Empresa brasileira faz prótese em impressora 3D com plástico ecológico

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Companhia produziu mão mecânica usando polímero feito a partir do amido de milho e beterraba. Personalização do projeto e preço acessível do equipamento são diferenciais. Empreendedor acredita no potencial do setor e defende investimentos na produção em larga escala para atender pessoas com deficiência.

Mão mecânica do Fábio é feita de PLA, retirado do amido do milho e da beterraba. Imagem: Divulgação

Fábio Bilarva tem 29 anos e trabalha como escrevente no Tribunal de Justiça de São Paulo. Casado, pai de um menino, aproveita os momentos de lazer com a família em parques, passeios e viagens. E gosta de andar de skate.

Na adolescência, começou a perceber olhares em sua direção, reações de diversos tipos, entre surpresa e repulsa. Isso porque em sua mão esquerda há somente o polegar. Os outros dedos foram amputados quando ele tinha três anos, após acidente na padaria de seu pai, na cidade onde nasceu, no interior paulista.

“Eu tentava esconder a mão, colocava no bolso. As pessoas fazem, antes de tudo, uma avaliação estética do outro. E buscam a perfeição”, diz Fábio. “Como sofri o acidente quando era muito pequeno, me adaptei rapidamente, mas tinha vontade de tentar usar prótese, só que era muito caro”.

Dois anos atrás, Fábio foi em busca de equipamentos e encontrou na internet, na página de uma ONG dos Estados Unidos, o projeto de uma mão mecânica. Baixou o arquivo e começou a procurar empresas brasileiras dispostas a construir, pediu orçamentos, mas os valores eram sempre muito altos. 

Rodrigo, Fábio e Tiago têm em comum a paixão pelo Skate. Imagem: Divulgação

A resposta surgiu a partir do contato com a Wishbox Technologies, companhia criada há cinco anos por Tiago e Rodrigo Marin – eles são primos – com sede em Balneário Camboriú (SC), que vende impressoras 3D importadas dos EUA e da Holanda.

“Um dos nossos fornecedores publicou informações sobre uma prótese que um cidadão dos EUA criou para o filho. Passamos a acompanhar informações sobre esse assunto e encontramos uma comunidade internacional, a E-NABLE, onde as pessoas compartilham projetos de próteses para ajudar outras pessoas por meio da impressão 3D”, conta Tiago Marin.

“O Fábio nos procurou, apresentou o projeto da mão e pediu um orçamento, que ficou em torno de R$ 800, somente para a impressão, mas nós queríamos entender melhor a necessidade dele e descobrimos que ele tem a nossa idade, minha e do meu sócio, e que gosta de Skate, assim como nós gostamos”.

Essa identificação pessoal entre Tiago, Rodrigo e Fábio foi o ponto de partida para uma mudança na relação entre eles, que ultrapassou os trâmites comerciais e se transformou em uma amizade.

“Nosso foco é vender as impressores e, por isso, imprimimos de tudo para comprovar a funcionalidade e a eficácia dos nossos produtos. O projeto apresentado pelo Fábio foi o primeiro do tipo que recebemos. Então, decidimos não cobrar nada dele e produzir a prótese”.

A média de preço das impressoras vendidas pela Wishbox é R$ 17 mil, valor de um equipamento desktop com qualidade profissional. São usados diversos tipos de polímeros nas impressões. No caso da mão mecânica do Fabio, a matéria-prima é o PLA, constituído por moléculas de ácido láctico retirado do amido do milho e da beterraba. Em resumo, é um tipo de plástico que não tem petróleo na composição. Material totalmente ecológico e renovável.


 “Não coloco mais a mão no bolso. E as pessoas se aproximam para elogiar a prótese, saber mais, perguntam detalhes”, diz Fábio Bilarva.

Uma das limitações desse trabalho, explica o empresário, é a questão médica do processo. Recentemente, durante uma feira em São Paulo, ele conheceu dois ortopedistas que devem se tornar parceiros para aprimorar os projetos, fornecendo aval especializado. “A experiência com o Fábio nos estimulou. A prótese dele foi a primeira que produzimos, mas já estamos em contato com outra pessoa que tem uma deficiência para saber que tipo de equipamento ela precisa”.

“A impressão 3D de próteses para pessoas com deficiência é um potencial desse tipo de tecnologia. Estamos descobrindo a possibilidade que pode se tornar um negócio. Essas impressões podem ser usadas diretamente pela pessoa e também podem servir de modelos para a produção de equipamentos em materiais mais resistentes, como alumínio e outros metais”, conclui Tiago Marin.

Luiz Alexandre Souza Ventura
Fonte: Estadão 

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