Atletas com deficiência dão exemplo de luta no Pará
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Em contato com o esporte, os jovens, principalmente, passam a interagir
mais, se tornam mais dinâmicos.
O esporte adaptado para pessoas com deficiência surgiu no início do
século XX, em Berlim, na Alemanha. Os primeiros a competir dessa forma foram os
deficientes auditivos, ainda em 1924. Em seguida, os deficientes visuais se
lançaram ao atletismo e à natação. A partir daí, as modalidades não pararam de
crescer. Desde 1960 ocorrem os Jogos Paraolímpicos, sempre alguns dias após as
Olimpíadas, e sempre na mesma sede dos jogos internacionais.
Segundo a Associação
Desportiva para Deficientes (ADD), no Brasil, as maiores
práticas hoje estão no atletismo, basquete, futebol, goalball, hipismo, judô,
natação, tênis, tênis de mesa e voleibol. Todos eles adaptados a diversas
deficiências, físicas ou mentais.
“Os benefícios [da prática esportiva] são imensuráveis. Vão desde a
autoconfiança que os praticantes desenvolvem até a superação de limites e a
expansão do convívio social. É uma conquista enorme para as pessoas com
deficiência”, atesta Kátia Tadaiesky, técnica em Belém do time de goalball -
uma espécie de futebol para deficientes visuais.
As possibilidades de superação e a condição afirmativa do esporte na
vida de pessoas com deficiência é o tema desta nova matéria da segunda etapa da
série especial ‘Agente do Bem’ - que a campanha Orgulho de Ser do Pará vem
veiculando no jornal DIÁRIO DO PARÁ e na RBATV, citando exemplos de urbanidade
e ações positivas de personagens inspiradores e histórias e atitudes de agentes
que promovem a inclusão e acesso a direitos e à cidadania.
Kátia Tadaiesky enfatiza: em contato com o esporte, os jovens,
principalmente, passam a interagir mais, se tornam mais dinâmicos e cheios de
sonhos e planos. “Eles se tornam mais participativos inclusive na escola. Um
dos exemplos é um atleta que ingressou este ano no curso de Engenharia Mecânica
da UFPA”, explica a técnica do time de goalball de Belém.
Desde 2006, Kátia ajuda a organizar a equipe, formada por jovens de 14 a
25 anos - e que hoje já contabilizada 18 atletas. Professora de educação física
da Escola Estadual Álvares de Azevedo, voltada a alunos com deficiência visual,
Kátia sempre buscou utilizar recursos lúdicos para desenvolver as atividades da
disciplina. “Unimos dança, brincadeiras, esportes, tudo o que auxilie na
reeducação psicomotora dos jovens”, justifica.
E a equipe surgiu justamente através de uma das iniciativas de Kátia na
escola. Observando o talento de vários alunos, ela formou um time e, em pouco
tempo, conseguiu resultados expressivos com ele. “Ganhamos muitos jogos, depois
campeonatos. Nossos atletas foram reconhecidos e assim ampliamos nossa
atuação”, diz a especialista em educação física adaptada.
Hoje, vários deles atuam na Seleção Brasileira de Goalball e por isso
viajam com frequência para outros estados e até países. “Cada atleta que viaja
tira seu passaporte, conhece outra realidade, se torna mais forte, mais maduro.
Faz muito bem para eles essa sensação de liberdade, de saber que eles são
capazes”, conta orgulhosa.
Setembro marcou o primeiro voo de José Márcio Silva, de 17 anos. Márcio
participou dos Jogos Pan-Americanos para Jovens, na Argentina. Natural do
município de Santa Bárbara, o atleta é de uma família humilde e antes nunca
havia saído do Pará. O integrante da Seleção Brasileira de Goalball fez mais um
gol recentemente. Esta semana, acaba de chegar de outra viagem, marcada por um
convite formal para jogar profissionalmente em São Paulo.
“Todos os sorrisos deles se convertem num sentimento de satisfação
profissional e pessoal. É a sensação de dever cumprido. Estamos num momento de
inclusão social e com o meu trabalho sinto que colaboro com essa mudança de
mentalidade”, comemora Kátia Tadaiesky.
Apesar do sucesso da equipe de goalball, Kátia se esforça para garantir
a qualidade de treinos e a participação dos alunos. “Falta mais oportunidade
para qualificarmos nosso treino. Material humano já temos. Precisamos apenas
investir nele. Muitos jovens ainda desistem porque não têm condições de se
deslocar até os treinos ou de manter uma alimentação que o ritmo esportivo
exige”, desabafa. Por isso, a professora se mobiliza também fora das quadras
para oferecer almoço e até cestas básicas aos mais humildes. “O esporte muda a
vida de todas as pessoas, principalmente daquelas com deficiência”, assevera.
Uma prova da mudança que a atividade física promove é também Bruno
Palheta. Com apenas 22 anos, mas muitas corridas já guardadas na sua vida, ele
se tornou referência no atletismo paraolímpico paraense. Bruno nasceu cego e
começou a correr aos 13 anos, incentivado por uma professora. No início era em
pistas, mas há dois anos começou a participar de provas de rua.
Na última corrida de São Silvestre, realizada em 31 de dezembro, em São
Paulo, ele venceu a categoria de deficientes visuais, junto com o seu treinador
e guia, Raimundo Vales. Bruno disputou com outros 39 atletas. Ao todo, eram 110
participantes com algum tipo de deficiência. Já na 17ª edição da Meia Maratona
Internacional do Rio de Janeiro, ele alcançou o 6º lugar.
Com os ótimos índices nas competições, Bruno tem o apoio do governo do
Pará para realizar as viagens. Mesmo assim, ele e Raimundo também acham que
faltam estímulos para atletas deficientes no país.
“É preciso incentivar os deficientes. Em diversas provas, os vencedores
hoje continuam a ganhar apenas uma medalha. Não há prêmio, enquanto os atletas
normais recebem valores altos. Além disso, subir ao pódio também significa
muito. Todos os vencedores devem ter esse direito”, opina o guia.
Agora, depois de melhorar ainda mais seus índices, Bruno pretende se
qualificar para a Paraolimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. “Trazer uma medalha
para o Pará continua sendo meu maior sonho e minha força para seguir nos
treinos sempre”, sorri o atleta.
Fonte: Diário Online
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