Designer brasileira cria coleção para pessoas com deficiência
Compartilhe
Inspirada pelo irmão cadeirante, Denise Gonçalves de Sousa
desenvolveu treze peças feitas sob medida para modelos com deficiência
“Eu
gostaria de abrir a mente das pessoas para a moda inclusiva“, conta Denise
Gonçalves de Sousa, designer que criou uma coleção de 13 peças ideais para
pessoas com deficiência sem deixar de lado a linguagem da moda.
Formada
na Belas Artes, ela se inspirou na trajetória de vida de seu irmão Ivan, que
era cadeirante, para criar sua mais nova coleção. “Convivi 17 anos com ele e
pude presenciar a dificuldade para vesti-lo. Foi então que comecei a me
questionar e vi que a moda não olha para as pessoas com deficiência”, conta
sobre o propósito de suas peças. “Fiz também uma estampa geométrica inspirada
no estilo do meu irmão que usava camisas bem estampadas e coloridas, com estilo
dos anos 1980”. Apesar de ainda não ter começado as vendas, ela já pode receber
uma resposta positiva das modelos que participaram do editorial, e algumas
mensagens de pessoas com deficiência que adoraram o projeto.
Ela
contou à ELLE sobre seu processo produtivo e por que acredita que a inclusão de
pessoas com deficiência deveria deixar de ser uma barreira na moda — principalmente
nesse novo momento de quebra de estereótipos e preconceitos. Confira a
entrevista:
Você pode descrever como criou sua coleção?
Primeiramente eu criei um questionário online, e depois
participei de um concurso de moda inclusiva, em que perguntei para as modelos
as seguintes questões: quais eram as maiores dificuldades para se vestir, como
se sentiriam ao saber que existe uma marca que se preocupa com elas, como se
sentem em relação à moda, e o que facilitaria na hora de se vestir. Mesmo com
as resposta obtidas eu ainda não havia ficado satisfeita, e então passei a
abordar todas as pessoas com deficiência que eu encontrava nas ruas, nos
transportes públicos, no shopping… Trabalhei diretamente com as modelos, e elas
ajudaram e realizar os testes de funcionalidade e conforto em todas as provas
de roupas.
Como você foi desenvolvendo as modelagens e estilos de
cada peça?
Como eu tive um irmão que era cadeirante, eu presenciava as
dificuldades (que não são poucas) de vesti-lo. Ele não se levantava, então era
difícil tanto para ele como para quem estava cuidando. Em outras palavras, esse
problema afeta a autoestima pelo simples fato da pessoa com deficiência às
vezes não conseguir abotoar uma camisa sozinha ou vestir uma saia – e isso
pensando apenas nas cadeirantes. Temos as amputadas, pessoas com doenças raras,
como a osteogênese imperfeita, que geralmente tem como característica a baixa
estatura. Ou seja, a pessoa quer entrar em uma loja e encontrar roupas que a
sirvam e que facilitem ao máximo a hora de vestir, o que foi o meu mote para
criar a coleção.
A moda está discutindo padrões recentemente, mas de certa
forma as pessoas que foram o foco de sua coleção parecem ainda não terem sido
incluídas nessa conversa. Você sentiu isso na sua pesquisa?
Sim, essa sensação de “desencaixe” vem através da mídia e do
padrão de corpo que a moda impõe. Essa sensação atinge todos nós e não apenas
as pessoas com deficiência, mas no caso delas a sensação é maior por causa da
falta de funcionalidade das roupas. Elas não encontram corpos como os delas nas
revistas nem nas mídia, além disso a roupa já não é prática e nem confortável,
então o único sentimento que resta é o de desencaixe.
E quais foram as suas inspirações para tentar acabar com
isso?
A minha maior inspiração foi o meu irmão, tanto no tema moda
inclusiva quanto no desenvolvimento do estilo da coleção. Usei o estilo
colorido e geométrico das camisas que ele usava. Como a coleção foi pequena,
composta por apenas sete looks, eu convidei três modelos com corpos e com deficiências
diferentes, e assim os tamanhos e as peças foram desenvolvidas sob medida para
satisfazer suas necessidades — mas elas podem ser usadas por qualquer pessoa.
Por exemplo: uma saia longa que desenvolvi para a Letícia Guilherme, que tem
osteogênese imperfeita e mede 1,30 de altura, possui três barras pelo fato de
que ela possui dificuldade em encontrar uma saia longa que a sirva. Com o
modelo que eu criei, ela consegue retirar as barras e adaptar à sua altura. Uma
pessoa mais alta que ela consegue usar a saia colocando as barras. Esses foram
os pequenos detalhes que eu pensei para conseguir atender todas as pessoas.
Como podemos acabar com as desculpas que a moda ainda usa
para não incluir pessoas com deficiência?
Pensando
apenas na questão de vestimenta e não de marketing, eu acredito que existe uma
parte da moda que realmente não teve a sensibilidade de olhar para essa questão
da funcionalidade nas roupas. Alguns não se importam e outros não enxergam o
tamanho da necessidade, mas a maioria tem medo de não encontrar público e de
não vender. Na verdade isso tudo é por falta de conhecimento, pois a moda
inclusiva não é algo para segmentar, mas sim para agregar. Mas olhando para a
parte do marketing, eu realmente não entendo o porquê que as pessoas com deficiência
não estão nas propagandas, nos editoriais e/ou nas capas de revistas.
Por que você achou importante que todas as roupas pudessem
ser usadas por todas as pessoas?
Porque moda inclusiva é isso! Nenhuma pessoa com deficiência vai
deixar a sensação de desencaixe usando roupas segmentadas apenas para elas e
isso ocorre também com outros grupos excluídos.
Fonte: ELLE Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu Comentário é muito importante para nós.