Serviço de audiodescrição do Mirante de Joinville é testado
Compartilhe
O professor Osmar Pavesi, que é deficiente visual, usa
um telefone celular para ouvir a audiodescrição
A convite da reportagem de “A Notícia”, Osmar
Pavesi, de 46 anos, cego desde que nasceu, foi visitar o Mirante de Joinville para conferir
o serviço de áudio descritivo, que apresenta informações da paisagem da região.
A visita foi feita no dia 7 de abril, às 10 horas.
O Mirante é uma estrutura em concreto
armado com acabamento aparente, tendo 14,5 metros de altura da plataforma de
observação em relação ao solo. Além da plataforma, o Mirante é composto por
escadarias, elevador, e, no nível do solo, existem sanitários e salas para informações
turísticas, controle e segurança.
Além do áudio que descreve a paisagem, disponibilizado
também no site daPrefeitura de Joinville, há também um sobre a Janela,
que seria um segundo mirante existente junto à trilha que contorna o morro
do Boa Vista. Os materiais foram gravados pela coordenadora de radiodifusão
de informação da Fundação Cultural de Joinville, Tusi
Helena.
O percurso feito iniciou-se na trilha do morro do Boa
Vista, passando pela Janela e chegando ao Mirante. Na trilha, Pavesi teve o
apoio do guarda-corpo, mas que, segundo ele, não é suficiente. Sem a
intervenção de outra pessoa, o deficiente visual acaba batendo nas árvores que
encontra no caminho. Não há áudio descritivo deste percurso.
— Quem planejou não pensou nas pessoas cegas —
disse Pavesi, que ainda considera o serviço muito interessante pela preocupação
da Prefeitura.
Chegando à Janela, Osmar ouviu pelo celular
o áudio descritivo de cerca de seis minutos, gravado na voz de Tusi.
— As informações técnicas são muito boas — disse
Pavesi, que revelou que quando era “gurizão” subia o morro do Boa Vista
correndo.
Antes de subir as escadas do Mirante, Pavesi encontrou
o gerente da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Reginaldo da Roza. Ele
aproveitou para fazer suas considerações sobre o complexo.
— A grande proposta é o pessoal ser treinado para guiar
adequadamente o deficiente visual — disse Pavesi.
A subida ao Mirante foi feita pela escada porque o
elevador estava em manutenção. Pavesi já havia ouvido o áudio descritivo do
Mirante, mas aproveitou para fazer isso lá de cima. O áudio tem pouco mais de
três minutos. Ele vai voltar ao local neste domingo, desta vez acompanhado de
seus alunos. Osmar é professor na Associação Catarinense de Ensino
(ACE), onde ministra uma disciplina optativa para o curso de psicologia
sobre atendimento educacional do deficiente visual. Para a visita, o professor
também convidou alguns colegas com deficiência visual. A ideia é ir além do que
o áudio apresenta. Para ele, o áudio não chega a ser tão detalhista.
Segundo a Prefeitura, desde que foi
reinaugurado, há um mês, mais de 20 mil pessoas visitaram o ponto turístico.
Para comemorar, a visitação terá horário ampliado: neste sábado,
ficará aberto até as 22 horas. O horário-padrão é das 7 às 19 horas e abre
todos os dias. O horário do serviço de transporte de ônibus até o Mirante será
ampliado até o de fechamento. A saída parte do terminal urbano central, a
partir das 8 horas, com intervalos de 20 minutos.
O acesso ao Mirante para o roteiro noturno continua
sendo o mesmo, com permissão apenas para a linha de ônibus especial desde o
terminal central até a base do Mirante. O valor da passagem é de R$ 3,70
(antecipada) e R$ 4,50 (embarcada). A volta é gratuita. Os visitantes podem
escolher entre subir a pé ou de bicicleta. A subida de carros e motos é
proibida.
Ideia partiu de arquiteta
O áudio foi uma iniciativa da arquiteta e urbanista Carolina
Stolf Silveira, coordenadora da unidade de planejamento da Fundação
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano para o Desenvolvimento Sustentável
de Joinville (Ippuj)e doutoranda na área de acessibilidade espacial.
— As descrições em áudio são essenciais para pessoas
com deficiência visual. Essas descrições têm um campo muito amplo para serem
aplicadas na cidade, para que as pessoas cheguem aos seus destinos, para
visitar locais que antes não eram visitados. Tendo essas informações técnicas
mais exemplificadas, o deficiente visual consegue fazer essa imagem mental e
tirar proveito desse ambiente — disse Carolina, que informou que o serviço não
teve nenhum custo para a Prefeitura.
Carolina disse que o áudio não serve só para pessoas
cegas, pois traz uma série de informações importantes que vão além da descrição
da paisagem.
— A ideia da descrição é, principalmente, para quem tem
cegueira adquirida. As pessoas podem estar revivendo. Essa é a ideia principal.
A maioria são cegos adquiridos — disse Carolina, que disse o Ippuj não tem
previsão para fazer o mesmo em outros lugares.
O geógrafo Jorge Luis Araújo de Campos e
o arquiteto e urbanista Vânio LesterKuntze, diretor executivo do
Ippuj, participaram na formação textual da descrição da paisagem e da
arquitetura do Mirante e seus elementos. O material também teve apoio da Associação
Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi) e da Fundação
Cultural. Os dois áudios e a transcrição completa podem ser conferidos no
site da Prefeitura: www.joinville.sc.gov.br.
Os elogios, críticas e sugestões de Pavesi foram levados para os responsáveis
pelo projeto.
O que diz a Sema
O gerente da Sema, Reginaldo da
Roza, ouviu as sugestões de Pavesi e informou que a demanda dos guias é da
Fundação Turística.
— A Sema é responsável pela gestão do parque, que
envolve segurança, zeladoria, limpeza, parte operacional e manutenção — disse
Reginaldo, que se comprometeu a levar as considerações de Pavesi para uma
reunião de avaliação do primeiro mês de reabertura que será feita na semana que
vem. A reunião contará com a presença de representantes do Ippuj, Fundação
Turística, Sema, Secretaria de Comunicação Social (Secom) e Secretaria
de Proteção Civil e Segurança Pública (Seprot).
O que diz a Fundação Turística
Douglas Hoffmann, gerente de
marketing da Fundação Turística, confirmou que esta demanda é da
fundação, mas que hoje este trabalho não é realizado e não há nada previsto
neste sentido.
— Acredito que não seja justo ter guias para pessoas
cegas e para as outras não. As pessoas têm que ser tratadas igualemnte — disse
Douglas, que informou que este serviço deve ser contratado em agências
particulares.
Ele relatou ainda que há alguns anos a Prefeitura
realizava este acompanhamento, mas depois de um processo da Associação de Guias
Turísticos de Joinville, o serviço foi encerrado. A alegação é que a Prefeitura
estaria fazendo o serviço dos guias.
O que diz o Ippuj
O Ippuj infirmou que está providenciando um projeto de
acessibilidade específico para o Mirante. O projeto contaria com sinalização
tátil no piso. Sobre os guias, não há nada previsto.
— O Mirante tem uma comunicação
visual. Dá para disponibilizar os elementos principais sonoros ou táteis, de
repente uma maquete — conta Carolina, que acredita que com a sinalização tátil
o deficiente visual já consiga se localizar melhor.
— Ele sai da sua casa, vai até o ponto de ônibus mais
próximo, vai até a estação central e no ponto que desembarca tem sinalização.
O que diz a Ajidevi
A Ajidevi entende que nem sempre dá pra fazer as ações
necessárias por causa de questões ambientais.
Fonte: A Notícia
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu Comentário é muito importante para nós.