Professora paraplégica supera limites e dá aulas em pé com cadeira especial
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Léia Borges, de Rifaina (SP), voltou a dar
aulas cinco anos após acidente.
Equipamento de R$ 20 mil é necessário para
fortalecer ossos e órgãos.
Felipe Turioni
Quando fez o juramento solene na formatura do curso de
pedagogia, a professora Rosileia da Costa Borges, de 39 anos, não imaginava as
dificuldades que teria pela frente para continuar exercendo a profissão após
sofrer um acidente que a deixou paraplégica. Nesta quarta-feira (15), Dia do
Professor, ela tem mais um motivo para comemorar. Há dois anos retornou às
salas de aula e com ajuda de uma cadeira de rodas especial consegue até ficar
em pé para escrever na lousa da escola estadual Henriqueta Miranda, em Rifaina (SP). (Veja
vídeo acima)
Com ajuda de cadeira, Léia consegue dar
aulas em pé em escola
(Foto: Felipe Turioni/G1)
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Léia, como é conhecida, perdeu os movimentos depois de
capotar o carro que dirigia, em 2007. Ela saía de uma fazenda com o filho,
então com 4 anos, e os irmãos, e voltava para a casa dos pais, quando perdeu o
controle do veículo em uma estrada de Sacramento (MG).
“Eu sempre fui enjoada com cinto de segurança, pedia para todo mundo colocar,
mas nesse dia eu estava dirigindo numa estrada de terra antes de entrar no
asfalto, todo mundo estava conversando, eu nem notei que estava sem cinto e fui
arremessada para fora do carro”, conta.
Recuperação
Somente Léia ficou ferida no acidente e precisou ficar 25 dias internada em um
hospital de Franca (SP),
onde morava na época. O diagnóstico de paraplegia levou seis meses para ser
conclusivo e foi nesse momento que ela percebeu que seu jeito didático poderia
dar forças para enfrentar a condição de cadeirante e superar as dificuldades.
“Eu estava com mais 40 pessoas aprendendo sobre lesão medular no Instituto
Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte, estava todo mundo amedrontado e só eu com
coragem para fazer as perguntas, que sempre tinham respostas negativas”,
relembra.
Já tínhamos nãos suficientes para dizer sim para a
vida"
Léia Borges, professora
“Tudo o que eu questionava o médico respondia: ‘não,
não há possibilidade’. Perguntei se existia chance de regenerar a medula com
células tronco: ‘não, não há possibilidade’. Chegou um momento que eu fui
clara, perguntando se todos que estavam ali não tinham chance nenhuma de voltar
a andar, o médico respondeu que era isso, e todos encheram os olhos de lágrimas
e começaram a chorar. Foi quando eu percebi que já tínhamos nãos suficientes
para dizer sim para a vida”, afirma Léia. Ao sair do anfiteatro onde o médico
atendia, a professora sugeriu que todos apostassem corrida com as cadeiras de
rodas. “Todo mundo voltou a sorrir e saímos correndo pelo corredor”, diz.
Retorno às aulas
A volta de Léia às salas de aula ocorreu cinco anos depois do acidente e duas
cirurgias. A professora também precisou esperar dois anos para a publicação da
readaptação dela pela Secretaria de Estado da Educação. O retorno foi na escola
José dos Reis Miranda Filho, em Franca, e há três meses pediu transferência
para Rifaina, para ficar mais perto da família e dar uma criação melhor para o
filho de 11 anos, quem considera o grande responsável por sua superação. “Ele é
minha maior motivação, para continuar vivendo, lutando, para educar e ver
crescer”, comenta.
Léia dá aulas de reforço pedagógico em escola
de Rifaina, SP (Foto: Felipe Turioni/G1)
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Com movimentos apenas nos braços, pescoço e cabeça ela
utiliza um carro adaptado para dirigir 30 quilômetros entre Sacramento, onde
mora, e Rifaina para dar aulas de apoio pedagógico três vezes por semana.
Segundo ela, a escola já estava adaptada quando chegou. “Estava tudo pronto, só
não tinha quem usasse”. No local, há rampas e barras para ajudar na locomoção,
além de uma sala especial, com banheiro adaptado, onde aplica sonda para
esvaziar a bexiga a cada quatro horas, com ajuda de uma enfermeira da rede
básica de saúde. Devido à paraplegia, alguns órgãos de Léia não funcionam
normalmente.
Em pé
A cadeira especial que usa, que a permite ficar em pé, custou R$ 20 mil e foi
comprada com ajuda de amigos e familiares. O equipamento é necessário também
para fortalecer os ossos e órgãos. “Ativa a circulação, fortalece a musculatura
e com ela ainda posso pegar livros nas estantes, abrir armário e posso olhar
olho no olho”.
Léia afirma que não sofreu preconceitos ao retornar às aulas e é respeitada
pelos alunos e professores. “Inicialmente eram alunos menores e senti
acolhimento, deles querendo ajudar, empurrar a cadeira, com a motorizada tinha
aluno querendo dar voltinha no colo, conto minha história, digo que sou a Léia
de sempre, só que agora sobre duas rodas”, afirma.
Ela vê sua presença na escola como uma forma de motivar os colegas de trabalho
e os alunos. “No momento que me encontro com os outros professores, que se
debatem com tantas dificuldades, sejam físicas, materiais, afetivas ou
emocionais na escola, e com as crianças que se encontram em situações difíceis,
vejo que eles enxergam que se eu estou ali sem reclamar eles também podem unir
forças para que a escola possa evoluir”, diz.
Fonte: G1
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