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Você sabia? Algo não pode ser considerado acessível se não oferecer: segurança + autonomia. |
Quando uma
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida decide viajar, é comum que se
sinta um pouco perdida. Afinal, se já é complexo planejar uma viagem – a não
ser que você seja do tipo que não se importe com imprevistos –, é ainda mais
complexo quando precisamos que seja uma viagem acessível.
Porém, com algumas
orientações é possível preparar tudo com tranquilidade, de forma leve e até
divertida. E lembre-se: todas as dicas que compartilho com você neste
post foram testadas por mim, em anos e anos de aventuras pelo Brasil e por
alguns outros países. Não foram copiadas de nenhum site ou blog,
certo?
Também preciso dizer que
essas dicas são igualmente válidas se você preferir utilizar os serviços de uma
agência de turismo em vez de planejar tudo por conta própria. Afinal, não é
porque contratou os serviços de uma agência que você vai deixar tudo por conta
dela. Nós é que sabemos das nossas especificidades e dos perrengues que
passamos quando algo dá errado. Por isso, acompanhe tudo passo a passo, não
porque falte competência aos outros, mas porque tudo tem de acontecer da melhor
forma que for possível.
Segurança
e autonomia
A pessoa
com deficiência precisa ter segurança para se locomover, para utilizar
equipamentos, para tomar banho e por aí vai. Isso parece óbvio, não é mesmo?
#SóQueNão
Veja dois
exemplos: é raro encontrar plataformas elevatórias que sejam de fato seguras. E
muitos banheiros considerados acessíveis não têm barras de apoio. Concordo; é
lamentável.
E quanto à
autonomia?
Não é que
a gente não possa pedir ajuda às pessoas. Todo mundo às vezes precisa recorrer
ao outro. Porém, se a pessoa com deficiência não pode entrar e sair do hotel no
momento em que tem vontade; se não alcança a comida na hora de se servir; se
não pode tomar o café da manhã se não houver quem ajude… então, ela não tem
autonomia. Ou seja: ela não pode exercer a própria vontade; precisa esperar que
outra pessoa a ajude, na hora em que for possível.
Guarde
isto: para que algo seja considerado acessível, não deve haver restrição à
liberdade de escolha.
Tenho
observado que esse pressuposto parece ser difícil de ser compreendido por uma
pessoa que não tem deficiência. É que persiste a ideia de que é preciso “ajudar
o deficiente”. Tudo isso é reflexo da visão assistencialista e caritativa que
ainda vigora e que valoriza a tutela.
Esclarecido
esse pressuposto, vamos às dicas? Espero, de coração, que elas tornem sua
viagem mais saborosa! <3
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Fala sério: esta plataforma elevatória lhe parece segura? A mim, não. Mas já usei piores… |
#Dica 1 | A escolha do destino
Já
começamos a falar de autonomia na primeira dica.
Para
escolher o destino de viagem, penso que a pessoa deve se fazer duas perguntas:
- Para onde quero ir?
- Para onde posso ir?
Dessa
forma, ela reconhece seu desejo, seu sonho, mas não abre mão do bom senso. É
preciso lembrar que queremos nos divertir, e não comprometer a viagem por causa
do excesso de desafios ou até mesmo de riscos.
Para
responder a essas duas perguntas, é necessário se conhecer! Então, pense:
♦
De que nível de acessibilidade você precisa? Por exemplo: Dá pra se virar com
um banheiro que tenha a porta estreita? Consegue subir um ou dois degraus?
♦
Qual estação do ano é mais favorável para você? Para mim, primavera e outono
são as ideais, porque passo mal em climas quentes, e nas estações muito frias
as roupas e calçados tolhem minha liberdade de movimentos. Você pode pensar que
não, mas essa escolha fará diferença. Ninguém merece passar a temporada de
férias passando mal ou, no mínimo, irritado com o clima.
♦
Você pode dispor de que valor financeiro? Isso precisa ser considerado, e é bom
que os cálculos sejam feitos na ponta do lápis, para que sua viagem não seja
uma fonte de dor de cabeça.
♦
Talvez você queira ir para Fernando de Noronha, mas os acompanhantes
disponíveis preferem Punta Cana. Se este é um destino que também te faria
feliz, pode valer a pena mudar de rota para não abrir mão da companhia.
♦
Pode ser que o destino de viagem que você almeja esteja com os preços acima da
média. Que tal escolher outra data, ou outro destino, para reduzir os custos?
Se for possível fazer isso, ótimo. O bolso agradece.
Nem sempre
você vai conseguir ir para onde deseja nas primeiras viagens.
Para
algumas delas, será necessário ter mais experiência, mais dinheiro ou
companhias mais adequadas.
Isso não
significa que você não possa ter uma viagem maravilhosa, mesmo que precise, por
ora, escolher o segundo ou terceiro destino da sua lista de sonhos!
Avalie o
clima do local antes de se decidir, mas tenha em mente que serviço
meteorológico falha!
#Dica 2 | Sozinho ou acompanhado?
