'Nos uniu ainda mais', diz casal de jovens que tem bebê com Down
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Filha do casal de Guarapuava, no Paraná, tem 1 ano e 6
meses.
Mãe descobriu gravidez quando tinha 20 anos e o namorado, 21.
Os universitários Paloma Jak e Douglas Leonel não
planejavam casar e ter filhos antes de formados. As coisas saíram diferente do
esperado. Hoje, 1 ano e 6 meses após a Beatriz vir ao mundo, eles lamentam não
ter tido a filha, portadora da síndrome de Down, antes. “Ela nos uniu ainda
mais, nos deixou mais fortes. Antes, éramos fúteis", garantem.
Paloma descobriu a gravidez prestes a concluir o curso
de educação física e já no primeiro ano de fisioterapia. Ela tinha 20 anos e o
namorado, estudante de engenharia civil, 21.
À época, a gestação não foi o que mais assustou o jovem
casal de Guarapuava,
na região central do Paraná.
O que mais preocupou os pais foi o diagnóstico da síndrome. Na idade de Paloma,
uma em cada 1.000 mulheres costuma ter um bebê com Down, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS).
A síndrome
Durante a fecundação, os genes do homem e da mulher se fundem para criar uma
nova vida. O normal é que cada célula formada a partir desta união tenha 46
cromossomos, 23 da mãe e 23 do pai. Na síndrome de Down, acontece um acidente
durante essa multiplicação de células.
Em vez de 46 cromossomos, surgem 47: três cópias do
cromossomo 21, em vez de duas. Entre as características mais frequentes dos
portadores da síndrome, estão os olhos amendoados e um atraso no
desenvolvimento intelectual, que varia muito de criança pra criança.
Olhos amendoados e baixo tônus muscular são
características dos portadores da síndrome de Down (Foto: Paloma Jak/Arquivo
pessoal)
O casal conta que soube da síndrome de Down ainda
durante a gravidez. “Em um dos ultrassons, o médico disse que o bebê não estava
se desenvolvendo direito, que havia algo errado porque estava muito
pequeninho”, conta Douglas. Então, os jovens foram até Curitiba para fazer
exames mais específicos.
Primeiro, Paloma fez a chamada translucência nucal, uma
ultrassonografia que é feita entre a 11ª e 13ª semana de gravidez. Neste
período, a análise da quantidade um líquido que fica na nuca e de um ossinho do
nariz do feto ajudam a apontar as probabilidades de uma alteração genética.
Em um dos ultrassons, médico disse ao casal
que o bebê não estava se desenvolvendo direito
(Foto: Paloma Jak/Arquivo pessoal)
|
“Quando saiu o resultado da translucência, o médico nos
disse que era quase certo que a nossa filha tinha síndrome de Down”, conta
Douglas.
Para ter certeza, geralmente, é feita uma análise do
número de cromossomos, o material genético presente nas células do feto.
O material pode ser retirado por uma punção da
placenta, a partir da 10ª semana; mais tarde, entre a 15ª e a 18ª semana, com a
pulsão do líquido amniótico dentro do útero da mãe, como no caso de Paloma.
Dias após a namorada fazer o exame, Doulas estava se
arrumando para ir à faculdade quando o celular tocou. Era o médico. "Ele
me disse que no exame constava que a Bia tinha síndrome de Down”, lembra o pai.
O estudante relata ainda que Paloma ficou em choque ao saber.
Então, os dois, que sabiam muito pouco sobre a
trissomia 21, decidiram pesquisar mais sobre a síndrome. “O que me deixou mais
tranquila foi encontrar várias histórias em que os portadores conseguem, sim,
ter uma vida normal. Eles estudam, trabalham, têm amigos e relacionamentos
amorosos como qualquer outra pessoa”, explica a mãe.
A todo vapor
Depois de quase nove meses, Bia nasceu – poucos dias depois da formatura de
Paloma – com quase 2,5 kg e 44 centímetros. “Quando peguei a minha filha no
colo, travei. Foi a partir daí que a minha ficha caiu. Ela veio no melhor
momento”, relata o pai, que assistiu ao parto inteirinho sem passar mal.
Desde o nascimento da filha, Paloma mora na casa da
família de Douglas. Os jovens, que ainda estão na faculdade, também trabalham e
planejam ter um apartamento só para eles e para a filha.
O tempo que sobra na vida corrida dos dois é dedicado
para a Bia, que também é o xodó dos avós, dos tios e dos amigos dos pais.
Além dos estímulos que recebe em casa, da família, a
pequena faz fisioterapia, terapia ocupacional e vai à fonoaudióloga. Sem contar
a escola, que ela passou a frequentar há duas semanas.
Apesar de estar a todo vapor, Beatriz não anda e não
fala ainda. Ela vai a uma escola regular, mas estuda com bebês um pouco mais
novos porque não caminha.
Os pais contam que o que atrasou o desenvolvimento da
filha foi um defeitinho no coração, recorrente em crianças que têm Down. Alguns
defeitos cardíacos têm pouca importância e podem ser tratados com medicamentos.
Entretanto, há outros que requerem cirurgia. A Bia precisou passar por uma
operação aos cinco meses de idade.
Um dia, uma mulher que eu nem conheço viu a foto da Bia
no meu celular e disse 'É sua filha? Deve ser difícil esperar um bebê e ele vir
assim"
Paloma Jak, mãe
Depois da intervenção cirúrgica, os jovens contam que
as coisas só melhoraram. “Antes, era difícil amamentar. Ela cansava já nas
primeiras mamadas, chegava a suar. Depois, ficou fácil. Tanto que a Beatriz
mama até hoje, quatro vezes por dia”, conta a mãe.
Agora, a menina também tem mais fôlego para brincar.
"As professoras da escola têm certeza que ela vai
ser uma artista. A Bia ama atividades que envolvam música, ela ama os sons. Em
casa, a Bia para tudo o que estiver fazendo quando ouve a música do Jornal
Nacional", revela Paloma.
O preconceito
Entretanto, apesar de ver a filha se desenvolvendo bem, a jovem teme que
Beatriz sofra preconceito algum dia. Ela, como mãe, conta que já sentiu na pele
a ignorância das pessoas.
"Um dia, uma mulher que eu nem conheço viu a foto
da Bia no meu celular e disse ‘É sua filha? Deve ser difícil esperar um bebê e
ele vir assim, né?’”, lembra Pâmela.
Entretanto, segundo a jovem, ela e o namorado estão
dispostos a preparar a filha para situações assim.Colocá-la em uma escola
regular, de acordo com Paloma, é uma das tentativas de fazer com que ela se
acostume com todos os tipos de gente.
"Sugeriram que eu matriculasse a minha filha em
uma escola só com crianças especiais, mas e quando ela crescer e tiver que ir à
farmácia sozinha? Lá não vai ter só gente com Down. E aí? Ela saberia lidar com
os outros?", questiona Paloma.
Os dois jovens dizem que querem ver a filha feliz e
que, para isso, fazem e sempre farão o possível. "Nós mudamos por causa
dela, nos tornamos pessoas melhores. Faríamos tudo de novo. O mínimo que
podemos fazer para retribuir é fazê-la sempre feliz. Vamos fazer o que for
necessário para que ninguém atrapalhe sua felicidade", afirmam os jovens.
Fonte: G1
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