Pesquisadores investigam técnica que pode reverter autismo ainda na gestação
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Não se sabe quantas pessoas são afetadas
mundialmente, nem o que o causa e nem mesmo há tratamento padrão, mas sabemos
que este mal chamado autismo existe. Porém, e felizmente, as pesquisas sobre o
autismo vem avançando com o decorrer dos anos, revelando, por exemplo, diversos
genes que têm implicação com esse distúrbio do desenvolvimento, caracterizado
principalmente pelo isolamento social. A revista Science publicou uma série de
importantes descobertas por um grupo de pesquisadores franceses - as quais foram
consideradas um passo em direção à compreensão do autismo e à cura do
transtorno.
Ao observar a atividade de neurônios de embriões de
ratos programados geneticamente para desenvolver o problema, os cientistas
foram capazes de reverter o sintomas antes do nascimento dos animais, aplicando
uma injeção nas mães. Além disso, um pouco antes, a mesma equipe conseguiu
diminuir a severidade do autismo e da síndrome de Asperger em crianças usando a
mesma droga. Não podemos dizer que a descoberta já vai ser a salvação dos
humanos beneficiando-os diretamente, porque há muitos testes que devem ser realizados.
Mas certamente os resultados são animadores, os cientistas acreditam ter
encontrado o caminho certo na busca de terapias eficazes contra o transtorno
autista.
Apesar de o distúrbio se desenvolver muito cedo (na
fase embrionária), não existem testes de detecção do autismo durante a
gestação. Mas, é necessário iniciar o tratamento o mais cedo possível para
evistar que os sintomas se desenvolvam. Em uma coletiva de imprensa,
Yehezkel Ben-Ari, pesquisador da Universidade de Aix-Marseille, do Instituto
Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França, e principal autor do estudo,
explicou que, em 2012, uma investigação clínica mostrou que a substância
bumetanida reduziu a gravidade de sintomas em 60 pacientes com idade entre 3 e
11 anos, com poucos efeitos colaterais. Durante três meses, as crianças tomaram
um diurético para diminuir os níveis intracelulares de cloreto, um importante
composto orgânico encontrado no corpo. Em quantidades anormais, porém, ele está
associado a deficiências nas redes de neurônios — pesquisas anteriores indicam
que o problema também tem relação, por exemplo, com a epilepsia. No fim, 75%
dos meninos apresentavam sintomas mais amenos, o que foi constatado por meio de
três escalas comportamentais utilizadas globalmente para averiguar a taxa de
severidade do autismo.
Cloretos não param
Se nos pacientes humanos não se pode falar em cura,
no experimento realizado com ratos, a bumetanida eliminou qualquer sinal de
autismo antes do nascimento dos animais. Eric Lemonnier, pesquisador do
Laboratório de Neurociência de Brest, na França, e coautor do artigo, explica a
forma de ação da substância. “Durante toda a fase embrionária, os neurônios
contêm altos níveis de cloretos. Como resultado, o GABA, principal mensageiro
químico do cérebro, excita os neurônios durante essa fase, no lugar de
inibi-los. Isso é importante para a construção do órgão”, diz. Mas depois,
quando o cérebro já está consolidado, naturalmente a concentração de cloretos
dentro das células cai.
Os pesquisadores desenvolveram modelos de ratos com
autismo para checar se o cloreto também poderia estar associado a esse tipo de
transtorno. Imediatamente após o nascimento, exames indicaram que as taxas
continuavam anormalmente altas. Isso não é comum porque, no momento do parto, a
mãe libera um hormônio, a oxitocina, que regula a ação do neurotransmissor
GABA. Nos ratinhos com autismo, nem mesmo essa substância consegue acalmar a
superexcitação dos neurônios. Avançados exames de imagem realizados no cérebro
das cobaias durante a fase embrionária, o pós-parto e na fase adulta também
comprovaram uma ativação exagerada no órgão.
A bumetanida, contudo, é capaz de reproduzir o
efeito da oxicitocina. Para testar a ação da substância sobre o autismo, os
cientistas aplicaram uma injeção nas fêmeas 24 horas antes do parto. “Como
resultado, da mesma forma que hormônio faz naturalmente, a bumetamina conseguiu
controlar os níveis celulares de cloreto no cérebro dos fetos, modulando a
expressão do transtorno do espectro autista”, afirma Ben-Ari. Ao regular a
atividade cerebral dos animais, a bumetanida evitou que eles exibissem
comportamentos associados ao transtorno, mesmo sendo portadores de um gene que
está ligado à doença. Ben-Ari ressalta que ainda não está na hora de
pensar em desenvolver tratamento pré-natal para o autismo, pois a doença tem
diversos aspectos ainda desconhecidos e que precisam ser investigados a fundo.
“Para tratar esse tipo de distúrbio, é necessário entender como o cérebro se
desenvolve e de que forma mutações genéticas e fatores ambientais modulam a
atividade cerebral dentro do útero”, pondera.
Por:
Laura Marcon de Azevedo
Fonte: Portal PcD Online
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