Conheça destinos preparados para receber pessoas com necessidades especiais

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Ricardo Shimosakai: Foz do Iguaçu é um dos principais destinos nacionais oferecidos pela empresa Turismo Adaptado, onde foram elaborados roteiros com acessibilidade
Ele já foi mochileiro na Nova Zelândia, viajou de carro até Machu Picchu, fez rapel no Vale do Itajaí, mergulhou em Bonito e saltou de paraquedas em Boituva. O engenheiro agrônomo Marcos Bauch, 31 anos, nunca deixou que as muletas que usa desde criança – necessárias devido a uma artropatia nos dois joelhos – o prendessem em casa. Dificuldades existem. Das mais prosaicas, como os pisos escorregadios que já o derrubaram várias vezes, às mais inusitadas, como saltar de paraquedas sem pousar com os pés no chão. “Eu e o instrutor tivemos que bolar uma estratégia para o pouso. Treinamos uma descida sentados e deu certo”, conta o engenheiro.

Mas os desafios que enfrentou jamais o fizeram pensar em desistir das viagens. “São apenas percalços e aumentam o número de histórias para contar aos amigos”, diz ele. A exemplo de Marcos, há muito mais gente disposta a superar limites físicos para colecionar histórias e experiências.

O Brasil possui, atualmente, cerca de 46 milhões de brasileiros (24% da população) com deficiência intelectual, motora, visual e auditiva, conforme o Censo realizado em 2010 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). E, dentre eles, há muitos viajantes frequentes, segundo constatou o Ministério do Turismo, numa pesquisa realizada em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos, entre os dias 13 a 20 de maio de 2013, nas cinco maiores cidades emissoras de turismo doméstico brasileiro – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte Curitiba e Porto Alegre. A pesquisa apontou que o sentimento de superação, a liberdade e a autonomia são alguns dos principais elementos motivadores dos viajantes. Mas eles não querem só acessibilidade. Como qualquer outro turista, também buscam preços competitivos, belas paisagens, boas condições de transporte e aspectos históricos e sociais interessantes.

A cidade de Socorro, no interior de São Paulo, foi apontada pelos entrevistados como um modelo de turismo acessível, pois é a que oferece a melhor adaptação para pessoas com deficiência.  Além de Socorro, Fortaleza (CE), Ilhabela (SP) e Maceió (AL) foram citadas por apresentar passeios, atividades esportivas e ecoturismo para as pessoas com mobilidade reduzida, deficiência auditiva ou visual. Atualmente, o Ministério do Turismo está financiando 14 projetos que envolvem acessibilidade, com investimentos na ordem de R$ 109 milhões.

Só rampa não basta

Mas investir em acessibilidade não é apenas construir rampas para cadeiras de rodas. “É um equívoco achar que tornar uma cidade acessível é só desobstruir barreiras arquitetônicas. É preciso eliminar as barreiras físicas para cadeirantes, mas também ter pessoas habilitadas a se comunicar com deficientes auditivos, disponibilizar material turístico acessível para deficientes visuais e treinar funcionários para atender a essas pessoas”, explica a psicóloga Adriana da Silva Souza, do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas do IFRJ (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia).

“Ao escolher onde se hospedar, a primeira providência é checar se o local vai ajudá-lo nas suas dificuldades individuais. Porque mesmo com perfis parecidos, cada pessoa tem uma necessidade”, diz o turismólogo e cadeirante Ricardo Shimosakai, diretor da empresa Turismo Adaptado, que elabora roteiros de viagens para pessoas com necessidades especiais. A recomendação aqui é ser o mais detalhista possível, já que, muitas vezes, as empresas não entendem o conceito de acessibilidade. “Se você precisa de uma cadeira de banho, por exemplo, tem que ligar e verificar com o hotel se eles têm e explicar que cadeira de banho não é uma cadeira de piscina”, diz Shimosakai.

Uma vez escolhido o hotel, vale checar informações por telefone e até pedir fotos do local. As dimensões são importantes, especialmente se o turista for cadeirante. “Muitas vezes é preciso solucionar problemas e exigir os direitos antes de aproveitar a viagem. Ao chegar a um lugar, a pessoa com limitações motoras vai gastar tempo para saber quem tem a chave para abrir o elevador, com quem é preciso falar para poder estacionar mais perto ou, ainda, como encontrar alguém que possa ajudar a subir e a descer uma escada”, explica o engenheiro Marcos Bauch, que hoje compartilha as experiências acumuladas no blog “De muletas pelo mundo”.  Já o portador de deficiência visual precisará de alguém que o acompanhe até o quarto de hotel e lhe mostre a localização de cada objeto. O deficiente auditivo, por sua vez, terá mais facilidade de se comunicar ao contar com o apoio de funcionários aptos em Libras, a Língua Brasileira de Sinais.

Além disso, os passeios que serão feitos no destino também precisam levar em conta as limitações. Para o deficiente visual, por exemplo, no lugar de um museu em que apenas o título da obra está escrito em braile, será muito mais prazeroso visitar um jardim sensorial, disponível em alguns parques botânicos de cidades brasileiras, ou uma galeria tátil, como a existente na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Viagem inclusiva e os custos

Não necessariamente um deficiente gastará mais dinheiro para viajar. Os estabelecimentos não cobram mais caro por serem acessíveis, mas os custos podem aumentar conforme as adaptações que o turista precise fazer para usufruir de maneira prazerosa da viagem. “Quando fui para Machu Picchu contratei uma agência capacitada para levar pessoas com deficiência, mas tive que pagar por três guias para carregarem minha cadeira de rodas em uma parte do percurso”, explica Ricardo Shimosakai.