Não são
poucas as pessoas que desejam ter a experiência de viajar sozinhas, e com
razão. Afinal, é enriquecedor! Um grande exercício de autoconhecimento, de
perceber os próprios limites, de se virar, aprender a pedir ajuda e a driblar
as dificuldades.
Porém, não
é simples decidir isso quando se tem uma deficiência. É preciso ter os pés na
terra e se conhecer bem, para evitar tomar uma decisão que te coloque em risco.
Sugiro
alguns critérios para uma decisão adequada.
♦
Você tem independência para realizar as atividades de vida diária? Liste todas
que se lembrar e vá checando uma a uma.
♦
Como estão suas condições de saúde?
♦
Você é sociável?
♦
Qual é a sua disposição para pedir e aceitar ajuda?
♦
Você é uma pessoa resiliente?
Viajar
sozinho, tendo uma deficiência, é ao mesmo tempo instigante e amedrontador.
Quando decidi partir para a Inglaterra e ficar sozinha fazendo intercâmbio, eu
já tinha muita experiência na bagagem. Mesmo assim, passei alguns apertos…
#Dica 3 | Tem que ser rico para fazer uma viagem bacana?
Claro que
não!
Com
algumas estratégias, sua viagem pode custar até 40% menos.
♦
Poupança: o brasileiro não tem o hábito de juntar dinheiro para depois comprar
algo. Mas fazer uma aplicação para depois comprar a viagem à vista pode render
bons descontos!
♦
Viaje em baixa temporada! Sai MUITO mais barato.
♦
Compre passagens aéreas com antecedência ou na promoção. Você também pode
trocar por pontos do cartão de crédito.
♦
Antes de reservar o hotel, faça uma cotação: pesquise em sites do tipo Booking,
mas também no site do hotel (ou até ligue para o hotel, principalmente no caso
de pequenos estabelecimentos, pois eles têm autonomia para oferecer desconto).
E não tenha preconceito contra agências: já consegui tarifas melhores nelas do
que no Booking.
Fazer uma
poupança de viagem pode dar lucro!
#Dica 4 | Preparação da viagem
Não
importa se você vai preparar a viagem sozinho ou se vai recorrer a agências. Em
qualquer circunstância, tenha em mente que você é o único responsável por
tornar sua viagem a melhor possível! Isso é exercício de autonomia.
Se optar
por agência, ela deve ser assessorada passo a passo por você.
Afinal,
quem sabe das suas necessidades específicas?
Seu pai?
Sua mãe? Seu cuidador?
Não seja
ingênuo. Quem sabe é: V O C Ê !
Antecedência
para planejamento
♦
Pesquisa da acessibilidade no destino: de 6 meses a um ano antes. É melhor não
deixar nada para fazer em cima da hora, a menos que queira aumentar as
possibilidades de perrengues.
♦
Reserva do hotel: cerca de 3 meses antes, pois muitos hotéis têm poucos quartos
adaptados.
♦
Aquisição da passagem: cerca de 3 meses antes. Passagens compradas com
antecedência menor que um mês são muito mais caras, a não ser que surja uma
promoção. Mas é arriscado esperar.
Prepare-se
a si mesmo!
♦
Viajar é muito mais confortável e seguro quando a saúde está recebendo cuidados
permanentes. Mesmo assim, é útil fazer um check-up antes de comprar passagens.
Dessa forma, além de evitar problemas longe de casa, você garante que terá
energia e ânimo para passear!
♦
Manter uma atividade física garante que você terá bom preparo para a viagem.
Como assim? Bem, se você não é sedentário,
terá mais chances de ter: diminuição do impacto produzido pelas horas
que passar no avião (menos dor, menos edemas); força e resistência para tocar a
cadeira de rodas ou passear de muletas; energia para passear durante muitas
horas por dia!
♦
Adquira vestuário adequado para a temperatura que vai enfrentar. A tecnologia
deixou tudo mais simples, e hoje há roupas e calçados adequados para todos os
climas e situações. Para que você vai usar roupas pesadas, se há agasalhos
super leves e eficientes? Para que vai correr risco de queimaduras solares, se
há roupas com proteção?
♦
Adquira em sua cidade os medicamentos de que irá precisar. Em muitos países
pode ser difícil comprá-los. É bom que eles estejam acompanhados da receita
médica (principalmente se forem de uso controlado) e é imprescindível que
estejam na bagagem de mão. Se sua mala for extraviada, eles estão seguros com
você.
♦
Não viaje sem seguro-saúde.
Uma rotina
de exercícios e alongamentos (incluindo a prática do ortostatismo) podem
prevenir muitos problemas durante a viagem
#Dica 5 | Compra da passagem aérea
♦
Vigie as promoções. Para isso, assine as newsletters do site Melhores Destinos
e de todas as companhias aéreas que lhe interessarem, para que receba alertas.
♦
Se tiver cartão de crédito, compre tudo com ele, para juntar pontos e trocar
por passagens. Mas não faça cartão só por causa disso! Pode sair muito caro.
