Pontapé inicial da Copa: Projeto Andar de Novo entra na fase de testes com pacientes brasileiros
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Neste mês, eles aprenderão a interagir com um ambiente virtual, etapa
fundamental antes de usar o exoesqueleto, previsto para chegar ao Brasil em
fevereiro. Cronograma está em dia para que um paraplégico dê o chute de
abertura do Mundial.
Usando
um exoesqueleto, uma pessoa paraplégica vai se levantar da cadeira de rodas,
caminhar por cerca de 25 metros no campo da Arena Corinthians, em São Paulo, no
dia 12 de junho, e realizar o pontapé inicial da Copa do Mundo da FIFA 2014. No
estádio, o público será de quase 70 mil pessoas, mas bilhões de espectadores
também poderão acompanhar pela televisão o que pode ser uma das maiores
conquistas da ciência brasileira e mundial.
O sonho de dezenas de
cientistas do projeto Andar de Novo está caminhando para se tornar realidade. A
cinco meses da abertura do Mundial, o cronograma está em dia e, neste mês,
começam testes essenciais para que tudo dê certo na abertura da Copa.
Oito pacientes
paraplégicos foram selecionados na Associação de Assistência à Criança
Deficiente (AACD), em São Paulo, onde foi criado um novo laboratório de
neuro-robótica. “Eles estão fazendo os testes básicos e, nos próximos dias,
começarão a interagir com um ambiente virtual e com uma veste robótica
estática, que permite que andem sem sair do lugar. Podemos medir a reação do
paciente, como ele está se saindo, calibrar os dados de cada paciente antes da
chegada do exoesqueleto ao Brasil, prevista para fevereiro”, explicou o
coordenador do projeto, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
“O nosso objetivo é criar
novas tecnologias que possam restabelecer de uma forma significativa o controle
motor em pacientes que sofram com lesões da medula espinal e outras doenças
neurológicas que geram um grau de paralisia muito severo”, explica Nicolelis.
"Plano de
voo"
Enquanto os testes finais
são feitos com o exoesqueleto na França, os pacientes da AACD iniciarão um
treinamento do controle cerebral da veste robótica antes de usá-la. Para isso,
utilizarão um ambiente virtual desenvolvido em Natal e que foi reproduzido no
laboratório montado em São Paulo.
“Você pode pensar numa
simulação de voo. Se você tem um piloto e quer ensiná-lo como voar, não pode
colocá-lo em um avião e dizer ‘voe’. É preciso ensiná-lo antes – e a melhor
maneira de fazer isso é usando um simulador, em uma simulação realística o
suficiente para que se aprendam todos os aspectos do voo. Aí, sim, você o
coloca num “avião”, o exoesqueleto”, comparou Shokur.
Nos testes em ambiente
virtual, o paciente usa uma veste robótica estática e vê um avatar de si mesmo
se mexendo na frente dele. “Ele receberá o feedback tátil dos passos do avatar
usando essa veste, permitindo que sinta na região do corpo onde ele tem
sensibilidade o que acontece com o avatar quando os pés tocam no chão. E esses
pés estão sincronizados com os pés da veste robótica. Nesse ambiente virtual,
ele também pode usar os sinais cerebrais para controlar os movimentos do
avatar. Tudo isso o prepara para o passo seguinte, que é vestir o
exoesqueleto”, acrescentou Nicolelis.
Pontapé não é ponto
final
O pontapé inicial na Copa
será uma demonstração importante e um marco para o projeto Andar de Novo, mas a
equipe é unânime em enfatizar que não é ponto final.
“Nossa intenção é manter
toda essa equipe, continuar trabalhando com o governo brasileiro e com os
nossos parceiros, para chegar até o objetivo final, que é criar uma veste
robusta o suficiente para que qualquer paciente com uma lesão na medula espinal
possa tirar vantagens. Não só pacientes com paraplegia, mas também para
pacientes com tetraplegia, com lesões mais altas e que tenham boa parte do
corpo paralisada. O que queremos é usar a abertura da Copa para mostrar para o
mundo que nós estamos chegando perto disso”, disse Nicolelis.
O neurocientista explica
que a demonstração no dia 12 de junho será restrita a algumas possibilidades da
tecnologia. “É uma demonstração peculiar, com uma série de fatores de risco: ao
ar livre, com 70 mil pessoas no estádio, sinais de televisão do mundo inteiro e
telefones celulares. Por isso, optamos por uma técnica mais conservadora,
usando sensores superficiais no couro cabeludo, que são não-invasivos. Eles
capturam ondas cerebrais globais e os sinais são transmitidos para o
exoesqueleto, para controlar os diferentes movimentos gerados por ele”,
acrescentou.
Segundo Nicolelis, já
foram desenvolvidos microchips que, no futuro, poderão ser implantados
superficialmente no cérebro do paciente, por meio de uma cirurgia rápida,
semelhante ao procedimento de um marca-passo cardíaco.
"Parece que é o meu corpo"
Entre
fevereiro – quando o exoesqueleto já estiver no Brasil –, e maio, o desafio dos
pacientes será aprender a usar o exoesqueleto com segurança e naturalidade.
“A
nossa teoria é que leva certo tempo para essas ferramentas complexas serem
incorporadas pelo nosso cérebro como se fosse extensão do nosso corpo, para ter
a sensação de que é natural. E temos alguns meses para fazer com que os
pacientes sintam que o exoesqueleto é o corpo deles literalmente. Precisamos
dar tempo a eles para interagirem com o exoesqueleto. Um certo dia, quando o
paciente entrar no laboratório, vai falar: ‘parece que é o meu corpo’. Vai ser
como um estalo, porque o cérebro vai ter feito essa transição”, contou
Nicolelis.
O
número de pacientes da AACD envolvidos no projeto deve crescer de oito para
dez. Deles, três vão ser escolhidos para a demonstração: um titular e dois
“reservas”. Junto com eles, estarão as expectativas de vários cientistas, de 25
milhões de pessoas que querem andar de novo, e a oportunidade de mostrar ao
mundo a capacidade de inovação da ciência no Brasil.
Fonte: copa2014.gov.br
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