Como não são todos os locais que oferecem acessibilidade, a oportunidade de escolha é menor. Por isso, o deficiente nem sempre pode optar pelo hotel mais barato para se hospedar, o menor carro para alugar ou ainda, o restaurante mais econômico da região. É preciso escolher aquele que ofereça soluções para as necessidades individuais.

Barcelona (Espanha): Foi depois de sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 1992 que a cidade se tornou um destino com acessibilidade. Barcelona possui hotéis, restaurantes, bares e outros espaços públicos devidamente adaptados. Também é possível fazer um citytour em ônibus de dois andares com rampas automáticas. Nos aeroportos espanhóis, há um serviço especializado para atender pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, chamado ‘Sin Barreras’

Berlim (Alemanha): Em 2013, o destino ganhou o prêmio ‘Cidade Acessível’, concedido pela Comissão Europeia e pelo Fórum Europeu da Deficiência, que incentiva cidades da Europa a melhorarem a acessibilidade. Berlim possui a maior parte das estações de metrô adaptadas para cadeirantes, além de museus onde deficientes visuais podem sentir a arte com o tato, como é o caso do Neues Museum

Bonito (Mato Grosso do Sul): O destino de ecoturismo possui atrações adaptadas a deficientes, como o rafting no rio Formoso, rapel no abismo de Anhumas e flutuação no Rio Sucuri. Na avenida principal da cidade, também há a preocupação com cadeirantes: as calçadas são largas e o piso antiderrapante e regular. A parte urbana é equipada com faixas de pedestre com sinalização visual e tátil

Brotas (São Paulo): Localizada a 250 km da cidade de São Paulo, é a capital do turismo de aventura no estado. Por ser um destino certeiro para quem procura por esportes radicais, Brotas possui monitores de várias operadoras que foram treinados para conduzir os turistas com deficiências em atividades com boa dose de adrenalina como rafting, rapel, arvorismo e tirolesa

Fortaleza (Ceará): A cidade já dispõe de passeios, atividades esportivas e ecoturismo para as pessoas com mobilidade reduzida, deficiência auditiva ou visual, mas o cenário deve melhorar ainda mais. Por ser sede de alguns jogos da Copa do Mundo, o destino recebeu uma verba do Ministério do Turismo para tornar acessíveis destinos como a Praia de Iracema e o Mercado Central e para melhorar grandes avenidas com repavimentação, instalação de piso podotátil e rampas para cadeirantes

Foz do Iguaçu (Paraná): O turista com dificuldade de mobilidade não terá problemas ao visitar o Parque Nacional do Iguaçu para apreciar a beleza das Cataratas. O local é adaptado para receber cadeirantes, possui rampas em todos os locais, transporte acessível dentro do parque, banheiro e estacionamento também acessíveis

Maceió (Alagoas): De acordo com uma pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2012, a cidade possuía a maior porcentagem de hotéis adaptados para receber visitantes com necessidades específicas. Em 2010, também foi inaugurada a primeira jangada adaptada da cidade, que leva cadeirantes às piscinas naturais da famosa praia de Pajuçara

Nova York (Estados Unidos): Turistas cadeirantes não encontram barreiras para explorar a Big Apple. As ruas são planas e as calçadas, amplas e com rampas. Qualquer condução pública é adaptada e os pontos turísticos são preparados para receber cadeirantes. Os principais museus da cidade oferecem além de cadeiras de rodas e bengalas, equipamentos de som com descrição das obras, para serem usados por deficientes visuais

Rio de Janeiro (Rio de Janeiro): A Cidade Maravilhosa tem a segunda maior rede hoteleira adaptada, segundo pesquisa divulgada em 2012, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pontos turísticos também estão equipados para receber cadeirantes, como é o caso do Pão de Açúcar, que oferece elevadores-plataforma para acesso às bilheterias e à área de embarque do bondinho. Na cidade, também é possível visitar o jardim sensorial, dentro do Jardim Botânico

Socorro (São Paulo): A 134 quilômetros da capital paulista, a cidade atrai cada vez mais pessoas com mobilidade reduzida ou necessidades especiais, por conta do projeto Socorro Acessível, iniciado em 2005. Há desde equipamentos para a prática de esportes de aventura por pessoas com deficiência a hotéis adaptados com pisos táteis, placas em braile, além de banheiros com assentos e barras adequadas, estacionamentos reservados, rampas de acesso e guias rebaixadas

Turismo Adaptado
A empresa organiza roteiros de viagens para pessoas com todos os tipos de necessidades específicas. A partir de uma conversa com o turista, analisa as limitações individuais e organiza a viagem, que pode ser nacional ou internacional.
www.turismoadaptado.wordpress.com
ricardo@turismoadaptado.com.br
Tel.: (11) 3846-6333 / (11) 99854-1478

Fonte: Terra e Blog Turismo Adaptado

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