O Universo Autista no Netflix. Atypical mostra a vida de um jovem autista em uma série.
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O Universo Autista no Netflix. Atypical mostra a vida de um
jovem autista em uma série.
O mundo não está preparado para conviver com o diferente.
Muitas vão dizer que isso é um exagero, mas no dia a dia vivenciamos situações
em que a humanidade mostra, em pequenos detalhes, toda a sua falta de
habilidade para lidar com o que está fora de um padrão estabelecido. A nova
série “Atypical”, do Netflix, é um belíssimo retrato disso.
Em oito capítulos, qualquer pessoa vai conseguir entender
como pode ser complexo o convívio com um adolescente autista, os reflexos dessas dificuldades na
família, a necessidade de um sistema educacional efetivamente inclusivo, mesmo
em sociedades ricas como a americana. Com cuidado, realismo e muita sutileza, a
comédia-dramática retrata exemplarmente como precisamos avançar para garantir
mais qualidade de vida aos deficientes.
A história gira em torno do jovem Sam Garner, vivido pelo
ator Kier Gilchrist, um autista de 18 anos, que busca levar a vida em meio às
dúvidas normais da idade, que se somam à superproteção da mãe e às dificuldades
de integração.
Sam é ingênuo, interpreta tudo literalmente e se sente
angustiado por não entender o que é o amor. Ele passa por situações engraçadas,
e outras nem tanto, que demonstram o universo desafiador que cerca os autistas.
Uma das qualidades da série é mostrar o ambiente familiar como um todo, quase
sempre esquecido nas discussões, e até mesmo pelo poder público, que leva em
consideração apenas o deficiente, deixando em segundo plano o ambiente que o
cerca.
“Atypical”, no entanto, ressalta tudo isso com clareza: a
irmã que oscila entre o amor e desprezo pelo irmão, a mãe que não se enxerga
mais como mulher e se redescobre nos braços de um amante, o pai que encontra
dificuldades em aceitar a deficiência do filho, as cenas contínuas de bullying
na escola, sem uma ação efetiva de inclusão e respeito por parte dos
colegas e educadores.
Não é a primeira vez que o autismo vira tema de destaque
em séries e filmes, mas certamente essa é uma excelente
representação desse universo. A diferença é que “Atypical” mostra claramente
que a sociedade precisa abraçar a família como um todo, que os portadores do espectro tem
muito a oferecer, que as escolas precisam se adaptar e o mundo ser mais aberto
e tolerante.
E a beleza da série é relatar isso com leveza e
responsabilidade, sendo uma ótima oportunidade para se ter contato com uma
realidade, cada vez mais crescente no mundo.
Deixamos para trás personagens como Charlie Babbitt,
interpretado por Dustin Hoffman, em “Rain Man”, um autista que vivia isolado em
um hospital psiquiátrico e chegamos a Linda, a personagem de Bruna Linzmeyer,
na novela “Amor à vida”, que tinha grande potencial artístico e descobriu o
amor, após cenas de superproteção da família. Lançado no final do ano passado,
o filme o “Contador” mostra o potencial de muitos portadores do espectro. Ben
Affleck interpreta Christian Wolff , um autista que se transforma em um
eficiente contador que corre risco de vida ao descobrir o desvio de dezena de
milhões de dólares.
No momento, além de Atypical, os brasileiros podem tentar
entender o universo autista através de Bené, personagem da jovem Daphne Bozaski,
em Malhação, que como Sam tem dificuldades em se comunicar, interpreta tudo
literalmente e não consegue mentir.
Sam e Bené são ótimos exemplos que estão no nosso dia-a-dia,
e boa parte da sociedade insiste em tornar invisível. Só que eles estão entre
nós, são reais e procuram e querem ocupar seus espaços. Duas boas lições para
se ver, curtir e aprender com elas.
Fonte: Projeto Colabora
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