Realidade virtual ajuda a diminuir a dor de homem que ficou sem antebraço

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Homem sem antebraço há 48 anos sentia dor constante que, com frequência, era muito intensa. Tratamento inovador que usa jogo de computador aplacou dor no braço-fantasma. 
 NICOLAU FERREIRA  
No ecrã do computador, o paciente vê o seu corpo inteiro, com o antebraço virtual que é controlado pelos seus músculos  - ORTIZ-CATALAN ET AL

Um homem de 72 anos que perdeu o antebraço direito em 1965, e, desde aí, sente diariamente dor no braço-fantasma, voltou a ter momentos sem dor depois de “usar” o seu membro perdido num jogo de computador. O caso vem descrito num artigo publicado agora na Frontiers in Neuroscience, uma revista online de acesso livre. 

“Estes períodos sem dor são uma coisa quase nova para mim, é uma sensação extremamente agradável”, diz o paciente, citado no artigo da revista. 
  
É relativamente normal às pessoas a quem foi amputado um membro continuarem a senti-lo como se ele estivesse lá. Infelizmente, 70% das pessoas sentem dores no membro-fantasma. 
  
No caso deste homem de 72 anos, que foi submetido a um tratamento inovador na Universidade de Tecnologia de Chalmers, em Gotemburgo, na Suécia, num trabalho liderado pelo investigador Max Ortiz-Catalan, a dor que sentia no antebraço-fantasma, nos últimos 48 anos, era constante. Apesar de usar normalmente um braço artificial, durante a maior parte do tempo tinha uma dor moderada e várias vezes por dia a dor tornava-se insuportável. Além disso, era comum acordar à noite com estas dores. 
  
Não se sabe muito bem quais as causas da sensação dolorosa, mas existem vários tratamentos para tentar aplacá-la: desde medicação até à acupunctura ou hipnose. Há ainda a técnica do espelho, em que se tenta enganar o cérebro das pessoas. Neste caso, o paciente tem de fazer movimentos com o membro intacto e, ao mesmo tempo, tenta fazer os mesmos movimentos com o membro amputado. Mas estes exercícios são feitos em frente a um espelho que reflecte os movimentos e faz com que a pessoa só veja o membro saudável a mover-se. Este truque dá ao paciente a ilusão de que o membro amputado está a movimentar-se normalmente. No caso do homem de 72 anos, todos os tratamentos falharam, até agora. 
  
O método usado na universidade sueca é um salto em relação à técnica do espelho. A equipa de Max Ortiz-Catalan colocou eléctrodos no braço amputado do homem que transmitem um sinal vindo dos músculos. Estes eléctrodos estão ligados a um programa informático. Os sinais musculares são traduzidos para os movimentos de um antebraço e mão virtuais por um sistema de algoritmos. 
  
O paciente fez vários exercícios de controlo do braço virtual e guiou carros num jogo de corridas. Estes movimentos eram controlados pelos músculos do braço amputado. O paciente, que era ao mesmo tempo filmado, via-se num ecrã a fazer aqueles movimentos com um antebraço e mãos virtuais, num sistema de realidade aumentada. 
  
“Os nossos métodos são diferentes dos tratamentos anteriores, porque os sinais que controlam [o braço virtual] são aproveitados a partir do coto do braço”, explica Max Ortiz-Catalan, num comunicado. As sessões de dez minutos de exercícios prolongaram-se durante 18 semanas. Gradualmente, o homem foi sentindo uma dor cada vez mais leve no braço-fantasma. A partir das últimas semanas, a seguir às sessões, o paciente tinha pequenos períodos de tempo sem dor nenhuma. 
  
“Há várias características deste sistema que combinadas podem causar o alívio da dor”, considera Max Ortiz-Cataln. “As áreas motoras do cérebro necessárias para o movimento do braço amputado são reactivadas, e o paciente obtém o retorno visual que faz com que o cérebro acredite que existe um braço a executar aqueles comandos motores. O paciente experiencia-se como um todo, com o braço amputado de volta ao seu sítio.” 
  
Do punho fechado à mão aberta 
  
Há outras conquistas feitas pelo homem de 72 anos. Durante 48 anos, o paciente continuou a sentir a mão-fantasma, mas sentia a mão fechada com muita força. Depois de seis sessões, a sensação do punho fechado evoluiu para uma mão meio aberta que coincidia com a posição relaxada e neutral da mão virtual que via no ecrã do computador. “Esta é agora a percepção permanente da posição da mão- fantasma que é muito apreciada pelo paciente”, lê-se no artigo. 
  
Antes de iniciar as sessões de tratamento, o paciente sentia ainda que a mão-fantasma estava situada logo a seguir ao coto e não na posição normal, depois do pulso. Mas, quando começou a fazer as sessões virtuais, o homem passou a sentir a posição da mão-fantasma no local correcto. Além disso, aprendeu a mover o braço virtual e consegue agora "mexer" cada um dos dedos da mão-fantasma. 
  
A equipa não sabe quais serão os efeitos a longo prazo deste tratamento: se a diminuição da dor se mantém depois de as sessões terminarem. Por isso, decidiram manter os exercícios com este paciente. Uma alternativa é o programa virtual ser instalado na casa do homem. Está ainda em curso um programa que reúne hospitais suecos e clínicas de outros países europeus para aplicarem a técnica a outras pessoas que estão na mesma situação. 
  
A razão de a dor ser suprimida permanece uma incógnita – pode ser causada pela nova actividade dos músculos do braço amputado durante os exercícios ou pode estar ligada ao cérebro acreditar que, afinal, o braço e a mão existem, estão ali e funcionam. De qualquer forma, para os autores, este tratamento poderá ser aplicado a outro tipo de pacientes que “necessitam de reabilitação neuromuscular no caso dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e de lesões parciais da medula espinal”, explica-se no artigo. A única condição necessária é que ainda haja sinais eléctricos dos músculos que possam ser lidos pelos eléctrodos. 
  
Quanto ao homem de 72 anos, as mudanças que ocorreram graças a este tratamento experimental são notadas pela família, diz a mulher, citada no artigo: “O meu marido pode viver mais dez anos do que eu esperava, agora que a dor tem um papel menos importante na sua vida, e os que estão próximos dele vêem isso." 
  
Fonte:publico.pt e APNEN Nova Odessa

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