Deficientes visuais testam urnas de voto equipadas com fone de ouvido
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Uso
do recurso auditivo permite que o eleitor confira informações, inclusive, os
números que acabou de digitar
Daniela
Jacinto
Com perda total da visão, Sandro Gonçalves de Carvalho, 47 anos, não vai mais
precisar da ajuda do pai para votar em seus candidatos nestas eleições. Isso
era necessário porque, apesar dos teclados das urnas eletrônicas tenham o
braile, não era possível saber que número tinha sido digitado, para verificar
se houve algum engano. Agora, com o recurso do fone de ouvido, o deficiente
visual é informado para que cargo está votando e os números digitados. Se tiver
errado, basta corrigir e tentar novamente. Sem essa tecnologia, muitos votos
acabavam sendo anulados porque as pessoas com limitações visuais, quando
digitavam errado, ficavam sem saber que tinham cometido um engano e acabavam
por confirmar o voto.
Na quinta-feira passada, a Justiça Eleitoral realizou, na sede da Associação
Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais (Asac), um treinamento para
que os eleitores com deficiência visual pudessem saber como a urna irá
funcionar. Entre os presentes estava Sandro. Conforme ele, a única dificuldade
que terá, agora, vai ser decorar os números de seus candidatos, pois nenhum
distribui panfletos de divulgação em braile. Sandro talvez ainda precise do pai
apenas para lhe falar os números. "Esse seria o próximo passo para ficarmos
mais independentes." De acordo com Sandro, também a sessão eleitoral
deveria ter acessibilidade melhor. "Ainda precisaria de ajuda para chegar
ao local, pois apesar da escola ser a mesma, constantemente mudam a sala de
votação", completa.
Um dos deficientes visuais, que preferiu não ser identificado, tem uma máquina
portátil que pode ser usada para passar para o papel o número de seus
candidatos, em braile. Ele consegue ser mais independente, porém sabe que nem
todos têm o recurso.
Portador de retinose pigmentar, Roque Batista Martins, 48 anos, veio de Cesário
Lange para conhecer a novidade. "Agora, com essa inovação, não vou ter
mais como errar. As teclas são grandes e em braile, e tendo o fone melhora
bastante." Roque contou que vai sozinho votar, mas que precisa do auxílio
do mesário. "Ele coloca minha mão perto da urna e avisa que ela está na
minha frente. Assim que eu consigo votar."
Celular
Jovens e modernos, Edson Miranda, 18, e a namorada Janaína Reis de Almeida, 29
anos, foram conferir o funcionamento da urna, agora com o fone de ouvido, e
contaram que usam o celular para saber mais sobre seus candidatos. Conforme
Janaína, a Apple tem uma tecnologia que emite som para avisar cada aplicativo
que está sendo acessado e também é possível escutar os textos.
Edson explicou que tem retinopatia da prematuridade e por isso não enxerga
desde que nasceu. "Nasci prematuro, de 6 meses e meio, e tive descolamento
da retina." Mesmo sem poder ver, ele não é alheio às tecnologias e como
qualquer outro jovem, acessa a internet. Também Janaína é conectada. Ela, que
tem o nervo ótico atrofiado desde o nascimento, afirmou que o sistema de seu
celular é bem útil para quem não enxerga. Com esse aplicativo, os dois
conseguem entrar nas páginas dos candidatos, escutar as propostas e saber das
notícias sobre política.
Direito à cidadania
Conforme Sandra Fogaça da Silva, auxiliar da Justiça Eleitoral na Zona 137 de
Sorocaba, que atende a região central e a zona sul da cidade, a Justiça
Eleitoral se preocupa muito com a acessibilidade.
A primeira medida foi solucionar a questão da locomoção, com a criação de
sessões especiais, que são apropriadas para as pessoas com deficiências. São
locais em que não é preciso subir a escada e que a porta seja mais larga, para
facilitar a entrada do cadeirante, entre outras adaptações. "Na Zona 137 temos
uma sala com atendimento voltado também aos surdos, com um colaborador que sabe
a linguagem dos sinais. Futuramente todas as escolas terão, mas quando sabemos
que naquela escola tem uma pessoa com determinada deficiência, aí temos de
providenciar", afirma.
Sandra esclareceu que as melhorias estão sendo feitas ao longo dos anos devido
às sugestões dos próprios eleitores e observações dos mesários. "As
pessoas dão sugestões, também o mesário coloca em ata quando alguém teve
dificuldade, e dessa forma vão se fazendo estudos e aprimorando."
De acordo com Laurinda Ana de Negreiros, chefe de cartório da Zona 137, todas
as sessões especiais têm fone de ouvido, mas qualquer pessoa com problema
visual, mesmo que sua deficiência não esteja cadastrada, pode solicitar para o
mesário o fone de ouvido. "Não temos para todas as salas, mas todos os
locais terão fone de ouvido", assegura.
Sorocaba tem hoje 981 eleitores com algum tipo de deficiência, sendo 104 deles
deficientes visuais.
Fonte: Cruzeiro do Sul
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