Diversidade engolida não transforma a sociedade
Compartilhe
Especialista
em planejamento e treinamento para grandes empresas sobre como as corporações devem tratar funcionários com deficiência, o
preconceito dos colegas de trabalho, cotas, capacitação e oportunismo. "Em
breve falaremos da deficiência ao lembrar da superação de diferenças culturais
e velhos pré-conceitos", afirma João Roncati, diretor da People+Strategy.
A contratação de pessoas com deficiência por empresas é
uma exigência prevista na Lei nº 8.213/1991, também chamada de lei de cotas.
Muitas companhias acreditam na inclusão e a praticam de maneira genuína, mas há
um grande número de corporações, empresários e gestores que entendem essa
obrigação como algo contraproducente e, por isso, optam por pagar multas ao
invés de atender à legislação, ou contratam profissionais com deficiência e os
alocam em subfunções.
“É preciso entender qual o benefício para a empresa, por
que é necessário, na sociedade brasileira, a inclusão regulada por lei e, por
fim, compreender os benefícios das cotas legais”, afirma João Roncati,
diretor e sócio da People+Strategy, consultoria brasileira de planejamento,
treinamento e coaching.
“São três perspectivas que se entrelaçam. Historicamente,
observamos o indivíduo como beneficiário. Assim, recebê-lo é como encaixar na
rotina alguém que demandará atenção extraordinária”, diz o especialista. “Ainda
estamos flertando com a ideia de que a diversidade de formas e pensamentos é
produtiva para a sociedade. Aceitamos essa ideia, ou a engolimos, porque é
socialmente correto e obrigatório, mas não nos transformamos. São séculos de
pré-conceitos profundamente arraigados, onde o diferente, sob muitos aspectos,
deve ser afastado ou mantido longe”, analisa Roncati.
São comuns relatos de líderes sobre profissionais com
deficiência que tentam chantagear a empresa, com ameaças se forem dispensadas,
porque a lei de cotas exige a substituição dessa pessoa por outra, também com
deficiência, em caso de demissão.
Trata-se de uma postura que tem forte impacto negativo na
compreensão dos colegas de trabalho sobre a inclusão genuína e, segundo o
consultor, existe porque a sociedade ainda está madura para tratar com
normalidade o diferente e a minoria.
“Muitos enxergaram as cotas como boas oportunidades,
caminhos para o menor esforço. É preciso lutar contra oportunismos, respostas
fáceis e construção de atalhos”, defende.
Empresas costumam destacar que são obrigadas a assumir a
função do Estado na capacitação de pessoas com deficiência, para que esses
profissionais consigam cumprir suas funções, destacando a falta acesso a
oportunidades para estudar. A falta de formação é sempre apresentada como um
dos grandes obstáculos para a vida profissional de pessoas com deficiência
“Muitas organizações são voltadas ao tema e a
acessibilidade tem sido construída de forma gradativa. Não estamos no ideal. É
preciso sim cobrar da pessoa com deficiência a qualificação, mas é fato que as
empresas investem em qualificação de uma forma geral”, comenta Roncati. “Somos
um País com gigantesco número de analfabetos funcionais. Estamos longe de
termos pessoas qualificadas em número e nível suficiente para os saltos que
necessitamos enquanto economia”.
No que diz respeito ao sucesso de pessoas com deficiência
em todos os setores, ainda persiste o ‘exemplo de superação’, com uma avaliação
estigmatizada e superficial, sem mencionar as oportunidades que essas pessoas
tiveram, nem de que forma de prepararam ou quais as vocações e talentos que
elas têm.
Na avaliação do diretor da People+Strategy, é fundamental
entender o contexto.
“Qualquer exemplo superficial é ruim e dura pouco, com
deficiência ou não. Caminhamos para soluções tecnológicas que nos permitiram
conviver sem restrições. Em breve, em menos de uma geração, não falaremos da
deficiência como historicamente a tratamos, mas sob outra e diferente ótica.
Falaremos, ou lembraremos, da superação de diferenças culturais e velhos
pré-conceitos”, conclui o consultor.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu Comentário é muito importante para nós.