Pais têm dificuldades para colocar filhos especiais em escolas comuns
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O segundo episódio da série de reportagens
sobre a educação inclusiva mostra os obstáculos enfrentados pelos pais na hora
de encontrar escolas.
Essa
semana, o JN está exibindo uma série de reportagens sobre os resultados da
inclusão de crianças com necessidades especiais em escolas comuns.
O
Guilherme vai feliz para a escola. O menino perdeu parte dos movimentos do
corpo por causa de uma paralisia motora, mas com o apoio dos pais, não tem
obstáculo para ele.
No
dia das gravações, quando chegam ao colégio, em Rolim de Moura, interior de
Rondônia, não tem despedida. A mãe precisa ir junto para a aula – e foi assim
durante três anos.
A
mãe assumiu um dever que é da escola, ajudar o filho nas tarefas escolares.
Anny ficava ao lado do Guilherme porque não havia um mediador, um professor
assistente, para auxiliar o menino.
O
direito a um atendimento especializado é garantido pela atual Lei de Diretrizes
e Bases da Educação e pela Constituição Federal. E agora também por uma nova
lei, que vai entrar em vigor em janeiro de 2016, que torna obrigatória a
presença desse profissional em sala de aula.
O Ministério da Educação não
tem uma estatística específica sobre o número de mediadores para atender às
crianças com deficiência.
Anny
pediu uma solução à prefeitura e ao Governo do Estado de Rondônia. E levou o
problema até a Justiça.
Durante
o todo tempo em que a equipe do Jornal Nacional esteve na escola, Guilherme foi
sempre acolhido pelos colegas.
“Quem
termina primeiro ajuda o Guilherme”, conta um colega.
“A
gente ajuda, auxiliando ele, tirando ele da mesa, pegando a carteira. Tem vez
que a gente muda de sala”, diz outro colega do Guilherme.
Os
professores também ajudam, mas muitas vezes, se sentem despreparados.
“Não
tem como o professor, com 31 alunos, dar a assistência como é necessária a
esses alunos”, afirma Edgar dos Reis, professor.
“Eu
tenho alunos que são surdos-mudos. Não estou preparado para dar uma aula com a
linguagem de sinais. Então, se tivesse o facilitador com o aluno ali,
obviamente que ele iria aprender”, diz Gilson Marcos, professor.
Só
três meses depois da equipe de reportagem estar na escola, a Secretaria
Estadual de Educação deu uma solução temporária para o caso: uma funcionária do
colégio está acompanhando o Guilherme em sala de aula.
“A
informação que eu tenho é que ela trabalhava na secretaria da escola e foi
remanejada pra cuidar dele, porém ela não tem qualificação. Mas está dando
certo”, conta a mãe do Guilherme, Anny Ribeiro Maia Lopes.
Na
turma do Guilherme, duas outras mães de alunos continuam na mesma situação, sem
uma assistente, e com a vida de cabeça para baixo:
“Eu
deixo minha casa lá, e o meu serviço todo fica. Bom, antes ele na escola do que
eu estar lá cuidando e ninguém aqui por ele”, afirma Márcia Aparecida dos
Santos, mãe do Márcio.
A
Secretaria de Educação informou que vai fazer um concurso em janeiro de 2016,
mas os profissionais vão ajudar apenas no deslocamento dos alunos e não nas
tarefas em sala de aula.
“Eles
serão técnicos de nível médio e irão exercer essa função que é cuidar do aluno
no momento em que o aluno precisa ser levado para o refeitório, no momento em
que o aluno precisar ir para o banheiro”, explica Fátima Gavioli, secretária
estadual de Educação de Rondônia.
Enquanto
isso, Guilherme sonha com o futuro: “faculdade de doutor”, conta o menino.
“O
meu sonho é ver ele receber o canudo na faculdade. Eu até fico emocionada de
falar isso, porque é meu sonho vê-lo formado. Desistir, jamais!", diz a
mãe.
Eugênia
também é uma grande incentivadora do filho, que tem Síndrome de Down. Vinícius
estuda no nono ano do ensino fundamental numa escola comum.
Eugênia:
Quanto você tirou em Artes?
Vinícius: Nove e meio.
Eugênia: Ele tá com nota boa.
Além
de mãe do Vinícius, Eugênia é procuradora da República pelo estado de São Paulo
e uma defensora da educação inclusiva. Ela acha que a questão vai além da
presença, ou não, do mediador em sala de aula.
"O
que a gente vê é que tem muitas escolas que não querem se comprometer com esses
alunos. Inclusive, essa exigência de um professor só para cuidar da pessoa com
deficiência está errada, porque a escola inteira que tem que se
comprometer", afirma Eugênia Eugusta Gonzaga, procuradora da República e
mãe de Vinícius.
Vemos
um exemplo desse compromisso num centro de educação infantil do município de
São Paulo.
O
Enzo é autista e o diagnóstico dele foi feito na creche a partir da observação
dos professores. Uma das funções da creche é, inclusive, ajudar os pais a
reconhecerem a condição dos seus filhos, que nesse estágio da infância nem
sempre é clara.
Para
quem não saía do seu canto, nem queria conversa, ele já fez progressos.
Aprendeu a contar até em inglês.
“Ele
chama, mamãe, papai, coisas que ele não falava até pouco tempo. Foi um grande
progresso. Ele é uma bênção, graças a Deus”, conta a mãe do Enzo, Zaniely Reis
Vieira Lima.
"Na
minha formação de pedagogia não tive esse olhar pra inclusão, esse olhar pra
criança especial. Mas como professora, nós estamos sempre procurando
estudar", diz a professora Laura Paulina Ribeiro.
Fonte: Jornal Nacional
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