Surdos com nota mil no Enem
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*Por José Petrola
Nesta edição do Enem, vários candidatos com algum tipo de
deficiência auditiva se destacaram por ter notas altas na prova de redação. A
acreana Oziany Lindoso, 33 anos, esteve entre os 250 únicos candidatos a
alcançarem a pontuação máxima – nota mil na redação (http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2015/01/fiz-so-para-testar-diz-acreana-surda-nota-mil-na-redacao-do-enem.html).
Outro candidato vencedor foi o garoto Cezar Vitor Pinheiro, de 14 anos, também
surdo oralizado, na cidade de São Sebastião do Maranhão (MG), no Vale do
Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do Estado (http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/2015/01/1576782-garoto-surdo-de-14-anos-alcanca-nota-mil-no-enem.shtml).
Não se trata de superar a surdez. Ela continua existindo, é uma característica
da pessoa – mas não torna ninguém incapaz.
Em primeiro lugar, isto mostra que pessoas com
deficiência também são capazes e muitas vezes se destacam – desde que, na
avaliação, não se veja a “cara” do candidato, como ocorre em vestibulares,
concursos públicos e outras provas. O que também serve como uma medida do
preconceito existente na sociedade.
Isto também desmente um mito sobre a incapacidade dos
surdos de aprenderem a se expressar corretamente em português. É comum que
surdos usuários de Libras aleguem que, para eles, a redação deveria ser
corrigida com critérios diferentes, devido à maior dificuldade que têm para
aprender o português (http://www.ebc.com.br/educacao/2014/11/estudantes-surdos-tem-dificuldade-para-se-preparar-para-o-enem).
Isto pode até ser válido para os surdos sinalizados, mas não para os
oralizados.
Um ponto em comum entre os surdos que conseguiram boas
notas no Enem é que todos tiveram de enfrentar preconceito na escola, em maior
ou menor grau, porém contaram com professores compreensivos, que procuraram
tornar suas aulas mais acessíveis. Pequenas mudanças, como colocar o aluno
surdo na fileira da frente e dar as explicações sempre de frente para os
alunos, em vez de olhar para o quadro-negro, fazem toda a diferença.
Outro fator que contribuiu para estes sucessos no Enem
foi a intimidade com a leitura. Para quem tem alguma dificuldade de audição, o
texto escrito acaba se tornando uma espécie de porto seguro, e isto é muito
importante. Só pode escrever uma boa redação alguém que lê muito e vê a
linguagem escrita como uma aliada.
O importante agora é que estes jovens continuem chutando
a porta do preconceito em suas vidas, pois a inclusão só será possível com
muitos Cezares e Ozianys brigando por seus direitos.
Fonte: Guia Inclusivo