Câmara de Lisboa juntou-se à luta de muitos cidadãos com deficiência por uma vida independente e lançou um projecto-piloto
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Portugal
Com uma greve de fome junto ao Parlamento e uma viagem de 180 quilómetros numa cadeira de rodas, o tetraplégico Eduardo Jorge tornou-se o rosto da luta pelo direito das pessoas com deficiência a uma vida independente. O apelo que fez ao Governo para que lançasse um projecto-piloto nessa área ficou sem resposta, mas a Câmara de Lisboa vestiu a camisola e lançou uma iniciativa com a qual promete alternativas à institucionalização.
Com uma greve de fome junto ao Parlamento e uma viagem de 180 quilómetros numa cadeira de rodas, o tetraplégico Eduardo Jorge tornou-se o rosto da luta pelo direito das pessoas com deficiência a uma vida independente. O apelo que fez ao Governo para que lançasse um projecto-piloto nessa área ficou sem resposta, mas a Câmara de Lisboa vestiu a camisola e lançou uma iniciativa com a qual promete alternativas à institucionalização.
“É uma pedrada no charco”, avalia Jorge Falcato, o técnico municipal que
assumiu a coordenação do Projecto Vida Independente, defendendo que está em
causa “uma mudança radical no que é habitual fazer”. Até ao dia 3 de Fevereiro
está aberto “um período de auscultação da Comunidade de Pessoas com Deficiência
para recolher opiniões e sugestões” sobre a proposta camarária, que foi
recentemente apresentada pelo vereador dos Direitos Sociais da Câmara de
Lisboa, João Afonso.
Na prática, aquilo que a câmara pretende fazer é concretizar um projecto-piloto
que envolva, por um período mínimo de dois anos, cinco a dez pessoas “com
deficiência, com limitações físicas que impeçam a realização autónoma de
tarefas da vida diária”. A essas pessoas será dada a oportunidade de
contratarem, com verbas disponibilizadas pelo município, assistentes pessoais
que lhes dêem o apoio de que necessitam em casa, evitando a
institucionalização.
A ideia, como se pode ler no documento disponível para consulta no
endereço lisboasolidaria.cm-lisboa.pt,
é que este projecto-piloto “seja promovido e gerido colectivamente pelos
futuros utilizadores e outras pessoas com deficiência com mais experiência,
organizadas num Centro de Vida Independente (CVI)”. No entendimento da câmara,
esse centro “deve ser uma organização sem fins lucrativos, constituída e
dirigida por pessoas com deficiência”.
Aquilo que se propõe é que o CVI assuma funções como o apoio ao recrutamento
dos assistentes pessoais, à identificação das suas necessidades de formação e à
gestão da relação laboral entre o utilizador e o assistente. A esta estrutura
deverá também caber a definição e gestão dos “aspectos colectivos da prestação
de assistência pessoal”, nomeadamente em relação aos “valores de referência,
processos de pagamentos de impostos e contribuições e seguros de trabalho”.
A câmara compromete-se a ceder as instalações necessárias à prossecução do
trabalho do CVI. Além disso, atendendo a que, “para muitas pessoas com deficiência,
a mudança para uma habitação própria é um passo indispensável para a
emancipação”, o município promete disponibilizar aos participantes no projecto
que tenham essa necessidade habitações, devidamente adaptadas para os receber.
De acordo com os cálculos da câmara, a contratação dos assistentes pessoais
“não deverá ultrapassar os 13 mil euros anuais por utilizador”, verba que,
segundo o vereador João Afonso, está assegurada. “O projecto-piloto vai
existir”, garante o autarca dos Cidadãos por Lisboa, acrescentando que a sua
expectativa é que no próximo Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, a 3
de Dezembro de 2015, se tenha já passado da teoria à prática.
Questionado sobre se a autarquia não está com esta iniciativa a assumir aquilo
que competiria ao Governo, o vereador responde: “Sim, está. Este é um modelo
possível daquilo que o Governo devia fazer.” “A câmara está a dar um empurrão.
Às vezes, o que custa é dar o primeiro passo”, acrescenta depois, notando que
“talvez seja mais fácil a quem está na base” fazê-lo.
Mudar a qualidade de vida
Para João Afonso, ficar de braços cruzados e não dar o contributo possível para “as pessoas terem a possibilidade da livre escolha, independentemente da sua condição física”, não era uma opção. “Não podemos continuar a achar normal que uma pessoa que é institucionalizada receba 950 euros e que uma que fica em casa com a família receba 88 euros [para pagar a assistência por 3.ª pessoa]”, critica o autarca.
Tanto João Afonso como o coordenador do projecto-piloto agora lançado sublinham
que esta ideia da vida independente é tudo menos nova, tendo já sido posta em
prática com sucesso em vários pontos do globo, designadamente na cidade
espanhola de Barcelona. Já em Portugal, lamenta-se, no documento que está em auscultação
pública, que a orientação política oficial tenha passado "pela delegação
das responsabilidades do Estado nas famílias que integram pessoas com
deficiência, ou pela sua institucionalização”.
Para Jorge Falcato, a iniciativa vai permitir, através de “uma mudança radical
naquilo que é habitual fazer”, que “a qualidade de vida” das pessoas envolvidas
“aumente radicalmente” mas também pela própria metodologia.
“Normalmente, impõem-se soluções, mas os técnicos não sabem tudo sobre a vida
das pessoas nem sobre as suas necessidades”, constata o coordenador do
projecto-piloto, sublinhando a importância dos dois meses de auscultação da
proposta e das três sessões públicas sobre a mesma, que prevê realiza,r e
também o papel que terá o CVI.
“Tenho esperança neste primeiro projecto pela vida independente. É fantástico
que alguém tenha tomado a iniciativa”, diz por sua vez Eduardo Jorge. Em
Setembro, o tetraplégico viajou de
Abrantes para Lisboa numa cadeira de rodas para exigir ao
Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social o lançamento de um
projecto-piloto a nível nacional e a criação de um grupo de trabalho para o concretizar.
Hoje continua à espera de uma resposta e promete realizar uma nova greve de
fome se ela não chegar.
Fonte: Púbblico e Blog Tetraplégico
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