Jovem que foi 'herói' em enchente fica tetraplégico e sonha em voltar a dirigir

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Leandro durante o tratamento com os robôs no Instituro Lucy Montoro para tentar recuperar movimentos dos braços e mãos (Foto: Leandro Valério/Arquivo Pessoal)

O destaque em todo o Brasil de um resgate, em 2009, fez com que a vida do até então mecânico Leandro Valério de Jesus, mudasse. Durante uma enchente em São José do Rio Preto (SP) ele arriscou a vida para salvar uma motociclista que quase foi levada pela enxurrada. A história do jovem, no entanto, mudou um ano depois: ao levar um tiro, Leandro ficou tetraplégico e hoje, com 26 anos, depende dos “heróis” à sua volta para reconquistar a independência e realizar o sonho de voltar a dirigir.

A história de Leandro foi marcada pela enchente que atingiu Rio Preto naquele ano. “Estava chovendo muito e parei em um posto de combustíveis na Avenida Alberto Andaló. Foi quando vi uma mulher quase sendo engolida pela água. Então eu e mais alguns rapazes pegamos uma corda e entramos na água para salvá-la. Por pouco ela não foi levada, foi um alívio. Depois que vi as imagens, percebi o quanto me arrisquei, mas Deus estava conosco”, conta Leandro. 

O resgate emocionante foi exibido em telejornais de todo país e rendeu várias homenagens à ele, como os parabéns pelo ato de coragem pelo Rotary Club e uma medalha de honra ao mérito do Corpo de Bombeiros de São Paulo. “Foi uma alegria. Desfilamos no carro dos Bombeiros e fiquei muito orgulhoso. Se precisasse salvar novamente alguém, eu faria de novo. Na hora você só pensa em ajudar o próximo”, conta.

Na época do salvamento, Leandro
recebeu a medalha de honra
ao mérito do Corpo de Bombeiros
(Foto: Leandro Valério / Arquivo Pessoal)
A atitude foi motivo de orgulho de parentes e amigos do jovem, que ficou conhecido como “herói da enchente”. Mas em setembro de 2010, a história de Leandro mudou. Ele foi atingido por um tiro no queixo, que atravessou seu rosto e se alojou nas costas, deixando-o tetraplégico. “Eu não me lembro do que aconteceu, estava na oficina do meu pai e ao descer as escadas tomei um tiro. As circunstâncias nunca foram esclarecidas. Quando acordei, não sentia minhas pernas, foi horrível. Por pouco não perdi minha vida. Eu nasci novamente”, conta. A tetraplegia é a paralisia total ou parcial dos braços, pernas e tronco. O grau de mobilidade dos braços depende da altura (vértebra atingida) e da intensidade da lesão.

Na UTI por dois meses, o jovem permaneceu internado no Hospital de Base por mais três. Depois, teve que encarar a dura realidade de sua condição. “Um dia eu salvei a vida de alguém e acredito que Deus salvou a minha desta terrível fatalidade. Não reclamo da minha condição, a vida segue, eu renasci e não podemos parar”, diz Leandro.

Tratamentos e dança

Leandro e Monique durante o casamento. 
Jovem teve ajuda para levantar braço 
para brinde
(Foto: Leandro Valério / Arquivo Pessoal)
A condição de tetraplégico nunca fez Leandro desanimar. Positivo, ele faz tratamento no Instituto Lucy Montoro – sendo um dos primeiros a usar a sala de robótica do local. “Os robôs ‘Arm’ e ‘Yrist’, que são respectivamente para melhorar os movimentos dos ombros, cotovelos e punhos - que ele não tem movimentos - é um dos tratamentos aplicados no Leandro. O próximo passo é utilizar o “robô Guisp” que serve para auxiliar os movimentos da mão”, afirma a terapeuta ocupacional Cristiane Pereirinha.

Além das terapias ocupacionais e fisioterapias, Leandro faz aulas de dança. Ele se dedicou para que pudesse dançar a valsa em seu casamento, em 2012. A esposa, Monique Jessie Garcia de Jesus, de 23 anos, ajudou em todo o processo. “Tenho muito orgulho de todas as suas atitudes. E com isso vencemos as dificuldades juntos. Já namorávamos na época do salvamento, acompanhei todo seu drama e hoje somos casados há dois anos, em uma relação muito feliz. Ele é um guerreiro”, conta Monique. “O que mais sinto falta é de dirigir. Quem faz isso agora é minha esposa e entrar no carro é um sofrimento. Eu fico dando palpites sem parar", conta bem humorado.

A paixão pela direção no entanto vai além. Agora, o sonho dele é ter um táxi para deficientes físicos. "Acredito que vou voltar a dirigir. E quando isso acontecer, vou ter um táxi especial. Encontro muita dificuldade em Rio Preto. Quando falo que é para deficiente dificilmente alguém aceita me pegar. Quero fazer isso por mim e ajudar meus amigos que também precisam. Assim vou unir minha paixão - que é dirigir, junto com a ajuda para as outras pessoas”, sonha Leandro.

Mesmo com todos os problemas que o impedem de realizar atividades que gostava muito, Leandro não desanima e dá uma lição de vida. "Se alguém precisasse da minha ajuda, eu ajudaria. Salvaria qualquer pessoa novamente. Isso não muda minha história. Sou grato pelo que tenho e acredito que Deus também me salvou poupando minha vida. Não reclamo da vida e tenho fé que voltarei a andar e mexer meus braços corretamente”, finaliza.

Durante pescaria no Rio Grande, Leandro aproveita ajuda dos amigos para colocar seus braços na direção e lembrar como é "dirigir" (Foto: Leandro Valério / Arquivo Pessoal)


*Colaborou Marcelo Shaffauser


Fonte: G1  

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