Deficiente auditivo motiva médicos a aprenderem Libras em hospital de MS

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Equipe médica buscou aplicativos de celular e livros de saúde em Libras.
Paciente também estava com baixa visão e sequelas motoras nas mãos.

Deficiente auditivo desde os 4 meses de idade teve complicações do diabetes (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)

O vendedor autônomo Ralf Amorim Amstrong, de 29 anos, deficiente auditivo desde os 4 meses de vida, se tornou um paciente especial para uma equipe médica do Hospital São Julião, em Campo Grande. Desde que chegou ao local, há quase um mês, a comunicação entre ele e os médicos se tornou um desafio para as duas partes. O primeiro objetivo era saber o histórico do paciente.

A equipe médica se desdobrou para tentar se comunicar com Ralf, que além de deficiente auditivo também estava com a visão prejudicada e gestos também comprometidos, por conta da diminuição motora nas mãos provocada pelo diabetes. Do outro lado, o paciente tentava se expressar, mesmo diante das limitações.

A dificuldade de comunicação era tanta que os médicos não tinham conhecimento nem do histórico de saúde do paciente. O que poderia ser um problema acabou virando motivação para a equipe buscar conhecimento na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A ajuda veio da internet, onde os médicos descobriram um aplicativo de celular e livros de Libras para área da saúde. Para os profissionais, um desafio diferente, inédito para a maioria. Para a família do Ralf, um esforço que demonstrou boa vontade em fazer a diferença na reabilitação do paciente.

“Vi nos médicos essa dedicação de fazer o melhor para atender cada paciente de uma forma mais humanizada, principalmente meu irmão. Eu já sabia da fama do hospital de ter um atendimento diferenciado", disse o músico Alexsandro Oliveira Amorim, 36 anos, irmão de Ralf.

Alternativas

Médico Fábio Sartori comprou livro 
para aprender Libras 
(Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)
Um dos médicos que atendeu Ralf, Fábio Sartori disse ao G1 que, no primeiro momento, não sabia como lidar com o paciente especial. "Quando vi pensei: e agora? Como vou falar com esse cara? Minha mãe, que é psicóloga, trabalhou com deficiente auditivo na educação, então me ensinou algumas coisas de Libras quando eu era guri, mas nunca aprendi o suficiente para estabelecer uma conversa e desaprendi porque não usei", explicou Fábio.

Também médica da equipe, a doutora Isabella Diniz Melo Falkine, diz que na faculdade eles não tinham opções de curso de Libras para área da saúde. O aplicativo de celular, que traduz palavras e frases, faladas ou escritas em gestos de Libras, se tornou uma das ferramentas usadas pelos profissionais.

A equipe tem enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeuta e, no começo, a gente pensou em fazer algum curso, a gente até achou alguns, só que o paciente já estava aqui, então a gente ia assistir a primeira aula de Libras e ele provavelmente já teria alta. E outra, a gente não sabia também direito o quanto de Libras ele sabia", considerou Fábio.

A outra opção é a ajuda do irmão de Ralf, que vai quase todos os dias ao hospital. Mesmo sem saber a linguagem de sinais, Alex diz que consegue se comunicar com o irmão por gestos improvisados, por isso ajuda os médicos na comunicação básica.

"A gente precisava conversar com ele para saber o mínimo, de como está indo ao banheiro, se está dormindo, se não está, se está com dor e aí a gente foi adaptando. Então, achamos um aplicativo no celular e fomos aprendendo", relatou o médico.

Com certa dificuldade para traduzir a pergunta feita pelo G1, o irmão improvisou gestos e perguntou a Ralf como era o contato com a equipe médica. Com movimentos resumidos, o paciente respondeu, segundo o irmão, que o esforço dos médicos foi importante para melhorar o atendimento.

Outra dificuldade encontrada é que a linguagem de sinais, assim como a comunicação falada e escrita, tem variações dependendo da região do país, como se fosse um sotaque, segundo Alex.


Parte do histórico do paciente foi descoberto pelos médicos com a ajuda de outra funcionária do hospital, que também é deficiente auditiva. Segundo Fábio, a colega fazia leitura labial do que os médicos falavam e conseguia traduzir para o paciente, que respondia.

O médico Fábio explica que os problemas na visão e diminuição motora das mãos de Ralf foram consequências de cetoacidose diabética, que é uma complicação aguda do diabetes. Segundo o profissional, isso geralmente acontece quando o paciente não sabe que é diabético.

"Por isso nossa preocupação se ele tinha noção da seriedade da doença", explicou. Segundo a família, Ralf sabia das condições de saúde e estava seguindo o tratamento corretamente, até que parou de tomar insulina por conta própria, sem a família saber.

A previsão é que o paciente tenha alta médica até a sexta-feira (31), quando deve ir para a casa retomar as atividades. Quando isso acontecer, Alex diz que vai cuidar mais de perto do irmão, com a ajuda da família. Ele garante também que junto com a mãe via fazer um curso de Libras, para melhorar a comunicação com o irmão.

"Por descuido nossa família nunca buscou aprender Libras, mas agora vamos fazer isso. O Ralf tem vários amigos, viaja o Brasil todo, para conhecer lugares novos com a família. Sempre se virou sozinho, desde criança. Estudou em escola especial, depois foi trabalhar e só parou agora, porque está no hospital. Saindo daqui deve retomar a rotina", reforçou o irmão.

Ainda segundo Alex, a esposa de Ralf também é deficiente auditiva. "Eles têm uma filha que não tem deficiência e é a intérprete deles para tudo", explicou o músico. Em homenagem ao irmão, ele diz que pretende, junto com a esposa, adotar uma criança e revela preferência por órfãos  que tenham deficiência auditiva.

"É uma forma de homenagear meu irmão, dar um sobrinho especial como ele e também dar oportunidade de uma criança órfão ter uma família", ressaltou.


Parte da equipe médica que atendeu Ralf no Hospital São Julião (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)

Fonte: G1

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