♦
O tempo entre conexões deve ser de no mínimo duas horas. Isso porque o
cadeirante é o último a sair da aeronave, e às vezes ainda acontece de a
cadeira de rodas demorar a chegar. Então, não corra risco: deixe um intervalo
maior se não quiser perder a conexão; faça tudo com calma, sem estresse. Até
porque você pode aproveitar a conexão para ir ao banheiro ou comer algo.
♦
Observe os horários de chegada e saída do aeroporto. Não é bom chegar de
madrugada a um destino desconhecido.
Vale a pena
planejar os deslocamentos mais importantes. Isso reduz custo! Na foto, eu, Ida
e Solange com o gentil motorista que nos transportou em Salvador.
Etapas
para a compra da passagem:
Pesquise
datas, horários, conexões, tarifas, política de bagagem. Saiba que, dependendo
do horário, ou do dia da semana, o preço pode cair muito. E a política de
bagagem também interfere no preço.
Você pode
recorrer aos buscadores, mas tenha em mente que é mais seguro comprar pelo site
da companhia aérea. Muitos sites de compra de passagem têm ficha suja no
Procon.
Investigue,
no site da companhia aérea, as políticas de atendimento à pessoa com
deficiência. Elas podem ser diferentes em cada companhia e também em outros
países.
O
acompanhante da pessoa com deficiência pode ter direito a desconto. Procure se
informar.
Ao
adquirir a passagem pelo site da companhia aérea, haverá os campos apropriados
para solicitar auxílio no aeroporto e também para escolher refeição. Examine
tudo com atenção.
Se tudo
isso lhe parece complicado, contrate uma boa agência de turismo.
#Dica 6 | Escolha do hotel
♦ De que nível de acessibilidade você precisa?
Algumas pessoas podem conseguir tarifas mais baixas em caso de menores
limitações físicas. Para outras, já será necessário haver adaptações mais
específicas.
Sugiro que
você respeite com carinho suas necessidades e limitações. Fique em paz com
elas. Não vale a pena abrir mão do conforto na hora de dormir, nem da segurança
no banho – às vezes, o barato pode sair caro. Se você não estiver descansado e
confortável, vai aproveitar menos sua viagem. Pode vir a ter dores e problemas
musculares. Deixe para economizar em outros itens!
♦
Ao escolher o hotel, certifique-se de que ele de fato oferece aquilo que você
precisa. Por exemplo, mande um e-mail explicando o óbvio: “Não fico de pé e
preciso tomar banho assentado. O hotel tem cadeira de banho?” Especifique o
tipo de assento que você precisa: cadeira, tamborete, assento fixo à parede.
Não tenha vergonha de ser óbvio. Num caso desses, é melhor pecar pelo excesso.
♦
Confirme se a entrada não tem degrau.
♦
Com qual equipamento você vai viajar? Scooter, cadeira de rodas manual, cadeira
motorizada? Cada um deles requer condições específicas, para que você possa
usar banheiro e elevador, por exemplo. Leve isso em consideração na hora de
escolher.
♦
Alguns hotéis só oferecem cama de casal; outros, só de solteiro. Confirme antes
de fazer a reserva.
♦
Examine as condições do quarto (guarda-roupa, espaço de giro, etc.)
♦
Se você for cadeirante, pesquise se o quarteirão onde se localiza o hotel é
plano. Isso facilitará seus deslocamentos.
♦
Pesquise o entorno. É melhor quando há restaurantes, farmácia e lojas por
perto, principalmente se você estiver sozinho.
♦
Examine se o hotel fica próximo da rede de metrô ou das atrações turísticas.
Assim, você gasta menos tempo em deslocamentos e sobra mais para conhecer o
destino.
Nem sempre
será possível atender a tantos critérios, até porque um hotel que atenda a
todos eles será mais caro. Fique com o que for imprescindível para você. E
relaxe quanto ao restante!
#Dica 7 | Mala
♦
A mala deve ser resistente. Ela não pode quebrar na primeira viagem, não é
mesmo?
♦
Deve ter no mínimo 4 rodinhas e giro de 360°, para facilitar os deslocamentos.
Isso faz total diferença!
♦
Use mala pequena ou média. Evite a grande, para facilitar transporte e deslocamentos.
♦
Medicamentos e itens eletrônicos: vão na bagagem de mão
♦
Itens que vai precisar durante o voo: coloque tudo separado num nécessaire e o
mantenha consigo durante a viagem.
A mala não
é um detalhe. Tenha juízo!
Apesar de
todo o planejamento, lembre-se:
Nem tudo
vai dar certo. O controle de tantas circunstâncias não está nas nossas mãos!
Se algo
não acontecer do jeito que você esperava, não deixe que isso estrague sua
viagem.
Meu
conselho final, inspirada nas orientações culinárias de Bela Gil:
Você pode
substituir perfeição por satisfação!
Aproveite
o máximo possível a oportunidade! E agradeça ao universo por ela!
Espero que
este post lhe seja muito útil.
Até a
próxima, e grata pela companhia.
Laura
Fonte: Cadeira Voadora
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