Mercado começa a acolher profissionais com Síndrome de Down
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Jéssica
Pereira, fundadora do Bellatucci Café, em São Paulo: primeira empreendedora com
Síndrome de Down no Brasil (Divulgação/Divulgação)
Aos 26
anos, Jéssica Pereira se tornou a primeira empreendedora com Síndrome de Down
do Brasil. Ao lado da irmã e do cunhado, a paulistana abriu o Bellatucci Café,
no qual, além de fundadora é chef de cozinha. O investimento de 70 000 reais
possibilitou colocar em pé o sonho de ter o próprio negócio. “Ainda falta
oportunidades para que essas pessoas se sintam úteis de verdade e produzam de
forma real”, diz Priscila Della Bella, irmã de Jéssica.
A
empreendedora é uma exceção apesar de a lei de cotas para pessoas com
deficiência (PCDs) ter completado 26 anos em 2017. A regra exige que empresas a
partir de 100 funcionários tenham um percentual de pessoas com deficiência em
seus quadros (a porcentagem varia de acordo com o tamanho das companhias. O
assunto ainda gera discussão, pois muitas vezes os profissionais deficientes
são contratados apenas para cumprir tabela, não sendo desenvolvidos como
deveriam. Foi esse, inclusive, um dos motivos que fez com que Jessica quisesse
abrir o próprio negócio. “Ela já havia trabalhado em uma drogaria, mas se
sentia inútil, não se via produtiva”, diz Priscila.
Por
isso, um dos maiores desafios das organizações é entender que pessoas com
Síndrome de Down possuem habilidades positivas para as companhias. “São
sensíveis, comprometidas e encaram com seriedade o trabalho”, diz Rosana
Daniele Marques, gerente de gestão de pessoas da Crowe Horwath, empresa de
consultoria e auditoria.
Inclusão
eficiente
Para
que esses profissionais sejam bem recebidas e cresçam internamente, a inclusão
deve ser feita com cuidado. O primeiro passo é tratar quem tem Síndrome de Down
com o mesmo respeito com que os outros empregados são tratados. Depois disso, é
necessário não os classificar como “incapazes”.
Essa é
a proposta da EY, consultoria e auditoria com sede em São Paulo. A
multinacional usa, por exemplo, um processo de recrutamento comum para atrair
profissionais com qualquer tipo de deficiência. “Não é um projeto social. Esses
profissionais compartilham dos mesmos processos dos outros empregados, são
responsáveis por seus trabalhos e avaliados pelas suas entregas”, diz Elisa
Carra, diretora RH para o Brasil e a América Latina, na EY.
Mariana
Cerbelheira é uma das funcionárias com Down que têm o crachá da EY. Ela está há
quase cinco anos na empresa e já atuou como auxiliar de secretária, assistente
de expedição, assistente de recrutamento e seleção. Hoje, na área de
treinamento, Mariana acredita que deveria haver mais gente como ela no mercado
de trabalho. “A maioria das organizações não recebe pessoas com deficiência
intelectual. Muitas não creem no nosso potencial e nos tornamos invisíveis”,
diz.
A
inclusão só dá certo com equipes e líderes bem preparados. “É fundamental que
um profissional especializado converse com a equipe que receberá o novo
empregado para criar um ambiente adequado e propício para a adaptação da pessoa
com deficiência”, diz Rosana. NO entanto, deve-se também ter clareza de que
esses funcionários precisarão de tempo para se adaptar. “Deve-se acompanhar o
processo de adaptação dessas pessoas para que elas compreendam quais são suas
atividades e responsabilidades”, afirma Rosana.
O mais
importante, no entanto, é que a inclusão de pessoas com Down seja um valor para
as companhias. Só assim esse pessoal terá os mesmos direitos e deveres dos
outros empregados. Para isso, o RH deve definir quais são as oportunidades
dentro da empresa e pensar nas vagas que podem incluir quem tem essa
deficiência. “Quando você estiver definindo o perfil da posição, abra um pouco
a sua cabeça. Tudo o que tem uma rotina estabelecida ou um escopo de trabalho
bem definido é uma boa opção. Para eles, regra dada é regra executada”, afirma
Elisa.
Fonte: Exame
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