Mara Gabrilli renova o sonho de voltar a andar após conseguir mexer braços
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"Foram anos e anos dando choques sem
ter nenhum resultado visível. Mas eu acreditava que lá dentro tava acontecendo
alguma coisa."
Por: Jhone Sousa
Imagem: Zanone Fraissat / Folha Press |
Mara Gabrilli, 48, move sutilmente o braço
e faz a mão empurrar uma alavanca que põe sua cadeira de rodas para andar, na
sala de seu apartamento. Um gesto pequeno para quem vê, mas gigantesco para
ela.
Tetraplégica há 21 anos, por causa de um
acidente de carro, a deputada federal pelo PSDB-SP começou há alguns dias a ir
ao Congresso na cadeira nova, que ela mesma pilota. Até então, dependia de
alguém para empurrá-la. "Me sinto como uma criança que descobre o
mundo."
"Ué, como de repente ela tá se
mexendo?" é uma pergunta que ela tem ouvido. Mas a verdade é que não foi
tão rápido assim. As conquistas aconteceram aos poucos, de cinco anos para cá.
A região dos ombros, por exemplo, antes era imóvel e começou a ficar mais
solta. "Eu já via avanços. Os outros é que não estavam muito
ligados", diz ao repórter Joelmir Tavares.
O tratamento que resgatou parte dos
movimentos envolve dois pilares: aplicação de choques, a chamada
eletroestimulação, e exercícios que ela faz com cordas, tiras de tecido e
suportes para ficar em pé.
Numa manhã ensolarada de segunda-feira,
antes de viajar para Brasília, ela inicia mais uma sessão das atividades. Para
os choques, que contraem os músculos, uma de suas três funcionárias gruda
eletrodos na pele dela e aciona um aparelho.
No caso das pernas, uma assistente a segura
por trás, em pé. "Brinco que elas é que tinham que pagar pra trabalhar
comigo. Eu sou uma academia!" Com a eletricidade, as coxas ficam "uma
tora", enrijecidas. "Rola uma serotonina forte", diz, rindo.
"Foram anos e anos dando choques sem
ter nenhum resultado visível. Mas eu acreditava que lá dentro tava acontecendo
alguma coisa." A primeira vez que teve força suficiente para deslocar a
cadeira foi no fim do ano passado. "A sensação foi de 'conseguiii!'
[risos], uma felicidade muito grande. E me senti desafiada a continuar
praticando." Tem treinado mais o braço direito, que não responde tão bem
quanto o esquerdo.
Parte dos fisiatras e fisioterapeutas,
afirma ela, não prescreve a eletroestimulação. "Dizem que não promove
movimento, que não tem serventia. Só que eu sempre achei que tinha. Que era
melhor contrair uma vez por semana do que nunca."
Mara cria os próprios exercícios com base
no que aprendeu com especialistas desde que parou de se mexer do pescoço para
baixo. Diz conhecer seu corpo melhor que ninguém. Com "físico de
atleta", controla a alimentação e toma 60 suplementos por dia.
A malhação é ao som de música agitada. No
teto da sala e da varanda estão pendurados os suportes: cordas nas quais ela se
amarra para executar posições de ioga e de pilates; um suporte de ferro em
formato de cabide que desliza em um trilho; molas com tiras na ponta onde fica
com as mãos suspensas, balançando pela ação da gravidade.
"Agora eu até tenho esse negócio [para
segurar a mão], mas antes a costureira fazia com pano, tiara de cabelo. É prego
e elástico. Não tem segredo. Basta criatividade." Ela, que exibe nas redes
sociais a rotina de duas horas diárias de exercícios, tenta mostrar as alternativas.
"Dá pra ficar em pé com um aparelho nacional de choque que custa R$
700", exemplifica.
De família abastada, ela viaja aos EUA para
fazer tratamentos, mas também utiliza serviços do SUS e da AACD. "Tenho
consciência de como seria se tivesse nascido numa família pobre. Tudo que não
teria, que não conseguiria."
Mara é do tipo de pessoa que encara a vida
com bom humor, acredita na ciência e não descrê da espiritualidade. "O
primeiro livro que me deram na UTI depois que eu quebrei o pescoço foi 'A Cura
Quântica', de Deepak Chopra. Ele explica como transformar energia em matéria,
fazer pensamento virar condução elétrica, neurônio. Li, fechei o livro e
comecei a trabalhar."
Hoje em dia, ao encher os pulmões para se
exercitar, relembra o medo que sentiu naquela época, quando ficou alguns meses
respirando com a ajuda de aparelhos. "Parecia uma eternidade. E eu não
falava, porque tinha feito traqueostomia. Minha grande conquista foi não
precisar ficar presa na tomada. Me sinto muito poderosa por respirar. É a única
coisa que faço sozinha, além de falar."
Apesar de precisar de ajuda o tempo todo,
ela faz o possível para o corpo não esquecer os gestos. A assistente que leva
comida e água à boca de Mara segura junto a mão dela, simulando o movimento. O
mesmo acontece no banho e ao escovar os dentes. A deputada ainda não é capaz,
por exemplo, de levantar o braço.
Em Brasília, faz pressão por um atendimento
melhor para pessoas com deficiência. Circula pelo plenário de pé, presa pelo
cinto ao encosto da cadeira, que fica na vertical. "O povo fala que eu
empino carroça!", diverte-se.
Quase na hora de sair de casa, ela é
colocada na cadeira e pilota pela sala cheia de imagens de Buda ("Comprei
uma e aí todo mundo começou a me dar de presente").
Mara já estava mexendo os braços quando,
neste ano, seguiu a dica de um amigo e começou a frequentar o centro do médium
João de Deus, em Abadiânia (GO). "Você pode acreditar no que for, mas
aquilo ali é muito forte."
Durante sua cirurgia espiritual, soube que
era o médico Oswaldo Cruz (1872-1917) incorporado no médium. Depois foi
pesquisar e se surpreendeu: o sanitarista nasceu em São Luiz do Paraitinga
(SP), mesma cidade onde ela sofreu o acidente em 1994, numa rodovia batizada
com o nome de Oswaldo Cruz. "Pode ser coincidência, mas..."
Deitada na maca, sob as ordens de João de
Deus, ela conseguiu levar o braço até a barriga. "Ele falava: 'Vai, mexe o
braço. Vai! Olha o tamanho da fila esperando!'. Assim, brigando comigo",
diz ela, aos risos. "Acho importante arriscar. Porque, se eu tivesse o
medo de me frustrar, eu não teria nem começado."
Perseverante, Mara ganhou motivos para
fermentar a esperança de voltar a andar. "Tenho a teimosia de acreditar
nas informações que vêm do meu corpo. Nunca achei que eu tivesse um problema
irreversível. Se aconteceu no braço, por que não pode acontecer na perna?"
E segue: "Uma pessoa que fica tetra
ouve: você vai ter ferida, ficar deprimido, nunca mais vai sentir, nunca mais
isso, nunca mais aquilo. Foram esses os avisos que eu recebi. A única diferença
é que o fofo do cirurgião falou pra mim que eu tinha 1% de chance de voltar a
me mexer. Eu disse: 'Ah, valeu. Então tô no lucro'".
Fontes: Folha UOL
SEI O Q UE VOU FALAR NÃO TEM NADA A VER COM A MATÉRIA! MAIS QUERO DIZER QUE ESSA DEPUTADA É MUITO LINDA ELA É!!!!
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