,
Thiago não teve uma experiência positiva por conta das limitações do Parque dos
Atletas e do seu entorno, com obras para a Olimpíada Rio-2016 na época.
Resolveu então tomar uma atitude que acabou lhe rendendo um convite para
trabalhar no evento.
“Ficou
ruim e muita gente reclamou. Eu percebi muitas coisas que poderiam ser
melhoradas e resolvi mandar o e-mail para a organização e foi parar no Rodolfo
Medina, vice-presidente de marketing do Rock in Rio, que me contratou para
desenhar todo o projeto de PNE”, conta Thiago, revelando seu grande estímulo. “O que mais me motiva hoje é a oportunidade de quem sabe nesta edição ter um
novo Thiago e que o festival possa ser, mais uma vez, o start desta pessoa”.
Gerente
de Operação do Rock in Rio, Márcio Cunha diz que o público PNE está contemplado
em toda a Cidade do Rock. “Só nas calçadas do Parque Olímpico investimos R$ 1,5
milhão. A nova Rock Street é mais ampla e mais larga já pensando no cadeirante.
Na edição de 2015 era difícil entrar por conta da lotação. Agora ele vai ter
uma experiência melhor. O respeito é total”, conclui.
Thiago Amaral: “O Rock in Rio me proporcionou voltar à vida social” (Foto: Jairo Junior/Divulgação) |
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