Nove jovens surdos do DF são aprovados no curso de Libras da UnB
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Ao lado de 31 ouvintes, eles se prepararão
para dar aulas ou se tornarem intérpretes
Esta quinta-feira
(3) será um dia especial para nove estudantes surdos do Distrito Federal. Eles
foram aprovados e farão registro acadêmico na Universidade de Brasília (UnB)
para o curso de licenciatura em Língua Brasileira de Sinais (Libras)/português
como segunda língua. Este foi o segundo vestibular da graduação na UnB e teve
também 31 candidatos ouvintes classificados. Os nove calouros foram alunos de
escolas públicas. Segundo Ednaldo Antonio Eminergídio, pai de um dos aprovados,
a rede particular da capital não oferece o apoio necessário a estudantes
surdos.
Nesta mesma época
do ano passado, Iuri Eminergídio, 21 anos, estava desapontado por não ter
conseguido fazer a prova de vestibular da UnB. Ele é surdo e cego e teve o
pedido de uma hora extra para fazer o exame negado. O vestibulando também não
teve à disposição um intérprete de Libras e guia para fazer a prova de redação.
“Ele me ligou desesperado, pedindo desculpas, mas sabíamos que não era culpa
dele. Até tentei fazer com que o Iuri tentasse outro curso, mas não deu. O
sonho dele é estudar na UnB e, depois, ser professor de línguas para surdos”,
lembrou, emocionado, o pai, Ednaldo. O caso chegou à Procuradoria do Ministério
Público da União, que notificou o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos
(Cespe).
Este ano, tudo foi
diferente. A instituição estava preparada para receber os estudantes e
disponibilizou intérpretes a mais para que a prova ocorresse sem sobressaltos.
“Deram as ferramentas e eles mostraram que sabem trabalhar”, disse Ednaldo.
“Estar na UnB é uma grande conquista. Não tenho palavras para descrever essa
felicidade”, comemorou Iuri. O rapaz começou a cursar letras no Instituto
Federal de Brasília (IFB), mas trocará de instituição. “O IFB foi muito
receptivo, mas não tem o suporte que a UnB pode dar. O pai dele e eu é que
estávamos servindo de intérpretes”, disse a mãe de Iuri, Elemregina Morais
Eminergídio.
O melhor amigo do
rapaz, Pedro Pinheiro Teles, 28 anos, também passou no vestibular de Libras.
Ele já cursava na UnB licenciatura em letras — português do Brasil como segunda
língua, mas mudará de graduação a partir do próximo semestre. “No curso em que
está agora, ele tem muita dificuldade para interagir com os colegas, pois não
há nenhum outro aluno surdo ou que fale Libras na sala. Será uma ótima troca”,
explica a mãe de Pedro, Kátia Pinheiro Teles. “A sensação é de missão
cumprida”, festeja Pedro.
Alegria compartilhada
Emocionada, Heloíse Magalhães, também surda,
relembra que quase não conseguiu acreditar quando viu seu nome entre os
aprovados. “É muita felicidade”, sintetiza ela, que também estará na UnB a
partir do próximo semestre. Aos 23 anos, a jovem acabou de terminar o curso de
gestão de recursos humanos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac) e diz estar preparada para encarar os novos desafios.
Bastante feliz pela aprovação, Mateus da
Silva Lopes, 18, explica que a conquista do vestibular se tornou ainda mais
importante por conta das dificuldades enfrentadas pelas pessoas surdas no dia a
dia. “Foi muito difícil, mas conseguimos. E estar na UnB é o mais importante
para nós.”
Ednaldo Antonio, pai de Iuri, explica que as
famílias de jovens surdos acabam se conhecendo ao longo da vida, nas filas para
fonoaudiólogos, na busca por escolas inclusivas ou mesmo em grupos religiosos.
“Essa conquista não é só deles. Ganha a universidade, que se abre para um novo
mundo; as escolas públicas, que poderão contratá-los como profissionais
qualificados; nós, como família; e a comunidade surda, que tem mais um meio de
acessar o mundo”, complementa Elemregina.
Cada um dos estudantes precisa de adaptações
diferentes. Iuri é surdo e cego, por isso necessita de uma carteira especial e
um guia-intérprete, que fale a língua de sinais, bem próximo a ele. Pedro tem
dificuldades de locomoção, além da surdez. Então, além do intérprete de libras,
é importante que a universidade tenha adaptações que tornem o espaço acessível
para cadeira de rodas. Também é necessário que as práticas pedagógicas, como
avaliação, currículo e metodologia, sejam adaptadas.
Fonte: Correio Braziliense
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